Seleção: interesses e declínio

Do Outras Palavras: Em setembro de 2011 a seleção brasileira de futebol parou no 7º lugar do ranking da FIFA, a pior colocação desde 1993, quando se iniciou o ranqueamento das seleções1. Acostumado com a alcunha de “país do futebol”, o torcedor brasileiro pode achar que se trata de um momento passageiro, ou um caso de desacertos nos critérios. No entanto não faltam motivos para posição tão baixa.

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Por Irlan Simões, no Outras Palavras Em setembro de 2011 a seleção brasileira de futebol parou no 7º lugar do ranking da FIFA, a pior colocação desde 1993, quando se iniciou o ranqueamento das seleções1. Acostumado com a alcunha de “país do futebol”, o torcedor brasileiro pode achar que se trata de um momento passageiro, ou um caso de desacertos nos critérios. No entanto não faltam motivos para posição tão baixa. O primeiro grande fator é o nível de jogos que têm sido disputados pelo time brasileiro. A FIFA usa, como critério de pontuação, uma nota proporcional à colocação do adversário no ranking. Esse número, multiplicado pelos pontos da vitória ou empate, e o continente ao qual pertence o adversário, dirá quantos pontos cada jogo vale. Em 2006, o Brasil ocupou pela última vez o topo do ranking. De lá para cá, foram disputadas 83 partidas, entre amistosos e competições oficiais. Em apenas 18 delas a seleção enfrentou equipes que teoricamente disputariam as primeiras colocações do ranking mundial. Dessas partidas, o Brasil venceu 8, empatou 5 e perdeu 5. Três vitórias foram em jogos contra a Argentina, que tem surpreendido pela sua incapacidade de vencer o maior rival. Além de uma vitória na Copa das Confederações contra uma desinteressada Itália. Logo após a Copa de 2010 o Brasil teve uma sequência impressionante de maus resultados em jogos difíceis. Derrotas seguidas para Argentina e França e um empate insosso com a Holanda. Mais recentemente, foi subjugado pela Alemanha, e só respirou com a conquista do torneio caça-níqueis do super clássico das Américas, quando venceu a Argentina numa segunda partida. Esta debilidade contra seleções mais fortes tem se manifestado, aliás, também nas duas últimas Copas do Mundo. Em 2006, na Alemanha, o primeiro adversário de alto nível que a seleção enfrentou foi a França – com derrota e eliminação nas quartas de final. Em 2010, para além do “jogo de compadres”, zero-a-zero com Portugal na primeira fase, fomos eliminados pela Holanda, novamente nas quartas. Nos jogos preparatórios, o Brasil optara por jogar contra adversários do porte de Kwait, Lucerna, Omã e Tanzânia. O tropeço na Copa América de 2011 também pode ser colocado na conta. Entrando como favoritos, Brasil e Argentina foram eliminados precocemente, por seleções que há anos vêm mostrando que acordaram novamente para o futebol: Paraguai e Uruguai. “Você realmente merece vestir essa camisa amarela?” Nos últimos anos, muitos apreciadores do futebol imaginaram lançar esta a frase acima a boa parte dos convocados para a seleção brasileira. A quantidade de jogadores de baixa qualidade que vestiram o uniforme do Brasil foi impressionante. Esta estranha tendência despertou, inclusive, suspeitas incômodas ligadas à mercantilização do futebol. No tempo do técnico Dunga, chamaram a atenção as ascensões meteóricas de certas carreiras, em benefício também dos empresários que intermediaram as transações. Elano, agenciado por José Massih, saiu do Shakhtar Donetsk, da longíqua e fria Ucrânia, para o Manchester City da Inglaterra. Mesmo destino teve Jô, atacante agenciado por Giuliano Bertolucci, que pulou do CSKA Moscou da Rússia, para a liga mais rica do mundo. Por fim, Afonso Alves jogava no modesto Hereveen da Holanda, foi para o Middlesbrough da Inglaterra. Tem como empresário Roberto Tibúrcio, sócio de Kia Joorabchian (lembram dele?). Com Mano Menezes, houve casos semelhantes. Jogadores que nunca foram unanimidades entre os torcedores brasileiros – como Elias, Renato Augusto e André Santos vestiram a camisa da seleção. O Brasil é o país com a maior concentração de jogadores por empresários credenciados na FIFA por empresários. São cerca de 16 mil atletas disponíveis por esse tipo especial de agente, enquanto na Espanha, uma das maiores potencias do futebol mundial essa proporção não chega em três para um. Apesar do declínio da seleção no ranking, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, não parece muito incomodado. De seu ponto de vista, os jogos têm uma importância muito maior do que simplesmente botar a bola pra rolar. Os amistosos têm significados diferentes para os países que compõem a gigantesca FIFA. São comuns, no obscuro mundo de poder da entidade, acertos entre dirigentes, enquanto tráfico de influencia e busca de vantagens pessoais. Um amistoso de uma grande seleção, num país pouco importante no mundo do futebol, pode valar um na escolha de sedes da próxima Copa do Mundo – ou, ainda mais importante, na renovação da diretoria da FIFA. No seu livro Jogo Sujo: O Mundo Secreto da FIFA, Andrew Jennings mostrou como é preciso, para que um país ganhe uma eleição na entidade, subornar e agradar uma série de dirigentes. Por motivos de geopolítica, as maiores confederações em número de votos são exatamente aquelas em cujos continentes o futebol praticamente inexiste: América do Norte, América Central e Caribe (reunidos na Concacaf), de Jack Warner, e África (com a CAF, de Issa Hayatou). Os dois dirigentes são “muy amigos” do grupo ao qual pertencem Ricardo Teixeira e Sepp Blatter. Articulando cada um cerca de 40 associados, muitas cadeiras no Comitê Executivo da FIFA lhes são garantidas. No período que antecedeu a escolha da sede da Copa do Mundo de 2014 o Brasil fez amistosos contra Kuwait, Gana, Turquia e Argélia.