Só com radicalização Padilha terá chances em SP

Para romper a longa hegemonia tucana, o PT teria que mostrar à classe média o que pode fazer por ela e, simultaneamente descobrir como contrapô-la não aos de baixo, mas sim aos muito ricos. O que exigiria (pasme!) radicalização programática.

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Por Lincoln Secco, no Viomundo A campanha  eleitoral no Estado de São Paulo esteve adormecida sob o espetáculo midiático da Copa e Alexandre Padilha ainda  está muito abaixo do padrão histórico de voto do seu partido. Mas se as eleições fossem hoje, o governador Alckmin seria reeleito no primeiro turno ou teria um segundo contra Skaf. O PT ficaria fora. Não seria a primeira vez. As eleições no interior paulista têm sido um desafio histórico muito maior do que a capital para o PT. Nas grandes e médias cidades em que tem força eleitoral, o PT enfrentou historicamente a direita popular e não a direita “moderna” representada pelo PSDB. A  direita popular, herdeira do ademarismo, janismo e malufismo, tem forte enraizamento nas periferias e centros conservadores espalhados pelas cidades. Quando logra polarizar com ela, o PT vence se mantém suas bases nas periferias e avança em parte do eleitorado da direita moderna. Quando enfrenta o PSDB, as dificuldades do PT são maiores porque os tucanos têm apelo junto ao eleitorado conservador tradicional e obtêm apoio da direita popular. Nas eleições de 2014 as três forças estarão representadas. Lembremos que em São Paulo, como no Brasil, não haverá candidatura de esquerda radical eleitoralmente visível. E é evidente que para o movimento popular a eleição é um aspecto que não deve interferir em  sua organização e independência, embora seja necessário ter em conta quais governos permitem espaços democráticos para a luta de classes e quais os fecham. Skaf não tem carisma, mas possui características que permitem seu crescimento: o discurso da competência empresarial destina-se à direita conservadora, aos pequenos comerciantes e a todos os que aspiram ao próprio negócio. Além desta pequena burguesia clássica, o discurso contra os impostos alcança a classe média tradicional. Skaf não carrega consigo o peso do antilulismo. Ao contrário: ele é um dos candidatos da presidenta Dilma Rousseff em São Paulo e tem o apoio de Paulo Maluf, para sacramentar sua posição na direita popular. Por fim, ao contrário de candidatos “bolhas” do passado, como Rossi e Russomano, Skaf tem um partido solidamente instalado no interior paulista: o PMDB,  ainda que seja um partido sem a expressão eleitoral que o PT tem na Grande São Paulo. Influência de Lula Na capital, Lula teve o dom de eleger o prefeito Haddad. Mas as circunstâncias eram muito diferentes. Decerto, Lula vai elevar o patamar de apoio ao candidato petista, mas não será suficiente. O candidato Padilha se livrou das acusações de corrupção em contratos do Ministério da Saúde. Elas foram desmentidas sem que a grande imprensa fizesse qualquer autocrítica, é óbvio. Como ministro ele implementou um programa (“Mais Médicos”) que atingiu a opinião pública e isolou o discurso racista de parte dos setores médios. Padilha também possui uma rede de contatos com prefeitos e lideranças locais construída na época em que era Ministro de Lula. E diferentemente de Haddad é um militante petista antigo, proveniente do movimento estudantil de recorte nacional. Mas suas qualidades políticas, somadas ao apoio de Lula precisariam rearticular a base petista. Padilha teria que polarizar com Alckmin antes que Skaf o faça pelo caminho mais fácil: o do discurso da competência, que é sempre de direita. Contra um adversário com força, logística e tradição, só uma tática de “guerrilha eleitoral” pode desagregar molecularmente as bases de apoio do PSDB. Caberia atacá-lo por todos os lados, sempre concentrando as críticas num problema por vez: a questão da água, da habitação, da corrupção no Metrô, dos pedágios, da contaminação da USP Leste, da insegurança e também da violência policial. O governador Alckmin, por exemplo, patrocina um governo de repressão pavorosa aos movimentos sociais. Perguntado recentemente sobre a desmilitarização da polícia, Padilha limitou-se a responder que é da nossa “tradição” possuir duas polícias!  Ao contrário de Lula, ele ainda não aprendeu a dar uma no cravo e outra na ferradura. Depois de criticar os black blocs, Lula disse à revista Carta Capital que era contra a lei que proibia máscaras, pois afetaria o carnaval… Identidade e Ampliação A defesa do Estado de Direito democrático é um ponto forte da identidade petista. Sem ela, não há ponto de partida. Sem ponto de partida, o candidato não sairá do lugar. A escolha petista no Estado de São Paulo, até hoje, tem sido a diluição de sua identidade sem a ampliação à classe média. O resultado: o isolamento. Para romper a longa hegemonia tucana, o PT teria que mostrar à classe média o que pode fazer por ela e, simultaneamente descobrir como contrapô-la não aos de baixo, mas sim aos muito ricos. O que exigiria (pasme!) radicalização programática. Só assim resolve-se a nossa  questão meridional, em que o petismo se reforça no Nordeste, mas perde definitivamente São Paulo e Minas, onde a “sociedade civil é mais complexa”. Trata-se dos Estados mais populosos, industrializados e com uma classe média muito numerosa. Como disse o petista Eduardo Bellandi, só um partido que não queira governar “para todos” (ou seja, também para as grandes fortunas) pode melhorar “a educação, saúde, moradia e transporte de uso popular, aproximando a classe trabalhadora da classe média, para o bem dela ( muito embora ela assim não o reconheça). Isso permitiria a eliminação da dupla tributação ocasionada pelo pagamento de serviços privados”. Continuar apenas com o “discurso social” demonizando a classe média pode servir para confortar a própria esquerda, mas não ganha eleições em São Paulo.