Escrito en
BLOGS
el
[caption id="attachment_29690" align="alignleft" width="378" caption="Arquibancadas do estádio Itaquerão no jogo Corinthians e Figueirense"][/caption]
Editorial do Brasil de Fato
A poucos dias da abertura da Copa do Mundo de Futebol, organizada pela Fifa, segue quente o debate sobre as contradições, vantagens e desvantagens do maior evento esportivo, realizado a cada quatro anos.
A chamada grande imprensa, partidarizada, há meses dá demonstrações de jogar a favor do fracasso do evento, na ânsia de que isso se traduza em resultados eleitorais favoráveis aos partidos políticos alinhados com seus interesses econômicos e corporativos.
Chegou a apostar que as gigantescas mobilizações populares ocorridas em junho do ano passado se repetissem às vésperas da Copa. Não hesitou em condenar a repressão policial contra as mobilizações populares, desde que essas tivessem o carimbo de ser contra a Copa e o governo federal.
Até mesmo as ações violentas contra lojas, revendedoras de carros e bancos foram tratadas, no mínimo, de forma complacente. Aliás, será que há interesses, não desvendados ainda, entre essas mobilizações violentas e o diferenciado tratamento repressivo do Estado e da mídia?
Todas as vezes (poucas vezes!) que o governo federal, em defesa dos interesses do país, ousou enfrentar o poderio da Fifa, encontrou na mídia um forte adversário. A dobradinha revista Veja e Rede Globo – tantas vezes acionada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira – foi atuante em repercutir uma denúncia claramente forjada contra Orlando Silva, então ministro dos Esportes. Repetida incessantemente, a farsa provocou a queda do ministro, um desejo manifestado anteriormente pela Fifa.
As falcatruas da Fifa, seus esquemas de propinas e corrupção - documentados em programas jornalísticos em redes de TV como a BBC de Londres e em livros publicados em inúmeros países - contou sempre com o conivente silêncio dos meios de comunicação empresariais do Brasil.
Não é mais segredo, por exemplo, a troca de favores e acordos espúrios feitos entre a Rede Globo e os “donos” do futebol brasileiro João Havelange e Ricardo Teixeira. Uma relação tão estreita que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. considera Teixeira o quarto filho do “doutor” Roberto Marinho.
Um conluio que, certamente, facilitou à Rede Globo sonegar impostos no valor de bilhão de reais atualizados, referentes à compra dos direitos da Copa de 2002. Frente a afirmativa que já quitou sua dívida com a Receita Federal, não são poucas as vozes que pedem: mostre o Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais), Rede Globo!
Não há limites para a sandice dessa mídia, desde que iniciou sua trilha de partidarizar sua atuação e, claramente, assumir um lado nas disputas eleitorais. O escritor e jornalista Antônio Barbosa Filho, em recente artigo, denunciou que chegaram ao cúmulo de “queimar a marca-Brasil”, como uma estratégia eleitoral. Para Babosa Filho há evidente torcida “para que o Brasil saia derrotado dentro e fora dos gramados. Um caos nas cidades-sede seria de grande proveito para as oposições na campanha eleitoral que se aproxima”.
Colunistas dos jornais patronais, tidos como formadores de opinião, não hesitam em expressar suas expectativas de que um possível fracasso da Copa influencie o resultado das eleições de outubro. Assim, não escondem o quanto torcem para tudo dar errado e, assim, ajudar a emplacar candidatos que representem o arrocho, o neoliberalismo, e o entreguismo ao capital internacional.
Esses colunistas não estão, e nunca estiveram, preocupados com os problemas da Copa e muito menos com os problemas sociais e estruturais que afetam o povo brasileiro. Fingem defender agora recursos para saúde e educação, quando sempre defenderam a privatização desses serviços.
São os mesmos que tiraram R$ 40 bilhões da saúde quando forçaram o fim do CPMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira). Sempre ávidos de poder e dinheiro, defendem o arrocho salarial e a diminuição do Estado nos gastos sociais.
Os grandes meios de comunicação enriquecem com as bilionárias verbas publicitárias dos governos e das empresas estatais – quantias inúmeras vezes superiores aos gastos da Copa. Calam-se frente às escandalosas quantias que o governo transfere anualmente aos bancos.
Por outro lado, exigem cada vez mais gastos com repressão policial e menos com moradia popular, transporte público, saúde e educação pública, gratuita e de qualidade. A burguesia brasileira diante da Copa do Mundo age nada diferente do que já faz a 500 anos: estar contra os interesses do país e do povo brasileiro.
As lutas populares que ocorrerão durante a Copa, em sua maioria, são justas e necessárias. São diferentes segmentos sociais e populares, historicamente injustiçados e desassistidos de políticas públicas, que aproveitarão o período do evento para ganhar força em suas lutas por direitos e reivindicações justas. Esses manifestações acontecem em todos os países que recebem eventos de repercussão internacional.
A atuação dos movimentos populares é exatamente uma demostração do fortalecimento da democracia de um país. É saudável para a democracia que as bandeiras vermelhas e os rostos sem máscaras voltem a ocupar as ruas. A manifestações populares estiveram sempre presentes nas lutas que promoveram as conquistas econômicas, sociais e políticas que beneficiam o povo brasileiro.
Já os que se restringem aos slogan “Não vai ter Copa” são tão fugazes quanto a duração do torneio mundial. Ou alguém imagina que continuarão saindo às ruas para fortalecer as lutas em defesa da saúde e educação pública?