"Veja" e a incrível entrevista que nunca existiu

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Chamada da Veja e seu "Especial: A indústria da demarcação de terras" Acima, a chamada da "Veja" e seu "Especial: A indústria da demarcação de terras" O Escrevinhador, ao contrário de "Veja", falou com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro - vítima de mais essa lambança da revista (editada às margens fetidas do rio Pinheiros). Confira, na reportagem de Juliana Sada - que estreia como colaboradora do Escrevinhador. === Foi por meio de um telefonema de um amigo que o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu Nacional, descobriu que havia dado uma entrevista à revista "Veja". O estudioso que não lê Veja há vinte anos, nem quando vai ao dentista (nesse caso prefere Caras), não teve contato com os repórteres. Aliás, não se recorda de alguma vez ter dado uma declaração à revista "talvez décadas atrás, quando a revista ainda queria ser séria?”. Realmente, faz tempo. Eduardo faz uma retificação: “quando me alertam para algo especialmente repulsivo, acabo lendo. Refiro-me, por exemplo, à tentativa recentíssima de demonizar todos os usuários de Daime por causa do assassinato de Glauco. E por aí afora”. Os repórteres da Veja tentaram, via assessoria do Museu Nacional, entrevistar Eduardo que foi categórico: “Recusei-me a falar com eles (é meu direito), por não confiar na revista, achá-la de péssima qualidade jornalística, e por abrigar um batalhão de colunistas da direita hidrófoba”. Parece que sua decisão foi em vão já “que não os impediu de falarem comigo, pelo visto...” Foi mais um capítulo da empreitada da "Veja" em defesa do latifundiários e contra qualquer ameaça ao seus poderes. Desta vez o alvo foram os quilombolas e as comunidades indígenas, da boca do renomado antropólogo teria saído a afirmação “Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original". Índigenas e Lula: um prato cheio para a "Veja" (a revista que virou panfleto) Eduardo conta que meses atrás ficou sabendo “que a revista preparava algo deste teor, por "encomenda" da senadora Kátia Abreu e da CNA -- talvez fosse apenas um boato, é claro. A postagem no blog do jornalista Marcelo Leite de hoje, porém, confirma e aprofunda essa conexão (http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2010-05-02_2010-05-08.html#2010_05-03_15_50_23-129493890-28)”. O antropólogo desconfia que os repórteres da "Veja" tenham “extraído” sua declaração de uma entrevista dada ao Instituto Socioambiental sob o título “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é” e que pode ser lida aqui. “Por burrice, má fé e arrogância (não necessariamente nesta ordem), eles 'resumiram' exatamente *ao contrário* o que eu digo nesse texto, e ainda fizeram o leitor supor que declarei isso de viva voz para eles, que nunca vi mais gordos”. O episódio reforça a ironia do título da reportagem: oportunista é o jornalismo praticado pela "Veja" e essa farra já foi longe demais. Nesta manhã a revista "Veja" respondeu ao antropólogo, leia os detalhes aqui