Biografia do Jô: "Fui eu que matei a sua mãe", disse o taxista

Em 1977, o artista pegou um táxi, cujo motorista era o mesmo que havia atropelado sua mãe, que morreu em decorrência dos ferimentos, em 1968: "Você está perdoado", falou o apresentador.

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Em 1977, o artista pegou um táxi, cujo motorista era o mesmo que havia atropelado sua mãe, que morreu em decorrência dos ferimentos, em 1968: "Você está perdoado", falou o apresentador. Da Redação* Às vésperaas de completar 80 anos, o apresentador, humorista, escritor, jornalista, ator, diretor e artista plástico Jô Soares resolveu dividir com o público suas recordações em "O livro de Jô - Uma autobiografia desautorizada - Volume 1", escrita em parceria com Matinas Suzuki Jr. e recém-chegado àas livrarias. Ele relembra fatos curiosos de sua infância, passada entre o Copacabana Palace e o Jockey Club. Uma das passagens mais emocionantes do livro se passa em 1977, quando, ao descer de um táxi, Jô ouviu uma frase surpreendente do motorista, que se recusou a receber o pagamento: “Fui eu que matei a sua mãe”. Dona Mercedes havia morrido atropelada em 1968, aos 70 anos. Abismado com a surpresa que o destino preparou, Jô falou: “Você não matou a minha mãe, foi um acidente”. O taxista continuou: “Faz anos que não consigo dormir. Só vou conseguir se o senhor me perdoar. Seu Jô, acho que foi Deus quem arrumou este nosso encontro”. “Você está perdoado”, disse o apresentador. Sempre discreto em relação ao filho Rafael, ele conta no livro todo o drama que viveu. Filho de seu primeiro casamento com a atriz Theresa Austregésilo, em 1959, Rafinha nasceu em 1963. O apresentador revela que viveu 40 segundos de alegria, até ouvir o médico dizer: “Ele nasceu com hipospádia, um problema genético”. Tempos depois, os pais descobriram que ele também era autista. Jô viveu essa dor em silêncio.A mãe largou a carreira de atriz para cuidar do filho, que morreu em 2014, aos 51 anos, depois de uma batalha contra o câncer. Jô, que na infância era chamado de Zezinho, nasceu quando a mãe, Mercedes, já estava com 40 anos. No aniversário de 4 anos, em 1942, ela fez uma festa inovadora: os meninos deveriam se vestir de cozinheiro e as meninas, de camareira. Entre os convidados, estava a futura atriz Joana Fomm. Para ficar parecido com um autêntico chef, dona Mercedes foi até a cozinha do Copa para reproduzir chapéu, calça e até o lenço usado no pescoço. Com a mesma idade, Zezinho acompanhou o pai, Orlando, ao Grande Prêmio Brasil do Jockey Club, e virou atração: o pequeno estava em traje de gala, com direito até a cartola. Jô garante que, mesmo temporão, não se sentia superprotegido. “Meus pais me criaram com rara liberdade e independência”. Num Natal, Jô pediu a Papai Noel uma estrela de xerife, igual às que via nos filmes de caubói. Depois de rodar as lojas do Rio, a mãe soube de uma promoção de sabonete, que oferecia o item com brinde. Comprou várias quantidades do produto, mas nada do prêmio. Até que foi bater na fábrica, para explicar o que estava acontecendo. Só arredou pé quando o fabricante, já cansado, cedeu uma peça. O pequeno quase desmaiou de emoção quando viu a estrela em cima da árvore. Gordinho, ele sofria para subir a ladeira íngreme que dava acesso ao Colégio de São Bento, onde estudou. Num piquenique na praia, ele passou o dia inteiro debaixo do sol, sem camisa. Muito branco, virou um pimentão vermelho, com queimaduras de segundo grau por todo o corpo. A família só sossegou quando ele conseguiu fazer xixi, sinal de que o rim não havia sido lesionado. “Parecia cerveja preta, mas todo mundo achou bom”. Durante alguns dias, ficou dormindo sentado, na beira da cama, pois não conseguia encostar a pele no lençol. Aos 12 anos, ele acompanhou a Copa de 50 e relata a emoção de ver o Brasil golear a Espanha, com o espetacular placar de 6 x 1. Jô conta que, em determinado momento, as pessoas que estavam no Maracanã começaram a cantar a marchinha “Touradas em Madri”, numa explosão de felicidade. Jô também esteve na final, quando o Brasil perdeu o título para o Uruguai. “O trauma da derrota apagou da minha mente boa parte daquele jogo”. Aos 13, em Paris, ele encontrou seu ídolo Orson Welles (diretor de “Cidadão Kane”) e, ao pedir autógrafo, ganhou de presente o passaporte do cineasta, que estava no maior porre. O menino ficou radiante, mas o pai o fez devolver o documento imediatamente. Na adolescência, quando estudou num colégio interno da Suíça, Jô conheceu sua primera namorada: a alemã Angela Munemann. Pouco mais velha que ele, era cobiçada por todos os seus colegas. Nessa época, ele era remador. E foi vendo suas habilidades no esporte que a moça trocou o nobre russo Rudolf pelo brasileiro. Essas e outras passagens, Jô conta no primeiro volume de sua biografia. *Com informações do Extra Foto: Reprodução