Chile, la alegría ya viene!

O slogan otimista utilizado pelos chilenos, há mais de 30 anos no histórico referendo que encerrou a ditadura de Pinochet, trouxe um sopro de alegria e esperança para todos os defensores da democracia. A tal alegria, porém, não chegou

Ato pede a renúncia de Piñera no Chile (Reprodução)
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Por Carlos Eduardo Azevedo Pimenta* O slogan otimista utilizado pelos chilenos, há mais de 30 anos no histórico referendo que encerrou a ditadura de Pinochet, trouxe um sopro de alegria e esperança para todos os defensores da democracia. A tal alegria, porém, não chegou, e o que conseguimos observar, com a recente onda de manifestações na América do Sul, é que, não só no Chile, mas também no Equador, no Peru e na Colômbia, o fascismo estava apenas mascarado, escondido, e agora decidiu utilizar seu aparato repressor, e vir à tona defender seus privilégios. Antes de ingressar na discussão das repressões aos manifestantes, é importante contextualizar a gênese das atuais angústias e insatisfações do povo chileno. O Chile de hoje é fruto de um modelo privatista, moldado, ainda no período Pinochet, pelos conhecidos Chicago Boys. Um grande processo de privatizações aliado a uma implementação agressiva de uma pauta neoliberal e escorada na ditadura, permitiu transformar o Chile em um verdadeiro laboratório para a ideologia neoliberal. E, mesmo após a redemocratização, as práticas não sofreram qualquer alteração significante nos seis governos democráticos que se seguiram. A falsa percepção do sucesso econômico chileno criou uma espécie de culto, formado pelos defensores da política neoliberal na América Latina. Uma defesa que hoje é fervorosamente realizada pelo governo de Jair Bolsonaro. A despeito da evolução dos indicativos econômicos, crescimento no PIB de 4,8% no primeiro semestre de 2018 e 3,1% projetado para 2020[1], temos o contraste dos dados referentes ao Coeficiente Gini, saltando de 0,46 em 1973 para 0,57 em 1990, e atualmente está na faixa de 0,48 e deverá apresentar uma piora no próximo relatório, o que demonstra que a política neoliberal adotada não tem interesse, nem objetivo de diminuir o abismo da desigualdade social. Esse breve histórico serve apenas para contextualizar que o atual momento e o os embates observados hoje são frutos da disputa desigualdade versus manutenção de privilégios. E onde entra o fascismo nisso? Desde a queda de Pinochet e a abertura de todos os escândalos e violências cometidas pelo regime durante os seus dezessete anos, o Chile possui um acordo entre a direita e uma suposta esquerda para recriminar as condutas e o papel do Estado nesse período. Ocorre que o fascismo continuou lá, disfarçado, mas sempre atuante em defesa de seus privilégios, e contou, em maior ou menor grau nos governos seguintes, com a promiscuidade e omissão destes para a perpetuação dos seus interesses. Porém, a atual conjuntura, não só da América Latina, convida o fascismo a se manifestar. Prova disso é a resposta dura e desproporcional adotada pelo governo chileno que, em menos de uma semana, resultou em um saldo de 18 mortos, 2.151 presos e mais de mil hospitalizados, isso nos dados divulgados. Além de condutas execráveis dos agentes de segurança, no intuito de manipular a opinião pública contra os manifestantes. Mais uma prova foi a infeliz declaração feita pela primeira-dama, comparando os protestos com uma “invasão alienígena” e lamentando a necessidade de diminuir seus próprios privilégios. Mesmo com o recuo do governo, com a promessa de adoção de medidas para melhoras no sistema de pensões, os preços de medicamentos e a melhoria dos cuidados de saúde, os protestos não dão indicativos de arrefecimento e a pressão deverá aumentar sobre o governo de Piñera. Os impactos das manifestações populares chilenas já atiçaram os fascistas do lado de cá, como o presidente Bolsonaro, que não perde uma oportunidade de exaltar torturadores e seus pares, alimentando sua sanha ditatorial e repressora, utilizando essa conjuntura como verdadeira placa de petri, ideal para a reprodução e o incentivo a essas manifestações. Em suma, o fascismo, mais uma vez, está à vontade, atuando sem qualquer constrangimento e utilizando todo o aparato estatal para defender a manutenção de seus privilégios. Nunca o reconhecimento de classe e a sua defesa foi tão importante e necessária.   [1] O Brasil por exemplo, registrou um avanço de 1,3% no primeiro semestre de 2018 e 1,8% projetado para 2020   *Carlos Eduardo Azevedo Pimenta é carioca, comunista e petista, advogado militante, formado pela Faculdade Nacional de Direito, sócio do escritório Normando Rodrigues e Advogados, integrante do Instituto Direito à Esquerda – IDE e do coletivo LEME, assessor jurídico do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense – SINDIPETRO/NF e da Federação Única dos Petroleiros – FUP