Quem são os 14 milhões de desempregados no Brasil?

Pnad número de desocupados no Brasil, 2020
Escrito en OPINIÃO el

Em maio de 2020, quando saíram os dados da pesquisa PNAD referente ao primeiro trimestre do ano, havia 5 milhões de pessoas que desistiram de procurar trabalho, porque por mais que procurassem não encontravam nada e o cenário de pandemia agravou o quadro. Esses trabalhadores são chamados nas pesquisas sobre o mundo do trabalho de desalentados.

Em maio a taxa de desempregados estava na casa de 12,2%. Num único mês mais de 800 mil pessoas haviam perdido o emprego. Três meses depois mais de um milhão de trabalhadores foram para o olho da rua e a pesquisa PNAD bate mais um recorde em sua série histórica desde quando começou a ser feita continuamente em 2012. No segundo trimeste (abril, maio e junho) a taxa de desocupados saltou para 13,8%.
Esses números frios escondem varias outras desigualdades, que são o reflexo de nossa sociedade profundamente desigual.

Mulheres mais desempregadas e com menor rendimento
Ao examinar mais detalhadamente os dados do segundo trimeste da pesquisa PNDAD, sabemos que dos 13,8% de desempregados, o índice entre as mulheres é maior que a média nacional.

Entre as mulheres o índice sobe para 14,9%

Ou seja, as mulheres que já executam 75% do trabalho não remunerado (trabalho doméstico e o trabalho do cuidado de crianças, idosos e doentes) são as mais prejudicadas durante a depressão econômica que estamos mergulhados.
Se olharmos mais profundamente para esses 14,9% de desempregadas veremos que a maior parte delas são de mulheres negras.

Apesar de ser a maioria da população e da força de trabalho não remunerado, as mulheres têm menos chances a empregos formais e são as que recebem menos também no mercado de trabalho. No primeiro trimeste de 2020, a média da taxa de rendimento entre os homens empregados era de 2534,00. Para o mesmo período as mulheres, que ainda mantinham seus empregos, recebiam em média 1.995,00. Se compararmos com 2018 houve queda de rendimento para ambos os sexos, mas muito mais para as mulheres. Em 2018, o valor médio da hora trabalhada era de R$ 13,0 para a mulheres e de R$14,2 para os homens. Quando analisada a razão do rendimento de mulheres e homens pelo valor do rendimento médio total, a proporção do salário da mulher diminuía ainda mais a mulher ganhava 20,5% menos que os homens: valores de R$ 2.579 (homem) e R$ 2.050 (mulher).

Quadro agravado para as juventudes
Se fizermos um recorte geracional veremos que a maior parte dos desempragados é de jovens. Esses geralmente exercem os trabalhos mais precarizados e os estudos mostram que ao entrar de modo precarizado no trabalho pela primeira vez, raramente a trajetória deste trabalhador será a de alcançar um trabalho decente.

Desconsideremos os dados de jovens de 14 a 17 anos, pois estão em período escolar. Foquemos na faixa etária de 18 a 24 anos que, no Brasil, especialmente para os filhos da classe trabalhadora, é a idade em que o jovem é obrigado a conciliar trabalho e estudos. Nessa faixa etária a taxa de desocupados atinge 29,7% contra a média nacional que está em 13,8%

A pandemia afetou ainda mais a vida dos mais precarizados no mercado de trabalho

Estudos recentes do DIEESE mostram que: 13% dos trabalhadores ocupados no 1º trimestre de 2020 estavam sem ocupação no segundo trimestre; 23% dos trabalhadores que recebiam até 1 salário mínimo, no 1º trimestre, ficaram sem trabalho após o início da pandemia; 31% dos trabalhadores domésticos também perderam a ocupação.

A reforma trabalhista suprimiu mais de 100 direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo de 75 anos. Ela foi vendida pelos liberais golpistas (a serviço dos patrões e das grandes corporações) como o único meio de gerar emprego. Bolsonaro dizia, inclusve, que os trabalhadores teriam de escolher entre manter direitos ou ter trabalho. O que vemos hoje no mercado de trabalho do Brasil é o espelho da desigualdade da sociedade brasileira. Não temos direito ou trabalho.

A pandemia no Brasil tem recorte de classe e raça, ela dizimou mais a população negra e pobre. Nesta crise sanitária sem precedentes, a situação ficou ainda mais grave para negros, mulheres, jovens e trabalhadores com baixa escolaridade. Sem políticas para geração de emprego decente, para qualificação profissional, para combate ao racismo e à desigualdade de gênero no mercado de trabalho este extrato social é empurrado ainda mais para a base da pirâmide, aprofundando o fosso social.

O Sistema das relações de trabalho no Brasil virou uma terra quase sem lei e mesmo com todo ataque à Justiça do Trabalho, ao Ministério Público do Trabalho (sucateamento da fiscalização, por exemplo) as ações trabalhistas batem recorde em tempos de pandemia. Os trabalhadores não vão assistir calados à barbárie do capital. A reação virá.