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EUA: 12 Estados querem aprovar lei “Don’t Say Gay” contra “ideologia de gênero” nas escolas

Estratégia similar à de Bolsonaro com o "kit gay" avança nos EUA com ajuda da FoxNews, que incentiva a perseguição a professores

Estudantes da Flórida protestam contra a lei. Foto: Equality Florida/twitter
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O Brasil imita os EUA? Ao que parece, os gringos é que passaram a nos imitar: a narrativa da extrema direita contra "ideologia de gênero" nas escolas está crescendo de forma avassaladora num país que se orgulha de ter a liberdade de expressão como Primeira Emenda da Constituição. Depois que a Flórida aprovou uma lei apelidada pelos opositores de "Don't Say Gay" ("Não Diga Gay"), que proíbe a discussão sobre orientação sexual nas escolas públicas e outras medidas LGBTfóbicas, mais 11 Estados lançaram propostas semelhantes.

No final de março, Ron DeSantis, governador republicano da Flórida e possível candidato à presidência em 2024, sancionou a lei "Direitos Parentais em Educação", que proíbe professores das escolas públicas do Estado de dar instruções sobre orientação sexual ou identidade de gênero a estudantes da pré-escola até o 3º ano. "Queremos assegurar que os pais possam mandar seus filhos para a escola para obter educação, não doutrinação", disse De Santis. Detalhe: educação sexual nem sequer faz parte do currículo escolar para essa faixa, de crianças até 10 anos.

Principal âncora da FoxNews, Tucker Carlson incentiva pais a agredir professores que falem sobre orientação sexual com alunos. "Onde estão os pais? Alguns professores estão impondo valores sexuais a seus estudantes. Por que não vão lá e batem neles?"

Articulador da lei no Alabama, o senador republicano Shay Shelnutt foi questionado por um colega democrata sobre qual seria a resposta ideal a um garoto que perguntasse à professora ou professor se ele é menino ou menina: "Você é um menino, Joãozinho", disse Shelnutt, sem se importar com os danos que isso poderia causar à criança. A lei que ele pretende aprovar transforma em crime, punível com até 10 anos de prisão, médicos que prescreverem bloqueadores de puberdade e hormônios a jovens transgêneros.

A emissora trumpista FoxNews rapidamente aderiu à campanha, incentivando a perseguição aos professores, tal como aconteceu durante a Guerra Fria. O dramaturgo David Mamet, que não é expert no tema e sim um recém-convertido ao conservadorismo, foi convocado a opinar no canal simplesmente porque apoia a lei, e partiu para cima dos docentes, afirmando, sem nenhuma evidência que sustentasse isso, que professores são "inclinados à pedofilia". “Esse sempre foi o problema da educação – os professores são inclinados (geralmente os homens, porque os homens são predadores) à pedofilia”, disse, para revolta geral.

A entrevista com Mamet ocorreu dias após o principal âncora do canal, Tucker Carlson, incentivar os pais norte-americanos a agredirem os professores que abordarem o tema da homossexualidade ou transexualidade. "Eu não entendo onde os homens estão. Onde estão os pais? Sabe, alguns professores estão impondo valores sexuais a seus estudantes de terceiro ano. Por que vocês não vão lá e batem neles? Um funcionário público impondo os valores de outra pessoa sobre sexo a seu filho, cadê a reação?", disse Tucker.

Em setembro do ano passado, o guru da extrema direita mundial, Steve Bannon, já havia falado que o novo "campo de batalha" seriam as escolas públicas. Uma estratégia em tudo similar ao que o bolsonarismo tem feito aqui desde o famigerado "kit gay" que nunca existiu. Parlamentares conservadores como Lauren Boebart já defendem que gays deveriam ser legalmente proibidos de "sair do armário" até que completem 21 anos; a ex-deputada Tulsi Gabbard propõe estender a proibição da "identidade de gênero" nas escolas até o ensino médio e chama os gays de "anormais".

Quem reclama da lei é chamado de "provavelmente um abusador", "pedófilo" ou "apoiador de pedofilia". Por outro lado, todas as iniciativas usam uma estratégia idêntica, de não utilizar as palavras "gay" ou "trans" em nenhum momento do texto, substituindo-as por palavras neutras como "orientação sexual" ou "identidade de gênero". A intenção por trás disso? Não serem acusados de LGBTfobia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reagiu no twitter, chamando a lei de "odiosa" assim que o Senado da Flórida a aprovou. "Quero que todos os membros da comunidade LGBTQI+, especialmente as crianças que serão impactadas por esta lei odiosa, saibam que vocês são amados e aceitos como vocês são. Eu apoio vocês e minha administração continuará a lutar pela proteção e segurança que vocês merecem."

Outra reação à lei partiu do prefeito de Nova York, Eric Adams, que espalhou outdoors na Flórida em apoio à comunidade LGBTQIA+ e promovendo a cidade que administra. “Esta é a cidade de Stonewall”, disse Adams, referindo-se ao histórico protesto pró-direitos civis dos homossexuais em 1969. "Vamos mostrar nosso apoio em voz alta e dizer para aqueles que moram na Flórida, queremos você aqui em Nova York." Os cartazes trazem dizeres como “Venha para a cidade onde você pode dizer o que quiser” e “As pessoas dizem muitas coisas ridículas em Nova York. ‘Don’t Say Gay’ não é uma delas”.

Com informações da NPR e do NCRM