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Jovens rejeitam Bolsonaro porque sabem que ele representa o passado e Lula, o futuro

Lula é velho por fora, mas jovem por dentro. Bolsonaro, ao contrário, é velho por fora e carcomido por dentro

Lula com jovens de Heliópolis em abril. Foto: Ricardo Stuckert
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CYNARA MENEZES

A pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira, 27 de julho, entre jovens das capitais do país, mostra que Jair Bolsonaro é rejeitado por nada menos que 67% deles. Ou seja, quase 70% dos jovens que vivem nas capitais brasileiras não votariam em Bozo de jeito nenhum. Apenas 20% declararam que vão votar nele nesta eleição, contra 51% que preferem Lula. Entre as jovens mulheres, o desempenho do atual presidente é ainda pior: só 16% das jovens entre 16 e 29 anos querem que Bolsonaro e sua turma continuem no Planalto; 58% delas vão de Lula.

Não é preciso ser expert em pesquisas para perceber as razões para tamanha rejeição: Bolsonaro representa o passado, algo que em nenhuma época da humanidade interessou à juventude. É natural que jovens olhem para a frente, para o futuro. Natural que rejeitem um governante que faz o país ir cada vez mais para trás rumo à ditadura, à tortura ou à época em que não podiam ser livres nem em sua orientação sexual. Sob qualquer ponto de vista, Bozo é um careta opressor. Qual jovem gosta de gente careta que os oprime? Eu nunca vi.

É natural que os jovens rejeitem um governante que faz o país ir cada vez mais para trás rumo à ditadura, à tortura ou à época em que não podiam ser livres nem em sua orientação sexual. Bozo é um careta opressor. Qual jovem gosta de gente careta que os oprime? Nunca vi

Os jovens também querem um presidente que lhes garanta um futuro melhor e, embora muitos deles fossem crianças no governo Lula, os números estão aí para demonstrar que com o PT eles tiveram mais acesso à universidade (a matrícula no ensino superior aumentou 125%), independentemente de raça ou classe social (o número de negros nas universidades dobrou); e havia mais empregos (19,2 milhões de novas vagas). Uma das primeiras iniciativas de Lula na presidência, ainda em 2003, foi justamente criar o Programa Primeiro Emprego, para jovens de 16 a 24 anos, dando subvenção às empresas que os contratassem.

Enquanto isso, Bolsonaro, apenas uma semana atrás, respondeu, sobre os jovens que o culpam pelo desemprego: "Você tem que correr atrás. Eu não crio emprego. Quem cria emprego é a iniciativa privada". Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de desocupação entre a população de 18 a 24 anos no primeiro trimestre de 2022 fechou em 22,8%, mais que o dobro do número geral, de 9,8% (10,6 milhões de pessoas). E o presidente não está nem aí, como ele mesmo falou. O número de matrículas no ensino superior também vem caindo desde que ele assumiu.

Já Lula se mostra preocupado com o futuro dos jovens. “Hoje, essa molecada que está aí estudou mais do que todos nós estudamos. Molecada formada, estudou quatro vezes mais do que nós. Mesmo tendo estudado mais, qual o futuro dessa molecada? Que futuro espera essa meninada? O que o mercado de trabalho tem a oferecer a essa juventude que estudou, que sonha, e percebe que não consegue ter a estabilidade que o pai teve?”, disse, em discurso feito em janeiro.

10 anos mais novo que Lula, Bolsonaro tem ideias velhas, arcaicas. Sobre a família, só admite casais heterossexuais. "Queremos que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família". Qual o jovem que concorda com isso?

Os jovens também estão cada vez mais interessados com o futuro da Amazônia, com o futuro do planeta, do meio ambiente, como mostrou um estudo apoiado pela Fapesp. Temas como a biodiversidade, a conservação da Amazônia e as ciências são de interesse crescente entre os estudantes brasileiros que estão ingressando no ensino médio. Que jovem antenado com estes assuntos daria mais quatro anos para Bozo destruir os órgãos de fiscalização, permitir garimpo em terras indígenas e fazer pouco caso das queimadas, do desmatamento e do assassinato de ativistas ambientais, como aconteceu com o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira?

Lula vai no caminho oposto. Promete desfazer todos os erros do governo Bolsonaro, fortalecer as instituições desmontadas, como o Ibama, a Funai e o ICMBio, e recolocar o país na agenda mundial de conservação ambiental. "Tudo o que eles desfizeram nós vamos ter que refazer. E vamos ter que cuidar efetivamente com respeito com as nações indígenas espalhadas por esse país. Nós que devemos para eles, e não eles que devem para nós. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena nesse país", disse, em encontro com ambientalistas em junho. "O Estado precisa assumir responsabilidade. Então, o ministério vai ter que ter mais gente, a fiscalização vai ser mais atuante e a gente vai ter que ter leis mais duras”.

“Não é você olhar para uma floresta e dizer 'vamos derrubá-la para crescer'. É como crescer com ela em pé. Ou como tirar proveito da riqueza que ela oferece. Como a humanidade pode tirar proveito da biodiversidade”, concluiu Lula. Impossível não comparar esta fala com à do ex-ministro Ricardo Salles, que defendeu aproveitar a pandemia para "passar a boiada" por cima da legislação ambiental e que acabou saindo do governo envolvido em denúncias de exportação ilegal de madeira.

Para o jovem brasileiro, votar em Bolsonaro é como votar no vovô militar nostálgico da ditadura que faz muxoxo para as novidades, que fecha a cara para os avanços do século 21, que enxerga o mundo pelo retrovisor e não acredita nem em ciência

10 anos mais novo que Lula, Bolsonaro tem ideias velhas, arcaicas. Sobre a família, por exemplo, só admite a existência de casais heterossexuais. "O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula", disse, no começo do mês. Qual o jovem que concorda com isso? Segundo pesquisa Datafolha, 79% dos brasileiros discordam das visões homofóbicas do presidente e acham que a homossexualidade deve ser aceita pela sociedade.

Para o jovem brasileiro, votar em Bolsonaro é como votar no vovô militar nostálgico da ditadura que faz muxoxo para as novidades, que fecha a cara para os avanços do século 21, que enxerga o mundo pelo retrovisor e não acredita nem em ciência. Homossexualidade? "Doença". Mulher independente? "Feminazi". Universidade pública e gratuita? "Para poucos". Vacina? "Cloroquina".

Já Lula é o vovô moderninho, descolado, que encara os novos tempos com naturalidade. Homossexualidade? "Ninguém deve ser desrespeitado ou sofrer violência por aquilo que é, e todos têm o direito à felicidade". Independência da mulher? "Não aceitamos mais a mulher ser tratada como objeto de cama e mesa. A mulher é maioria nesse país. A mulher tem que ser respeitada na política e fora da política". Universidade púbica e gratuita? "Para todos". Vacina? "Sim, lógico".

O jovem também quer paz, quer poder sair às ruas, ir para a escola, para a faculdade ou para a balada com os amigos e voltar vivo –sobretudo o jovem negro da periferia, que não quer ser morto pelos bandidos e muito menos pela polícia. E Bolsonaro só fala em armas, armas e mais armas. E volta e meia defende a brutalidade policial: "CPF cancelado!"

Lula, em resumo, é velho por fora, mas jovem por dentro. Bolsonaro, ao contrário, é velho por fora e carcomido por dentro. Os jovens, antenados que são, perceberam rápido.