Apoiada por Sérgio Moro, Gazeta do Povo inicia ofensiva contra Sleeping Giants Brasil

Após mais de 15 empresas prometerem cortar anúncios, jornal tenta criminalizar ativistas que pressionam pela demissão de Constantino

Imagem: divulgação
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Depois que mais de 15 empresas, entre elas Arezzo, Boticário, Alegra Foods e Outback prometeram que não vão mais anunciar no jornal, a reacionária Gazeta do Povo, de Curitiba, iniciou uma forte ofensiva contra o movimento Sleeping Giants Brasil nas redes sociais. O Sleeping Giants promove pressão no twitter sobre empresas para que não se associem a influencers ou veículos envolvidos em fake news ou que propaguem homofobia, machismo e racismo. Um dos principais alvos do grupo no país é o guru do bolsonarismo, o "filósofo" Olavo de Carvalho, que já perdeu mais de 250 financiadores desde que o Sleeping Giants começou a atuar no Brasil.

Da noite de quarta, 11, para quinta-feira, 12 de novembro, o centenário jornal curitibano, assumidamente conservador e hoje dominado por uma família ligada à Opus Dei, disparou mais de 40 tweets contra o Sleeping Giants Brasil, a quem chama de "milicianos digitais". O jornal obteve o apoio, na rede social, do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sérgio Moro.

https://twitter.com/SF_Moro/status/1327000348641402883

A Gazeta do Povo tornou-se alvo do grupo ao decidir manter, entre seus colunistas, o extremista de direita Rodrigo Constantino, que declarou em vídeo: "Se minha filha chegar em casa –e eu dou uma boa educação para que isso não aconteça, mas a gente nunca controla tudo–, se ela chegar em casa um dia dizendo 'pai, fui numa festinha e fui estuprada', vou pedir as circunstâncias. 'Fui para uma festinha, eu e três amigas, tinha 18 homens, nós bebemos muito e eu estava ficando com dois caras e acabei dormindo lá e fui abusada', ela vai ficar de castigo feio. Eu não vou denunciar um cara desses para a polícia, eu vou dar um esporro na minha filha".

A declaração, vista como apologia ao estupro, caiu muito mal para Constantino e ele foi demitido da Jovem Pan e outros veículos nos quais colaborava, mas não da Gazeta.

https://twitter.com/jairmearrependi/status/1324027752081690628

Além disso, Constantino, contumaz propagador de fake news, já publicou notícias falsas na própria coluna que mantém na Gazeta do Povo. Ou seja, ao mantê-lo no jornal, o veículo virou alvo em dobro dos ativistas digitais: tanto pelo machismo quanto pelas fake news. Nem mesmo o apelo de uma carta assinada por 120 funcionários da redação apelando pelo desligamento do colunista foi suficiente para demover a direção, que disse ter aceitado as explicações de Constantino.

No twitter, o Sleeping Giants está marcando empresas para que deixem de anunciar na Gazeta como forma de pressão pela demissão de Constantino, contra quem usam a tag #DemiteConstantinoGazeta desde a divulgação do vídeo, na semana passada. Eles então divulgam a resposta das empresas que cederam à pressão, como a Heinz e a Credicard, que prometeram não anunciar mais na Gazeta do Povo.

https://twitter.com/slpng_giants_pt/status/1325188779544616960
https://twitter.com/slpng_giants_pt/status/1326645882536693760

No editorial, a Gazeta defende que o que os ativistas estão fazendo é "linchamento virtual" e tenta criminalizar o grupo, afirmando que sua atuação seria "inconstitucional" porque o artigo 5º da Carta garante a “livre manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. "O anonimato no qual se esconde o Sleeping Giants é uma característica particular dos linchamentos virtuais de hoje; é a arma conveniente dos covardes para estimular os justiçamentos online e chantagear empresas", diz o texto.

O anonimato dos perfis é uma das características do movimento nos EUA, França, Alemanha, Suécia e em pelo menos outros 10 países. Logo que surgiu no Brasil, o grupo incomodou os bolsonaristas, que, segundo o site The Intercept Brasil, acionaram a Polícia Federal para descobrir quem seriam os donos do perfil. O Intercept descobriu ainda que o delegado que investigou o grupo é cunhado de um blogueiro chapa-branca do presidente. A disputa com um dos pilares midiáticos do bolsonarismo deve reacender a sanha da extrema direita judicial para cima do perfil –ainda mais agora, com o apoio de Moro.

Ao mesmo tempo que se queixa de ter sua liberdade expressão atacada, a Gazeta, que não existe mais diariamente em papel desde 2017, quando sua circulação, em queda livre havia duas décadas, tinha minguados 33 mil exemplares, e que cancelou em agosto a edição semanal, está aproveitando para promover uma campanha por novos assinantes digitais.

https://twitter.com/gazetadopovo/status/1327028663133540354

O perfil Sleeping Giants Brasil está defendendo sua atuação no twitter dizendo que não há ataque à liberdade de expressão. "A Gazeta do Povo tem o direito de manter o colunista que culpabiliza a vítima de estupro, assim como seus anunciantes, empresas privadas, também têm o direito de repudiar a decisão do jornal e por isso o Sleeping Giants Brasil resolveu ouvi-las sobre o caso. Isso é censura?", pergunta o grupo.

https://twitter.com/slpng_giants_pt/status/1326905191392825344