Enquanto Bolsonaro destrói o país, MP continua a perseguir José Dirceu, fora do governo há 16 anos

Em janeiro, a Human Rights Watch acusou o presidente de sabotar o combate à Covid-19. E onde está o MPF? Atrás de Zé Dirceu

O ex-ministro José Dirceu em 2014. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Em meio à decadência moral da Lava-Jato –a "maior operação anticorrupção do mundo" que virou o maior escândalo judicial da história–, e enquanto Jair Bolsonaro destrói o país e causa a morte de milhares de pessoas por conta da má gestão da pandemia e do seu negacionismo, o que faz o Ministério Público Federal? Continua a perseguir o ex-ministro José Dirceu, fora do poder há quase 16 anos.

José Dirceu deixou o governo Lula no longínquo ano de 2005, no dia 16 de junho, durante o escândalo do "mensalão", e  foi cassado do mandato de deputado federal em dezembro daquele ano. Detalhe: o petista, de 75 anos, foi condenado a 40 anos de prisão, já passou 3 anos e meio preso em regime fechado, 4 meses e meio no semiaberto, dormindo na prisão, 10 meses no aberto e 1 ano usando tornozeleira eletrônica.

Enquanto o lavajatismo continua a perseguir Dirceu, uma pesquisa revelada em janeiro sustenta que Bolsonaro não só foi inepto em relação ao vírus como pode ter agido de forma sistemática para propagá-lo. E o MPF? Nada

Nesta quarta-feira, o MPF anunciou que Dirceu, o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, e mais 13 pessoas foram denunciadas por crimes que variam de formação de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraude à licitação, crimes praticados em licitações e contratos na área de “serviços compartilhados”, de responsabilidade da Diretoria de Serviços da Petrobras. O texto com o anúncio é uma espécie de "não deixar a peteca cair" da Lava-Jato: em vez de assumir que a operação simplesmente acabou, o MP diz que ela foi "incorporada ao Gaeco (Grupo de Ação Especial de Combate ao Crime Organizado).

O ex-ministro publicou um texto, Os estertores da chamada Lava-Jato, protestando contra a nova denúncia. "Saltam à vista a pressa e o momento –e de novo o caráter político e de propaganda– do pedido extemporâneo dos procuradores", escreveu Dirceu. "Já é hora de dar um basta naqueles que, acima da Lei e da Constituição, usaram e abusaram da luta contra a corrupção com fins e objetivos políticos e pessoais –por vaidade, busca do poder, exibicionismo e ascensão social, como hoje está escancarado nas trocas de mensagens entre os procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro."

O ex-ministro nega as acusações e diz que o processo contra ele é "kafkiano", já que a própria Petrobrás realizou uma comissão interna de investigação e concluiu que não houve ilicitude e fraude. "É inadmissível que agora, depois de todos os bastidores da operação virem à tona evidenciando os excessos praticados pelas autoridades durante toda a investigação, os procuradores insistam em pedir a minha condenação com base em denúncia que teve a evidente intenção de me manter preso e foi, sem sombra de dúvida, um dos atos mais desnecessários e vexatórios praticados na história da Lava- Jato."

"Saltam à vista a pressa e o momento –e o caráter político e de propaganda– do pedido dos procuradores. É inadmissível que insistam em pedir minha condenação com base em denúncia que foi, sem sombra de dúvida, um dos atos mais desnecessários e vexatórios da Lava- Jato"

Enquanto o lavajatismo continua a perseguir Dirceu, uma pesquisa revelada pela jornalista Eliane Brum no jornal El Pais sustenta que Bolsonaro não só foi inepto em relação ao vírus como pode ter agido de forma sistemática para propagá-lo. “Nossa pesquisa revelou a existência de uma estratégia institucional de propagação do vírus, promovida pelo Governo brasileiro sob a liderança da Presidência da República”, diz o estudo, intitulado Direitos na Pandemia – Mapeamento e Análise das Normas Jurídicas de Resposta à Covid-19 no Brasil. 

“Os resultados afastam a persistente interpretação de que haveria incompetência e negligência de parte do governo federal na gestão da pandemia. Bem ao contrário, a sistematização de dados, ainda que incompletos em razão da falta de espaço na publicação para tantos eventos, revela o empenho e a eficiência da atuação da União em prol da ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo”, diz o texto.

Em janeiro, um grupo de 352 notáveis, formado por juristas, economistas, intelectuais e artistas, solicitou à Procuradoria Geral da República a abertura de uma ação criminal contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal por atentar contra a vida dos brasileiros por sua má gestão da pandemia. Até agora, Augusto Aras, que mais parece um funcionário do governo, nada fez. No mesmo mês, a ONG Human Rights Watch acusou o presidente de sabotar as medidas contra a disseminação da Covid-19 em seu Relatório Mundial 2021, o que o torna diretamente responsável pela morte de milhares de pessoas.

E onde está o MPF? Atrás de José Dirceu. Aliás, cadê o Queiroz?

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