Arábia Saudita e Rússia = 5X0, a derrota recheada de vitória!

Por que perder de goleada para a Rússia, também representa ganhos para o reino saudita?

Por que perder de goleada para a Rússia, também representa ganhos para o reino saudita?
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POR ELCINÉIA CASTRO A Copa do Mundo da Rússia 2018 começou no dia 14 de junho, com uma breve cerimônia de abertura do Mundial. E na sequência, o evento mais importante e que o mundo acompanhou em tempo real: o jogo entre a seleção anfitriã contra a Arábia Saudita. Em termos futebolísticos, o time saudita é frágil e seus jogadores são fracos e despreparados. O treinador do time, desde o final do ano passado é o argentino Juan Antonio Pizzi. Aliás, o reino saudita é uma monarquia absoluta, conhecido por possuir um regime político fechado à sociedade civil e ter como religião oficial o wahabismo, uma interpretação rigorosa do islã sunita. Mas o que realmente interessa para o Estado saudita é estar em evidência no cenário internacional, como uma potência ‘comum’, que interage com os outros Estados de outros continentes em diversas áreas, como a do esporte. Apesar do time saudita ter perdido de goleada a partida contra a Rússia, ganhou projeção internacional. Durante quase duas horas o mundo ouviu os nomes Muhammad, Osama, Yasser, Abdullah e o nome do país saudita sem fazer a tradicional referência ocidental aos noticiários internacionais sobre os conflitos nos Oriente Médio. Desta vez, eram os nomes dos  jogadores de futebol do time da Arábia Saudita que estava jogando naquele momento e na abertura do mundial mais importante da modalidade. Por que isso representa uma vitória para os sauditas, mesmo diante da suposta humilhação do placar de 5 x 0 para a Rússia? Assim como o presidente russo Vladimir Putin quer transformar a Copa do Mundo de 2018 numa espécie de vitrine do país para o resto do mundo e alcançar prestígio e admiração internacional pelo evento, o Estado saudita também caminha na mesma construção de projeção internacional, utilizando o mundial como instrumento para tal fim. De um lado, a Rússia quer vencer o preconceito que os europeus ocidentais e os norte-americanos têm em relação ao seu território, atualmente, em função do conflito gerado na Criméia e a guerra na Síria. E do outro lado, a monarquia saudita quer se inserir no sistema internacional ao lado das grandes potências ocidentais, através do ousado projeto “Visão 2030”, desenhado pelo príncipe Mohammed Bin Salman (MBS). O projeto “Visão 2030”, lançado em 2016 pelo príncipe MBS, trata-se de um plano político e econômico, que se aplica a várias questões inerentes à manutenção do bem-estar econômico e social da Arábia Saudita. Nos últimos anos, as mulheres tiveram conquistas importantes, como o decreto que autoriza as mulheres do país a conduzirem veículos. No mês passado, o Estado reabriu as salas de cinema, que estavam fechadas há quase 35 anos e exibiu o filme Pantera Negra, da Marvel, bem como firmou diversos contratos com a indústria cinematográfica norte-americana. Mas uma das prioridades deste plano é preparar o Estado para a era pós-petróleo, através do desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a exploração de energias alternativas. A ideia é quebrar a chamada “maldição do petróleo”, em que os Estados detentores deste recurso ficam tão dependentes dos lucros, que se anulam e não desenvolvem um leque produtivo, capaz de sustê-los quando não houver mais ‘diamante negro’ para ser explorado. A Saudi Aramco, estatal saudita de petróleo, que foi uma das empresas mais lucrativas do mundo em 2017, tem sido objeto de muita especulação no mercado financeiro internacional. Isso porque o príncipe MBS, juntamente com o Ministério de Energia, pretende realizar uma oferta pública inicial (IPO – sigla em inglês) sobre uma parte da empresa. A concretização está prevista para ocorrer no próximo ano, em 2019. Essa seria uma estratégia para a captação massiva de capital, que transbordaria para outros setores através de investimentos governamentais. O centro dinâmico desse processo continuaria sendo o petróleo, mas com o objetivo de desenvolver o leque produtivo do país, numa percepção em longo prazo. Ao longo dos últimos anos, duas fontes de energia limpa e renovável, a eólica e a solar, consolidaram-se e estão sendo comercializadas em vários países de diferentes continentes. O Departamento de Energia do Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL) dos Estados Unidos em parceria com o Ministério de Energia saudita iniciou um projeto em 2013 para monitorar a capacidade produtiva do território saudita na produção de energia de fontes solares, a chamada tecnologia fotovoltaica. A Arábia Saudita pretende diversificar suas fontes de energia e reduzir a dependência de hidrocarbonetos. Se houver aumento no consumo de energias renováveis, mais barris de petróleo de uso interno serão liberados para o mercado de exportação. Além disso, a segunda maior planta industrial do mundo para dessalinização de água do mar e produção de energia está localizada na cidade saudita Ras al-Khair (1º em Israel). De acordo com o Ministério de Energia saudita, a fábrica produz energia por intermédio de um processo ciclo-combinado, que inclui turbinas de gás, turbinas a vapor e turbinas de condensação de vapor. O excesso de calor gerado é aproveitado em sistemas de recuperação, que produzem vapor e com isso geram ainda mais eletricidade. Em função dos investimentos em pesquisas pelo governo norte-americano e saudita, atualmente a eficiência na geração eléctrica ultrapassa os 60%, contra valores inferiores, tipicamente encontrados em plantas convencionais de outras partes do mundo. Ao longo dos anos, as relações entre Estados Unidos e Arábia Saudita só se estreitaram, abarcaram não só o abastecimento energético (petrolífero), mas também militar, marinho, geopolítico e agora a produção de energias renováveis. Um dos caminhos que o príncipe MBS quer trilhar para projetar seu reino no sistema internacional está concentrado nesses avanços energéticos e tecnológicos sauditas. No ano passado, o presidente Donald Trump escolheu a Arábia Saudita como primeiro destino em sua primeira viagem internacional, reafirmando a parceria estratégica das duas nações, que está transbordando para a parte ocidental do globo.