Por que Israel ama a violência

Ao examinar projeto de ocupação da Palestina, de 1948 até nossos dias, músico conclui: não há nada melhor que levar os oprimidos a ações desesperadas e atacá-los quando reagem

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Ao examinar projeto de ocupação da Palestina, de 1948 até nossos dias, músico conclui: não há nada melhor que levar os oprimidos a ações desesperadas e atacá-los quando reagem Por Jonathan Ofir | Tradução Shajar Goldwaser Você não deve ter pensado nisso. Nós estamos sempre tão decepcionados com essas erupções de violência, nossos líderes pedindo por mais calma e nós sempre dizendo que a maioria de nós quer paz… Na verdade, nós amamos essa violência. Deixa eu te explicar por que. A ideologia que representa nossa supremacia judaica em Israel é o sionismo. Desde o começo, nós sabíamos que estávamos nos assentando em um território já povoado. E sabíamos, desde o começo, que iríamos querer toda a Palestina histórica – alguns de nós queriam até mais – do Nilo até o Eufrates, alguns ainda querem. E nós sabíamos que tudo visava criar um Estado-Nação que tivesse uma supremacia étnica dominante, no caso a nossa, judaica. Sabíamos que os nativos teriam que ser expulsos, ou convencidos a fugir, para termos uma maioria esmagadora. Nós poderíamos tolerar talvez 15%, certamente 20% no máximo deles. Mais eis que eles não quiseram partir de suas terras e suas casas – para dar lugar a nós, os recém-chegados. Então tiveram que ser expulsos – o que poderíamos ter feito? Éramos uma minoria, a imigração não fora suficientemente rápida, até hoje não é – e eles estavam assentados em tantos lugares… – então os expulsamos. Nós não deixamos ele voltarem – claro que não – isso seria um anátema para nosso projeto e sua campanha bem sucedida. Fizemos várias campanhas de conquistas desde 1948, algumas mais bem sucedidas que outras. Mas em essência, essas foram campanhas violentas, e continuam sendo – porque deve ser óbvio para qualquer um que o sionismo é implicitamente violento. É uma ideologia violenta. Mas nós tivemos que apresentá-la para todo o mundo e inclusive para nós mesmos como uma ideologia pacífica. Aquela que nos salvaria da eterna perseguição. O que seria então um pouquinho de violência para a execução deste projeto em relação ao nosso histórico de perseguições? De fato, o holocausto nazista nos forneceu o grande banco de simpatia, que nos exonera e minimiza nossa violência. De certa maneira funciona. Mas os palestinos não estão indo embora. Eles estão se multiplicando. Nós não podemos desistir da realização do projeto territorial sionista agora, depois de meio século de se consolidar sobre toda a Palestina histórica. Nem podemos dar a essas pessoas cidadania, nem podemos deixar os refugiados retornarem – se quisermos realizar o sonho sionista. Herzl nos disse: “Se vocês quiserem, não será apenas um sonho”. Como poderíamos desistir deste sonho? Então é claro, os palestinos protestam. Você não pode manter pessoas sob jugo militar e legal (este jugo também existe na “Israel propriamente dita”, onde existem mais de 50 leis discriminatórias) sem que eles fiquem de saco cheio. Nós tentamos lhes oferecer alguma esperança – com o que pareciam ser passos em direção a um estado, mas que passou tão longe quanto Oslo é de Ramallah. Nós usamos esse processo para dissecar a Cisjordânia. Nós nos desconectamos da Faixa de Gaza em 2005, e então usamos isso para reclamar da resistência e para implementar um cerco e repetidos massacres, numa contínua campanha que constitui um progressivo genocídio. Nós sabemos, não é bonito. Mas precisamos que a violência continue, porque caso contrário, seremos expostos à violência da nossa própria campanha ideológica nacionalista. A crítica contra nós cresce forte – mas cada vez que eles reagem com violência, nós conseguimos culpabilizá-los, e então nos unimos face a este “inimigo comum”. Somos “segurança-sugas”. Não há nada como um inimigo externo, mesmo que sejam crianças, para nos unir. Toda a crítica interna é silenciada. “Shhh! Há tiros!”. Nós conseguimos assim confundir o mundo, mostrando que é apenas uma situação desconfortável, que não há nada que pudéssemos fazer. Cada vez que os palestinos reagem, usamos isso como meio para consolidar nosso controle, nossa violência, e reduzir o poder deles. Nós esperamos que chegue o dia em que eles não nos atrapalhem mais. Quiçá eles desapareçam. Enquanto isso temos nossas Relações Públicas para cuidar disso. E não há nada melhor que incitar a violência e depois culpá-los por isso, e reforçar o nosso status, enquanto continuamos a roubar suas terras e a fazer suas vidas impossíveis. Nós AMAAAMOS essa violência. — Jonathan Ofir é músico israelense, compositor e blogueiro. Mora na Dinamarca.