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Na disputa de concepções de mundo, não basta uma relação de obras a serem construídas e é cada vez mais imprescindível debatermos com a sociedade quais valores se devem consolidar para construir uma cidade mais humana, justa, participativa, solidária e mais aberta aos seus cidadãos
Por Chico Macena*
Um dos grandes desafios de qualquer governo é a disputa pela hegemonia na sociedade, o apoio e o reconhecimento da população para a implementação e consolidação de seus programas e projetos que possam, ao longo do tempo, mais do que políticas de governo se transformar em políticas de Estado. Muitas vezes essa disputa de opinião tem apenas como horizonte o embate eleitoral, reduzindo o alcance e os impactos das políticas públicas.
A experiência que estamos vivenciando na gestão da Prefeitura de São Paulo deixa nítido que um governo que representa um campo democrático e popular sofre fortes resistências dos setores mais conservadores e tradicionais, em todos os terrenos. Uma dura batalha tem sido travada desde o primeiro ano, quando foi apresentado um projeto tangível para o desenvolvimento do Município, com seu reordenamento, consolidado na proposta do Plano Diretor Estratégico (PDE); na ampliação da malha de faixas exclusivas para ônibus; na abertura dos espaços públicos para sua reapropriação pelos cidadãos; na definição de prioridades de políticas públicas para quem mais precisa; no respeito à diversidade; na redução da velocidade nas marginais e outras artérias da mobilidade, priorizando a vida; na busca de uma cidade mais moderna e mais humana; na construção coletiva de uma nova identidade local.
Na disputa de concepções de mundo, não basta uma relação de obras a serem construídas e é cada vez mais imprescindível debatermos com a sociedade quais valores se devem consolidar para construir uma cidade mais humana, justa, participativa, solidária e mais aberta aos seus cidadãos. Onde os interesses coletivos se sobreponham ao individualismo; o direito ao deslocamento com segurança se antecipe ao risco de morte pela velocidade excessiva; o da inclusão social e da equidade se sobressaia à acumulação sem limites; a participação social tenha mais valor que as decisões monocráticas. Enfim, buscar uma identidade de cidade para todos em cada canto do seu território, em que as pessoas sejam co-partícipes de sua construção e se sintam contempladas, sobretudo os setores menos favorecidos.
Isso não implica que devemos subestimar o alcance social das intervenções nos vários “cantos da cidade”, como a construção dos três hospitais; dos 37 equipamentos de saúde entregues e dos 20 que estão em obras; dos 75 de educação que já foram entregues e os 60 que estão em construção; das 19.365 unidades habitacionais em construção e das 14.732 licenciadas para serem incluídas no programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal; da melhoria dos serviços; pois afirmam e ampliam o direito à cidadania. Não significa que não devemos fazê-las, e a Prefeitura vem fazendo também na área de mobilidade, no programa de drenagem etc.
Esta é era do “quero mais”, necessário para uma cidade das dimensões e dos desafios de São Paulo. Mas, a ampliação das conquistas, não pode se resumir apenas na legítima pauta de reivindicações, que reconhecemos e perseguimos, da realização de obras, até porque a amplitude das demandas acumuladas choca-se com a capacidade que a Prefeitura tem de atendê-la, sobretudo, de imediato. Essas demandas estiveram presentes nas manifestações de junho de 2013, especialmente, no início. Entretanto, no seu desenrolar, essas manifestações, foram tomadas pela agenda dos setores mais atrasados e conservadores da sociedade.
Tanto no processo de construção, quanto na execução do nosso Projeto, temos que explicitar o alcance social, cultural e político das intervenções, propostas e já realizadas, os valores que este projeto representa e que defendemos, de forma a buscar o apoio da população às nossas iniciativas chamando-a a participar da construção coletiva dessa identidade.
Esse é o debate que setores conservadores das elites locais, e seus porta- vozes nos meios de comunicação tradicionais, querem interditar, querem impedir que seja feito. É preciso persistir, nos espaços possíveis desses meios de comunicação de massa, nas redes sociais e, sobretudo, nos espaços dos movimentos sociais organizados e daqueles/as que se identificam e apoiam a construção deste Projeto. O Governo Municipal e os setores progressistas devem fazer essa disputa palmo a palmo, rua a rua, nas suas diferentes dimensões, pois o debate não se manifesta apenas na esfera do governo. Ele permeia todo o tecido social.
Esse é o chamamento que devemos fazer a todos os setores sociais comprometidos com um projeto mais humano de cidade, moderno e inclusivo, solidário e tolerante às diferenças, democrático e aberto à participação social. Que respeita as demandas de todos/as, mas que prioriza as dos que mais precisam.
Uma cidade mais moderna e mais humana não é apenas um slogan, não são apenas metas, programas e obras a serem realizados é um valor a ser construído coletivamente. Uma cidade para todos/as e, sobretudo, para quem mais precisa é um direito a ser perseguido e que queremos conquistar.
*Chico Macena, 52 anos, é administrador e Secretário do Governo do Município de São Paulo.
Foto de capa: Flickr/Júlio Boaro