Apoiadores de Bolsonaro ameaçam linchar jovem negro no Guarujá (SP)

Mulher negra que criticou banhistas por agredirem jovem foi ameaçada e xingada; ‘no dia 1º de janeiro isso vai acabar’, disse um deles

Reprodução/Ponte
Escrito en BRASIL el
Por Arthur Stabile, na Ponte Jornalismo  Um jovem negro está no chão, rendido com um homem o imobilizando pela barriga e outro segurando as suas pernas, suspeito de roubar uma corrente. Ele está na Praia das Astúrias no Guarujá, litoral de São Paulo. À espera da polícia, um grupo espanca o rapaz com chutes e socos enquanto soltam gritos pró-Bolsonaro. Este caso aconteceu neste sábado (13/10). Vídeos obtidos pela Ponte mostram o momento em que o jovem está imobilizado e as pessoas aguardam a polícia chegar. “Os chutes e socos começaram a chegar de todos os lados. Aqueles que o fizeram parar são os mesmos que tiveram que protegê-lo, porque a ameaça de linchamento tornou-se real”, conta uma testemunha, sob a condição de anonimato. Há questionamentos se eles estavam “defendendo bandido”. O rapaz nega ter furtado a corrente durante o vídeo. Ao mesmo momento, as ofensas e tentativas de agressões ocorrem. “No dia primeiro isso vai acabar!”, gritou um homem, se referindo à posse de Bolsonaro. Segundo a testemunha, houve pedido para torturar o garoto, colocando-o de cabeça para baixo. “Tem que matar um vagabundo desses, aqui é Bolsonaro porra”, teria gritado um membro do grupo. Um circulo em volta dos dois homens sobre o garoto tentava evitar as agressões, vinda de uma roda ainda maior de gente. A testemunha conta que uma ambulante tentou acalmar os ânimos e impedir o linchamento, mas acabou xingada de “vagabunda” e “filha da puta” e expulsa do lugar. “Essa moça não era branca, assim como o jovem jogado na areia. Consequentemente, o racismo não demorou a se manifestar. Um homem vai pra cima dela e grita ‘Deve ser irmão dela, por isso que ela tá defendendo'”, conta. A polícia chegou e levou o jovem preso aos gritos de “mito”, de acordo com o relato da testemunha. Segundo a testemunha, algumas pessoas que estavam na multidão saíram do local em que o adolescente foi pego e foram até onde a mulher trabalha cobrando sua demissão. “De fato falaram com sua chefe, pedindo sua demissão. Mas a chefe elogiou sua postura e não viu sua atitude como errada”, explica. Procurada pela Ponte, a SSP* (Secretaria da Segurança Pública) informou, em nota, que houve um furto e um grupo de pessoas conteve o suspeito, um adolescente de 17 anos, que chegou a ser agredido por algumas pessoas, que fugiram com a chegada na Guarda Municipal. “Nenhuma vítima foi encontrada e por isso o menor foi liberado à sua genitora mediante compromisso de apresentação junto à Promotoria da Infância assim que solicitado”, conclui a nota.