Youtuber sofre ameaças de morte após divulgar vídeo sobre fóruns anônimos na internet

A partir do atentado de Suzano, o autor do canal Normose resolveu fazer um vídeo explicativo sobre o mundo dos fóruns anônimos, conhecidos como chans, e o radicalismo compartilhado nesses ambientes; agora, youtuber passou a ser alvo dos participantes desses fóruns, que teriam, inclusive, descoberto o seu endereço e de seus familiares

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Os riscos do radicalismo de jovens em grupos anônimos na internet convencional e também na chamada deep web e dark web são cada vez mais eminentes e vêm colocando mais e mais pessoas em risco no Brasil. O atentado em uma escola pública de Suzano (SP) que culminou em 10 mortes no início do mês reacendeu a discussão sobre o discurso de ódio que prevalece nesses ambientes e requer uma análise delicada de quais fatores levam um jovem, normalmente branco e “privilegiado”, a agir pelo radicalismo contra pessoas que são colocadas como inimigos, como mulheres, negros e LGBTIs. Foi neste sentido que o autor do canal Normose, no Youtube, divulgou no último dia 20 o primeiro vídeo de uma série sobre chans (termo utilizado para se referir aos fóruns anônimos na internet) e incels (termo que remete, em inglês, à “celibato involuntário”, se referindo a homens virgens involuntariamente que desenvolvem ódio por pessoas do sexo oposto). Com mais de 63 mil inscrições, o canal é famoso por tratar de forma didática temas que envolvem as áreas de história, filosofia, sociologia e política e, no primeiro vídeo sobre os fóruns anônimos, se propunha a, a partir do atentado de Suzano, explicar como funcionam os ambientes onde normalmente esses ataques de ódio são planejados e desmistificar a ideia de que todos aqueles que frequentam os fóruns seriam doentes ou psicopatas. E ainda tinha como objetivo fazer uma análise mais profunda do perfil desses jovens e qual o contexto social que os levam a determinadas condutas. Leia também Atiradores de Suzano teriam articulado plano em grupo de ódio, que comemorou ação na deep web “Ao contrário do que a mídia tradicional tem feito, de demonizar, misturar as coisas, propus uma análise mais sociológica do fato, entender como essas pessoas chegam nisso e como elas vão virando tóxicas ao longo do tempo. Meu olhar é muito mais para a exclusão e o afeto (...). É uma análise bastante ponderada no sentido de dizer que não é todo mundo que está ali [nos chans] que é doente, que têm as mesmas intenções, é muito plural”, disse à Fórum o autor do canal, que não terá a identidade revelada nesta reportagem para preservar seu anonimato nas redes. Ele contou ainda à reportagem que resolveu fazer o vídeo a partir do depoimento de um ex-participante de um desses grupos que, estarrecido pelo ocorrido em Suzano, resolveu abrir o que conhecia sobre esses ambientes. O youtuber, então, se debruçou durante algum tempo sob o tema para produzir o vídeo e enriquecer a discussão. “Quando dizemos que eles são os vilões, jogamos o jogo deles. A autodepreciação é positiva, só reforça a vontade de ficar ainda mais rebeldes. É preciso mostrar as fragilidades mentais, emocionais, expor que eles sofrem como qualquer um e se acham os tais. Mexer nessa ferida é a saída para eles e para nós. Essa bomba só tem uma solução: desativar os afetos. Trabalhar com a saúde mental. Entender quem é doente e quem é ideólogo”, diz o youtuber, de maneira ponderada, em um dos trechos do vídeo. Apesar de não ter encampado nenhum ataque frontal contra os participantes de fóruns anônimos na internet, o autor do canal Normose, que se propôs a explicar o fenômeno, passou a ser alvo dos próprios destiladores de ódio desses ambientes, com ameaças explícitas de morte e intimidação contra sua família, como seus país e irmã. “Eles têm muita dificuldade com a crítica, então, por mais que tenha sido leve, eles levaram como um puta ataque”, disse. De acordo com o dono do canal, as ameaças começaram a ser compartilhadas em um desses fóruns anônimos e ele ficou sabendo, pois, um amigo seu tem acesso a esse chan. As ameaças são dos mais variados tipos, mas já se revelam de alta periculosidade uma vez que os participantes do fórum já teriam descoberto o endereço do youtuber. “Há ameaças de todo tipo. Uma delas é aquela coisa de mandar pizza, mandar prostituta, coisas para minha casa. Como eles não tem certeza se eu moro aqui e não sabem se vai ser efetivo, falaram que vão ameaçar minha família. Acharam o perfil da minha irmã nas redes”, contou. Ele revelou ainda que até mesmo um indivíduo que se classificou como um “ex-participante” desse fórum conseguiu o telefone da casa de seus pais, que são leigos em internet, oferecendo “ajuda”. “Já rolaram ameaças reais, com gente postando foto de arma e dizendo que já tem um serviço na cidade onde moro”, completou. Coincidência ou não, o fato é que as ameaças ao youtuber não são isoladas. Os ataques contra o autor do canal Normose começaram no mesmo dia que, em outros grupos parecidos, foram identificadas ameaças de ataques contra mulheres na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em outras universidades. Apreensivo, o jovem está há alguns dias afastado das redes sociais e retirou do ar o vídeo que motivou os ataques. “Estou bastante apreensivo, mais pelos meus pais do que por mim”, revelou. O youtuber já registrou um boletim de ocorrência e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil. “É importante as pessoas saberem pois é uma realidade que está acontecendo. Hoje é comigo, ontem foi com a Lola [Aronovovich]. Quanto mais a gente puder deixar isso em evidência, melhor”, pontuou. Leia também Após atentado em Suzano, Lola recebeu mensagem de membro de grupo de ódio frequentado por atiradores Na última quinta-feira (21), apenas um dia após o canal Normose postar o vídeo sobre os fóruns e passar a ser alvo de ameaças, o canal Nada Se Cria divulgou um vídeo em que fala sobre o assunto.O autor também teria passado a ser alvo de ataques dentro desses ambientes anônimos. Assista abaixo.