Setembro Amarelo: Discursos preconceituosos na Internet podem aumentar risco de suicídio, apontam especialistas

Psiquiatra alerta para a irresponsabilidade de influenciadores digitais na forma de abordar o assunto

Carlinhos Maia - Foto: Reprodução/Instagram
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As taxas de suicídio de adolescentes no Brasil aumentaram 24% de 2005 a 2015. Esse número foi levantado por dois estudos realizados pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em março deste ano, conduzidos pelos psiquiatras Jair Mari, Elson Asevedo e Denisse Jaen-Varas. Para além das características socioeconômicas que colocam certos grupos em maior vulnerabilidade, pesquisadores mostram que comportamento de influenciadores digitais e informações disponíveis na Internet podem aumentar comportamentos de risco. "Os jovens estão online cada vez mais tempo. E é possível que a melhor forma de influenciá-los seja através do ambiente online", contou à Fórum o psiquiatra Elson Asevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e do Global Mental Health Program da Columbia University, em Nova Iorque. Asevedo vê com bons olhos o papel que o mundo digital tem para produzir maior compreensão sobre as doenças emocionais, em especial durante o Setembro Amarelo, mês nacional de prevenção ao suicídio. No entanto, o pesquisador alerta para a irresponsabilidade de influenciadores digitais na forma de abordar o assunto.

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Neste domingo (1), o comediante e digital influencer Carlinhos Maia causou revolta nas redes sociais por divulgar vídeo que incentiva jovens a se matarem. Maia postou em seus stories do Instagram um vídeo criticando “adolescentes de 16 anos”, a que se referem como “imbecis”. “Vocês acharam mesmo que ia ser fácil? Eu vejo aqui meninos de 16 anos me mandando ‘eu quero me matar’. Vai, ô, imbecil! Vai se matar porque você nem começou a vida ainda”, disse o comediante, em gravação que não está mais disponível em sua conta do Instagram. "Ao mesmo tempo em que estão disponíveis informações adequadas, que visam a prevenção de transtornos mentais e suicídio, também estão disponíveis visões distorcidas, repletas de preconceitos que podem ter o efeito de aumentar comportamentos de risco", contou o psiquiatra. "Acesso a detalhes sobre métodos de suicídio, contato com grupos de usuários que estimulam atos suicidas, descrevem o suicídio de maneira romantizada e desestimulam a busca por ajuda", completou. Asevedo destacou, por outro lado, o desafio de fazer com que o papel de influenciadores digitais e das redes seja algo útil para produzir maior compreensão sobre o tema do suicídio, ajudando a reduzir o preconceito e o estigma. "Divulgar locais de ajuda, como unidades públicas de atendimento a saúde mental. Esse é um novo desafio", disse. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é responsável por 800 mil mortes anualmente, e o impacto psicológico e social dessas mortes na família e sociedade é "imensurável". Em média, um só suicídio afeta diretamente ao menos seis pessoas. Se o suicídio ocorrer na escola ou local de trabalho, impacta centenas de pessoas. "Família e amigos devem estar atentos a mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, irritabilidade, redução na realização de atividades que antes gostava de fazer", completou o pesquisador da Unifesp, com dicas para um melhor atendimento a quem enfrenta essa angústia. Indicadores socioeconômicos A pesquisa dos especialistas da Unifesp também destacou outro aspecto importante do crescimento de suicídio entre jovens: desigualdade social e desemprego foram considerados determinantes sociais relevantes nesse tema no Brasil. Levantamentos da pesquisa foram realizados em seis grandes cidades brasileiras (Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo) e incluiu adolescentes de 10 a 19 anos na análise. Os resultados apontam que níveis mais altos de desemprego foram associados a maiores taxas de suicídio. “Sentimentos de desesperança e inutilidade, que frequentemente ocorrem em quadros depressivos, são frequentemente vistos como mecanismos psicológicos desencadeantes do comportamento suicida. Esses mesmos sentimentos parecem muito prevalentes na geração de jovens desalentados, sem propósitos claros, que nem trabalham nem estudam”, contou Asevedo.