Para Boulos, fechamento da Ford representa “a ausência de um projeto de país”

Ao lado de Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, o coordenador do MTST se reuniu com trabalhadores da montadora em Taubaté: “O Brasil está estagnado”

Foto: Reprodução/Facebook Guilherme Boulos
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Para Guilherme Boulos (PSOL), coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo, o fechamento das três fábricas da Ford no Brasil representa a “ausência de um projeto de país”. A montadora desativou as unidades de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE).

O ex-candidato a prefeito de São Paulo se reuniu, na tarde desta sexta (15), com funcionários da empresa e com representantes do sindicato da categoria, na unidade de Taubaté, no interior de São Paulo.

Boulos foi prestar solidariedade aos trabalhadores. “É preciso entender que são cerca de 120 mil vagas de trabalho que estão sendo fechadas. Por isso, estamos aqui para lutar pela manutenção desses empregos”, declarou.

“O que está em jogo com essas demissões não é somente o fechamento de uma fábrica, o que já seria muito. Mas representa o processo de desindustrialização pelo qual passa o Brasil. O país está se tornando cada vez mais um celeiro da Europa”, destaca Boulos.

Ele acrescenta que o Brasil, nas mãos de Bolsonaro, não tem sequer uma proposta de política tecnológica, o que seria importante para o setor. “A Ford é uma empresa que investe em países que investem em tecnologia. Como o Brasil está estagnado, a decisão foi pelo fechamento. Mesmo assim, além do governo, a empresa também tem responsabilidade sobre esses empregos, porque recebeu milhões em subsídios”.

O presidente nacional do POL, Juliano Medeiros, acompanhou Boulos na visita de solidariedade aos trabalhadores da montadora.

“É de extrema gravidade o que está acontecendo com a Ford. Não podemos esquecer que estamos em meio a uma pandemia e a perda de empregos, em um momento como este, é uma situação trágica”, avalia Medeiros.

“Os trabalhadores da Ford são qualificados, mas, mesmo assim, terão dificuldades em conseguir empregos equivalentes. Por isso, não se trata de arrumar outros empregos. A luta é para preservar essas vagas”, acrescenta.

O presidente do PSOL criticou a forma pela qual os governos federal e estadual lidaram o problema. “É uma vergonha a omissão do Bolsonaro e do Doria, tratando o fechamento de milhares de vagas de empregos como sendo uma simples dinâmica de mercado”.

Sem aviso

A Ford anunciou, nesta segunda-feira (11), por meio de uma nota, o fim da produção de veículos no Brasil. Segundo o sindicato da categoria, a empresa só avisou os trabalhadores no dia da divulgação da nota.

“A produção será encerrada imediatamente em Camaçari e Taubaté, mantendo-se apenas a fabricação de peças por alguns meses para garantir disponibilidade dos estoques de pós-venda. A fábrica da Troller em Horizonte continuará operando até o quarto trimestre de 2021. Como resultado, a Ford encerrará as vendas do EcoSport, Ka e T4 assim que terminarem os estoques”.

Segundo a montadora, “a continuidade do ambiente econômico desfavorável e a pressão adicional causada pela pandemia deixaram claro que era necessário muito mais para criar um futuro sustentável e lucrativo”.

Ainda segundo a nota, “as operações de manufatura na Argentina e no Uruguai e as organizações de vendas em outros mercados da América do Sul não serão impactadas”.