Mais de 400 mil alunos do ensino fundamental ficaram sem atividade remota na pandemia, aponta levantamento

Estudo também indica que um grande contingente de estudantes pode abandonar a escola

Foto: Agência Senado
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Pesquisa realizada por técnicos de 29 Tribunais de contas do país em parceria com o Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede) e o Comitê Técnico da Educação do Instituto Rui Barbosa (CTE-IRB) revela que mais de 450 mil alunos do ensino fundamental ficaram sem atividades remotas durante a pandemia.

Além disso, o estudo também aponta para o alto risco de parte destes alunos abandonarem os estudos depois da pandemia.

De acordo com a pesquisa, isso representa quase 15% do total de matriculados nestes dois anos somados. São estudantes que passaram mais de um ano sem acompanhar nenhuma atividade remota durante o fechamento das escolas no país.

Divulgada nesta quinta-feira (25), a pesquisa foi feta diretamente com as redes municipais e estaduais de ensino de todo o país.

O estudo é uma resposta a inação do Ministério da Educação, que não realizou nenhum tipo de diagnóstico sobre evasão escolar durante a pandemia, principalmente no que diz respeito ao período em que as escolas ficaram fechadas.

Desigualdade regional e abandono escolar

A pesquisa também revela as desigualdades regionais: na região Sul a média de participação dos alunos de 5º anos foi de 96,2%, no Nordeste, o índice foi de 88%.

Para os organizadores da pesquisa, a pandemia aprofundou as desigualdades já presentes na sociedade brasileira.

A pesquisa será apresentada nesta quinta e pode ser acompanhada por aqui.

Menos de 1%: Governo Bolsonaro negligenciou programa de internet nas escolas

Relatório aprovado pela Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação na Câmara (Comex/MEC) nesta quarta-feira (24) aponta que o governo Jair Bolsonaro gastou menos de 1% da verba que deveria ser utilizada para implementar o programa Educação Conectada no ano de 2021.

Segundo o relatório elaborado pela deputada Tabata Amaral (PSB-SP), o Programa de Inovação Educação Conectada, que tem como objetivo apoiar a universalização do acesso à internet de alta velocidade e fomentar o uso de tecnologias na educação básica, recebeu menos de 1% do previsto em 2021, durante a gestão do ministro pastor Miton Ribeiro.

“Em 2019 a despesa paga frente à dotação atualizada (355 milhões) foi de 23,3%. Em 2020 o percentual de despesa paga aumentou para 71,7%, porém a dotação atualizada diminuiu bastante (195 milhões). Em 2021 a dotação atualizada em reais atinge o seu maior valor (425 milhões), porém a despesa paga é irrisória (apenas 3,1 milhões), até a data deste relatório”, aponta o documento.

“Os baixos investimentos e pagamentos no programa Educação Conectada afetam diretamente o acesso à conectividade das escolas, impactando os alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio”, afirma o relatório.

A comissão destaca ainda que “os esforços e os investimentos realizados pelo Ministério da Educação nestes três anos (2019, 2020 e 2021) foram aquém do necessário para o atendimento das principais demandas da educação básica brasileira” e que a situação foi ainda mais alarmante no período da pandemia de Covid-19.

“Especialmente neste período, quando mais se fazia necessário, o MEC não realizou minimamente o seu papel de coordenação nacional e de pactuação com estados e municípios para enfrentar os graves problemas advindos do período pandêmico”, diz a comissão.

“Diante disso, a CEXMEC avalia que as omissões em iniciativas de coordenação com os demais entes federados, a despriorização das modalidades de ensino, a falta de políticas educacionais estruturantes, as baixas dotações e pagamentos, a inércia e a letargia no processo decisório e no estabelecimento de políticas durante a pandemia e os gargalos apresentados na gestão do MEC na educação básica terão consequências negativas graves para o futuro de milhões de alunos, professores e atores que compõem o que se chama de comunidade escolar. É necessário, portanto, que em 2022, a gestão do Ministério da Educação busque solucionar as graves falhas aqui apontadas, visando dirimir os impactos negativos do que foi apresentado”, conclui o relatório.