Crise na Capes: Diretor de Avaliação pede demissão após renúncia de pesquisadores

Mais de cem cientistas já pediram exoneração de seus cargos no órgão. Pesquisadores acusam a Capes de não respaldar o trabalho de avaliação desempenhado por eles

Fachada do edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
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Em meio a uma crise, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) perdeu mais um funcionário nesta terça-feira (14), o seu Diretor de Avaliação, Flavio Anastacio de Oliveira Camargo.

Com isso, mais de cem pesquisadores já renunciaram aos seus cargos no órgão. Essa é, porém, a primeira demissão no alto escalão da Capes, visto que as anteriores atingiram coordenadores e consultores que não são servidores do órgão, mas têm papel central na avaliação da pós-graduação do país.

De acordo com apuração da "Folha de S. Paulo", a presidente da Capes, Cláudia Mansani Queda de Toledo, afirmou que Camargo pediu exoneração por problemas de saúde.

Segundo relatos, no entanto, ele também não vinha se sentindo à vontade no cargo, cuja função envolve a avaliação da pós-graduação, no centro de uma controvérsia desde o fim de novembro.

A presidência da Capes deve fazer uma reunião com a Diretoria de Avaliação na manhã desta quarta-feira (15) para tratar do assunto. Camargo foi procurado, mas não respondeu à reportagem.

Capes na Justiça

Esses grupos que têm renunciado coletivamente executam o trabalho de avaliar os cursos de mestrado e doutorado no Brasil com notas que vão de 1 a 7. Aqueles classificados com notas abaixo de 3 perdem acesso a verbas e bolsas, são descredenciados e alguns, por conta desse motivo, podem deixar de existir.

A tensão na Capes se dá justamente por causa da falta de transparência e definição de “novos” critérios de avaliação. Processo que é realizado a cada quatro anos, a última avaliação deveria ter sido concluída neste ano, mas, por uma contestação judicial, se arrasta.

Os pesquisadores também apontam para a inexistência do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) para o decênio 2021-2030. Para os cientistas, sem o PNPG os programas de pós-graduação ficam “à deriva” sem saber que rumo dar aos seus respectivos programas.

Quando avalia os cursos, seja com nota alta ou baixa, as comissões da Capes apontam onde se pode melhorar ou o que está indo bem, e tal análise é fundamental para que as faculdade e universidades, por meio de seus departamentos de pós-graduação, organizem o quadriênio à frente.

Interesse privado

A renúncia de mais de cem pesquisadores da Capes também tem como pano de fundo pressão do setor privado para que os métodos de avaliação dos cursos sejam alterados e que os seus cursos de pós-graduação sejam aprovados.

Desde que o presidente Bolsonaro assumiu a presidência da República, a Capes vive em uma constante turbulência, principalmente no que diz respeito ao método de avaliação dos cursos de pós-graduação.

A presidenta da Capes, Claudia Mansani Queda de Toledo, desde que foi empossada pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, enfrentou resistência por causa do seu currículo, considerado por seus colegas como inadequado para o cargo.

Além do Lattes fora de padrão, Claudia Toledo nomeou uma aluna sua do doutorado para a diretoria internacional, o que gerou ainda mais ruídos entre os pesquisadores.