Após selinho entre lésbicas, bar cancela pedido das clientes em Catanduva (SP)

Casal conhece dono do estabelecimento e não acreditou quando ele disse que cancelaria pedido por causa de um beijo. Caso foi registrado em boletim de ocorrência e Polícia Civil ouvirá acusado, que alegou ter sido “mal interpretado”

Foto: Beatriz e Raíssa, casal que teve pedido cancelado num bar de Catanduva após um selinho (Redes sociais)
Escrito en BRASIL el

Um simples beijo do tipo selinho entre duas mulheres, num bar de Catanduva (SP), foi o suficiente para que o dono do estabelecimento mandasse suspender os pedidos feitos pelo casal de lésbicas. A confusão por conta do ato de homofobia do comerciante aconteceu na madrugada do último sábado (4) e foi parar na delegacia da cidade de 122 mil habitantes, que fica no norte do estado.

Raíssa Furlan, de 25 anos, que é repositora, e a companheira dela, Beatriz Péulopi de Oliveira Ribeiro, de 26 anos, que é barbeira, entraram no bar por volta das 2h e se sentaram. Elas contam que conhecem o dono do bar, que não foi identificado, e que ao darem o selinho perceberam que o homem fez um sinal negativo, de longe, para que elas cessassem a manifestação de carinho.

Minutos depois, o dono foi até a mesa delas e afirmou que se voltassem a fazer aquilo o pedido de bebidas feito ao garçom seria cancelado. Raíssa conta que achou que tudo não passava de uma brincadeira, porque elas conheciam o comerciante há um certo tempo, visto que Beatriz, que também canta, já havia tocado no local. Ela lembra que recebeu um outro beijo da namorada, desta vez no rosto, e então o pedido foi realmente cancelado por ordem do proprietário do Bar e Choperia Tio Edson. Até o garçom teria ficado constrangido com o ataque homofóbico do patrão.

“Nós pedimos dois drinques para o garçom, sentamos em uma mesa e demos um selinho. O dono do bar estava em uma distância considerável, mas olhou e fez um sinal do tipo: aqui, não. É um bar que costumamos frequentar. Nós tínhamos uma certa amizade com o dono, porque a Beatriz já tocou no bar”, relatou Raíssa à reportagem do portal G1.

A repositora segue contando o episódio homofóbico e reitera que realmente o casal pensou que tudo se tratava de uma brincadeira do comerciante. Até que ela foi beijada no rosto pela namorada.

“A Beatriz veio para me dar um beijo no rosto. O dono virou, disse que mandaria cancelar o pedido que tínhamos feito e perguntou se duvidávamos. Ela achou que era uma brincadeira e disse que duvidada. Ele se levantou, foi ao garçom, no meio de todo mundo, e disse para cancelar nosso pedido. O garçom, meio envergonhado, respondeu que nosso pedido estava quase pronto, mas que, realmente, tinha sido cancelado pelo dono do bar. Nós pegamos e fomos embora”, contou a jovem.

Ao saírem do estabelecimento noturno, Raíssa contou que não pensou duas vezes e expôs a atitude discriminatória que sofreu nas redes sociais, o que gerou até um protesto na porta da choperia.

“Acordamos e tinham muitas mensagens nos nossos celulares. As pessoas viram a publicação e resolveram organizar um protesto na frente do bar. O protesto foi feito na noite de domingo. O dono do bar já tinha ligado e pedido desculpas para a Beatriz, mas, para nós, não adiantou. Parece que foi uma desculpa um pouco forçada para não acontecer o protesto”, explicou.

A reportagem do G1 disse que o dono do Bar e Choperia do Tio Edson não quis gravar entrevista, mas que enviou um pequeno texto se explicando.

“Se fui mal interpretado, já fiz até meu pedido de desculpas a quem quer que tenha se sentido ofendido. Quem conhece nosso estabelecimento e nossa família sabe que sempre primamos pelo bom atendimento e respeito a todos”, é o que diz o comunicado.

O caso foi registrado pelas jovens na delegacia de Catanduva e agora o delegado da Polícia Civil na cidade instaurará um procedimento para ouvir o comerciante acusado de discriminar o casal de mulheres.