BRASIL

Volta da fome: 370 mil famílias são obrigadas a comer lagartos no Rio Grande do Norte

São mais de 1 milhão de pessoas, quase 38% da população, na pobreza e na extrema pobreza, de acordo com a secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social

Fome atinge 26% dos brasileiros. (Foto: Reprodução/Depositphotos)
Escrito en BRASIL el

Senador Elói de Souza, município do Rio Grande do Norte, está em estado de calamidade pública pela seca. O estado, segundo a Ana (Agência Nacional de Águas), é o mais afetado do Nordeste pela estiagem. Mais da metade (52%) dos municípios potiguares estão em "seca grave".

Por conta disso, a secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social calcula que 370 mil famílias estejam na extrema pobreza, o maior patamar em uma década.

De acordo com a secretaria, o número de famílias em situação de pobreza também subiu e aumentou o número de pessoas que sofrem com a fome. São mais de 1 milhão de pessoas, quase 38% da população, na pobreza e na extrema pobreza. "Evidentemente a seca agrava o quadro. Mas tem vários fatores, como a fila de espera no Bolsa Família —várias famílias, desde 2019, 2020, aguardam para entrar no programa e isso dificulta o direito à renda", diz a titular da pasta, Iris Oliveira.

A eliminação de postos de trabalho na pandemia e o encarecimento da cesta básica pioram o cenário.

Alimentação adequada

A professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pesquisadora na área de segurança alimentar e integrante do Conselho de Segurança Alimentar do estado, Nila Pequeno, afirma que "vários municípios e comunidades tradicionais [quilombolas, indígenas] do estado estão com o mesmo problema da fome. O cenário é de privação de um direito humano essencial para a sobrevivência: o Direito Humano à Alimentação Adequada".

"Essa aquisição de alimentos, da quantidade à qualidade nutricional inadequada, é socialmente inaceitável e rompe padrões de alimentação naturalmente estabelecidos", afirma a professora, se referindo à busca de alternativas como "pássaros, lagartos e pebas, incomuns para a maior parte da população brasileira, mas há muito retratados nos episódios de seca e fome no sertão nordestino".

Ela lembra ainda que o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU em 2014, mas regride. "O cenário piora desde 2016 com o esvaziamento e desmonte de políticas públicas."

Com informações da Folha