VÍDEO: Negacionista, padre de Goiás diz que máscara, álcool gel e isolamento é "coisa absurda"

Luiz Carlos Lodi da Cruz, que em 2020 foi condenado a pagar R$ 398 mil por ter impedido um aborto legal, ainda afirma que, caso seja proibido de realizar missas, vai desobedecer as autoridades

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O padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Anápolis (GO), aparece em um vídeo divulgado no último dia 21 de março pelo canal do YouTube do Centro Dom Bosco ironizando os protocolos contra o contágio do coronavírus. A fala do religioso, de forte tom negacionista, vem justamente no momento mais grave da pandemia no Brasil, com mais de 3 mil mortes diárias e leitos hospitalares lotados em todo o país.

No vídeo, que foi repercutido pela página BCovidfest, que denuncia desrespeito aos protocolos para conter o avanço da pandemia, o padre faz uma longa explanação sobre o motivo pelo qual, em sua opinião e com base e regras de sua instituição religiosa, a realização das missas presenciais deveria ser mantida, em desrespeito às medidas de restrição decretadas por prefeitos e governadores.

O pároco diz que, no primeiro ano de pandemia, "obedeceu" as regras, mas agora, "com a cabeça mais tranquila", revela que pensa: "será que eu deveria ter obedecido? Agora vejo que errei por excesso".

"Hoje, se eu recebesse a ordem de ser proibido de celebrar a eucaristia para o público, e proibido de dar a comunhão, eu agora, com a cabeça tranquila, depois de ter pensado, agora eu, sem escrúpulos de consciência, não obedeceria. Continuaria a celebrar missa em público", dispara, incentivando outros padres a fazer o mesmo.

"Digo para os padres de todo o país: se você sente essa angústia, fique tranquilo. Se você não falar mal do seu bispo, não incitar o povo contra seu bispo, mas continuar celebrando para os fiéis em publico, não está pecando e nem ofendendo a deus", completa.

Em outro trecho do vídeo, Luiz Carlos Lodi da Cruz ainda ironiza e debocha daqueles que se preocupam em manter o isolamento social e os hábitos de proteção e higiene contra o vírus.

"O que me assusta não é o vírus e nem a epidemia, não é a pior. Nem é a única, já houve muitas outras bem piores do que essa. O que me assusta é o pavor que essa epidemia está gerando. O desejo de ficar com máscara o tempo todo. 'Ahh, máscara, socorro. Se eu não usar máscara vou morrer'. De ficar esfregando a mão com álcool toda hora, colocando os pés em água sanitária, de ficar dentro de casa porque tem medo de, se sair, contaminar o ar com vírus... Gente, que coisa absurda. Não há ar mais puro do que aquele que você respira sem máscara. Ah, sair de casa para pegar um sol. É uma coisa sadia. Estar no convívio dos outros, faz com que você refresque sua mente, porque você não consegue viver isolado para frente. Isso faz você endoidar", declara.

Assista.

https://twitter.com/BCovidfest/status/1374779740599500804

Nesta quarta-feira (24), o padre Cristovam Iubel, de Guarapuava (PR), rebateu em vídeo as declarações do religioso de Anápolis. "Se a sociedade toda está fazendo esforço para vencer a Covid-19, por que nós não o fazemos?". Assista.

https://www.youtube.com/watch?v=uIeNrmL8db0

Pelo fato da fala do padre atentar contra todas as recomendações de especialistas para evitar o contágio do vírus que já vitimou quase 300 mil pessoas no Brasil, Fórum pediu um posicionamento da Arquidiocese de Anápolis sobre as declarações do religioso e aguarda retorno da entidade.

Condenado por impedir aborto legal

Em setembro de 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou definitiva a decisão de que o padre Luiz Carlos Lodi deve pagar R$ 398 mil de indenização por danos morais ao casal Tatielle Gomes e José Ricardo Dias. O padre impediu que eles realizassem um aborto permitido por lei há 15 anos. A ação por danos morais levou 12 anos para ser concluída, no último mês de agosto.

Na época, Tatielle tinha 19 anos e, com cinco meses de gestação, um ultrassom de rotina revelou que o feto tinha uma doença rara. A síndrome de body stalk faz com que os órgãos do feto fiquem do lado de fora do corpo, tornando a vida fora do útero inviável.

Com a confirmação do diagnóstico, o casal de Morrinhos, no interior de Goiás, foi orientado a buscar a Justiça e pedir autorização para a interrupção da gestação. O processo demorou quase um mês, causando ainda mais sofrimento para a família.

No entanto, já durante o procedimento, os médicos informam a ela que teriam de parar porque havia chegado um habeas corpus – uma ordem judicial preventiva – ordenando que o procedimento fosse interrompido. O autor do habeas corpus era o padre Luiz Carlos Lodi da Cruz. A jovem foi mandada de volta para casa, onde ficou com dor e sangramento até conseguir resolver o caso e fazer o aborto, ainda em 2005.

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