Doria é comparado a Bolsonaro ao manter escolas abertas durante lockdown: "Genocida"

Mesmo com registros de milhares de casos e dezenas de óbitos por Covid na rede de ensino, governador insiste em não fechar escolas no momento mais agudo da pandemia em SP; "Necropolítica", afirma Daniel Cara

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*Colaborou Lucas Vasques

Apesar de tentar polarizar de Jair Bolsonaro e encampar um discurso em defesa da "vida" e da "ciência", o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vem sendo comparado com o titular do Planalto por, na prática, adotar medidas que se assemelham as do presidente.

Isso porque nesta quarta-feira (3) o tucano anunciou que a partir da 0h de sábado (6) todo o estado de São Paulo entrará na fase vermelha do plano de contenção do coronavírus, que na prática significa um lockdown, quando apenas serviços essenciais serão permitidos. Apesar das medidas de restrição serem rechaçadas por Bolsonaro, Doria se aproxima do presidente ao resolver manter as escolas abertas e ignorar o fato de que milhares de professores, alunos e funcionários das redes de ensino estão sendo contaminados pela Covid-19, muitos deles morrendo.

São Paulo, como a maior parte dos estado brasileiros, vive seu momento mais grave da pandemia, com a rede hospitalar superlotada e as mortes em disparada. Doria já sabia que a situação da pandemia estava se intensificando, mesmo assim demorou para adotar medidas mais duras e, desde janeiro, vem ignorando os apelos de professores, que entraram em greve no início de fevereiro contra a retomada presencial das aulas, visto que as unidades de ensino sequer têm condições sanitárias de garantir a segurança da comunidade escolar contra o contágio.

Para se ter uma ideia, balanço do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Pauli (Apeoesp) dá conta de que, até esta terça-feira (2), foram relatados 1800 casos confirmados de Covid-19 na escolas estaduais e 24 óbitos em decorrência da doença. Já o Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep) afirma que há registros de Covid em 166 escolas municipais da capital paulista.

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Ao manter as escolas abertas no "lockdown", que já vem sendo chamado de "fake", Doria ignorou não só os professores, como também seu próprio secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, que defendeu o fechamento das unidades de ensino. "Isso é um tema que estamos discutindo. Se estamos entendendo que as pessoas estão ameaçadas frente ao vírus, frente a um colapso, temos de avaliar a circulação das pessoas em situações que poderiam ser evitadas e uma delas é a escola", disse o titular da pasta em entrevista à CBN.

Pouco antes do anúncio do retorno de todo o estado para a fase vermelha, nesta quarta-feira, professores realizaram uma manifestação no centro da capital paulista denunciando os contágios e mortes por Covid-19 nas escolas municipais e do estado. Com o apoio do vereador Toninho Vespoli (PSOL-SP), os manifestantes simularam corpos de professores envoltos com um saco preto no chão.

Em crítica à manutenção das aulas presenciais feita pelas redes sociais, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) fez questão de comparar Doria a Bolsonaro e lembrar que o governador tucano se elegeu com o slogan "bolsodoria".

"Doria anuncia fase vermelha, mas mantém escolas abertas. Nada poderia ser mais contraditório, até seu secretário da saúde admite que volta às aulas presenciais foi um erro e agravou a pandemia. Assume definitivamente que é o BolsoDoria, nunca foi outra coisa", escreveu.

"Manter aulas presenciais numa situação dessas é uma atitude criminosa. Inaceitável", completou o parlamentar.

À Fórum, a deputada estadual Professora Bebel (PT-SP), presidenta da Apeoesp, destacou a incoerência do chefe do Executivo paulista. "Como alguém que diz defender a vida e a ciência desautoriza o secretário que, além de médico, responde pela pasta da Saúde? Sem fechar as escolas, mantendo milhares de professores e funcionários e milhões de estudantes circulando todos os dias, muitos em transportes públicos, Doria e seu secretário se revelam como são: inimigos da vida!", declarou.

Na mesma linha foi a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP): "Mesmo com a iminência de colapso do sistema de saúde, João Doria mantém escolas e templos religiosos abertos na fase vermelha anunciada agora. É uma contradição mórbida. Alunos, professores, funcionários e famílias não valem nada para o governador? Aulas se recuperam, vidas não".

Já Daniel Cara, dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, disse que Doria despreza os professores. "João Doria decide que São Paulo entrará em fase vermelha, mas manterá escolas abertas. Chama-se necropolítica. Parece defesa da educação, mas é desprezo pelo professores e pela saúde pública", pontuou.

Confira, abaixo, a repercussão nas redes sobre a manutenção das escolas abertas em São Paulo.

https://twitter.com/vivimendes_sp/status/1367143831464984578
https://twitter.com/samiabomfim/status/1367145679194308608
https://twitter.com/DanielCara/status/1367146889146224645
https://twitter.com/IvanValente/status/1367141008681631746
https://twitter.com/padilhando/status/1367144869630795776
https://twitter.com/MonicaSeixas/status/1367145099587686410
https://twitter.com/CelsoGiannazi/status/1367157709691355136
https://twitter.com/giannazioficial/status/1367146581271719943
https://twitter.com/ToninhoVespoli/status/1367097861561843719
https://twitter.com/IvanValente/status/1367149039167356935
https://twitter.com/padilhando/status/1367151099342381060
https://twitter.com/TatiNefertari/status/1367146507955286019