Em despacho, Moraes aponta relação de Salles com “grave esquema de facilitação e contrabando de produtos florestais”; confira a íntegra da decisão

Relatório do Coaf detectou transações suspeitas envolvendo o escritório de advocacia do qual o ministro é sócio

Ricardo Salles/Divulgação
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O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é alvo de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (19). Entre os crimes supostamente praticados há a prática de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e, especialmente, facilitação de contrabando.

Além dos indícios de ter praticado os crimes acima citados, um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou transações suspeitas envolvendo o escritório de advocacia do ministro, também serviu de base para o ministro do STF, Alexandre de Moraes, a autorizar a operação. Por conta disso, o ministro Ricardo Salles teve os seus sigilos bancários e fiscal quebrado. O STF também determinou o afastamento de dez servidores do ministério e do Ibama.

Na abertura de seu despacho, Alexandre de Moraes afirma que, "De acordo com a representação da autoridade policial, os depoimentos, os documentos e os dados coligidos sinalizam, em tese, para a existência de grave esquema de facilitação e contrabando de produtos florestais o qual teria o envolvimento de autoridade com prerrogativa de foro nessa Suprema Corte, no caso, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles".

Em sua decisão, o ministro Alexandre Moraes escreveu que "a movimentação financeira envolvendo Salles foi extremamente atípica". De acordo com a decisão do Supremo, Salles movimentou R$ 14 milhões entre janeiro de 2012 e junho de 2020, "situação que recomenda, por cautela, a necessidade de maiores aprofundamentos. A representação ainda aponta a possível existência de indícios de participar do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, em razão de comunicações ao Coaf por operações suspeitas realizadas, também nos últimos anos, por intermédio do escritório de advocacia do qual o referido Ministro é sócio", disse Moraes em seu despacho.

O ministro Moraes também lista uma série de crimes de que Salles e outros agentes podem ter cometido: "corrupção passiva, facilitação de contrabando, prevaricação, advocacia administrativa, corrupção ativa, crimes contra a administração ambiental, lavagem de dinheiro, integrar organização criminosa e obstrução de justiça".

O ministro do STF também elenca alguns pontos apontados na representação da Polícia Federal com relação a Salles, a fala do ministro na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, onde ele diz que o contexto da pandemia seria o ideal para "passar a boiada"

Além disso, a representação contra o ministro do Meio Ambiente atenta para o fato de que, após a apreensão de produtos florestais exportados ilegalmente para os Estados Unidos, as empresas responsáveis pela maior parte de cargas exportadas, com o objetivo de "solucionar o problema" buscou apoio junto ao Superintendente do Pará, Walter Mendes Magalhães e ao então Diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas, Rafael Freire de Macedo, ambos nomeados por Ricardo Salles.