Atos golpistas: Governo de SP diz que vai punir policiais que descumprirem normas

Fórum questionou Secretaria de Segurança Pública sobre movimentações de policiais militares para participar de atos bolsonaristas em 7 de setembro e pasta informou que eles são "responsáveis por seus atos e opiniões"

Foto: Eduardo Saraiva/A2IMG
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Nos últimos dias, têm surgido notícias de policiais militares, da ativa e da reserva, convocando seus pares para as manifestações bolsonaristas, de cunho golpista, marcadas para 7 de setembro.

O temor é que a movimentação se dê no âmbito de um golpe em apoio a Bolsonaro e contra instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), visto que essa participação nos atos configuraria, na prática, a presença de grupos armados nos protestos.

O próprio presidente Jair Bolsonaro já confirmou presença nas manifestações, que carregam como pautas, por exemplo, a destituição de ministros do STF, o que é antidemocrático.

A militares da ativa, é vedada a manifestação política. Por este motivo, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afastou na segunda-feira (23) o chefe do Comando de Policiamento do Interior-7, coronel Aleksander Lacerda, após reportagem que mostra que o PM atuava nas redes sociais convocando para atos pró-Jair Bolsonaro pedindo “tanques nas ruas” no dia 7 de Setembro.

Outro coronel da PM paulista, mas este da reserva, também fez postagens de cunho político convocando para as manifestações, e atitudes parecidas de policiais começaram a ser registradas em outros estados.

Já nesta terça-feira (24), o deputado bolsonarista Coronel Tadeu (PSL-SP) ameaçou Doria em vídeo divulgado nas redes sociais e ainda falou que 50 ônibus foram alugados para levar policiais militares do interior do estado para o ato bolsonarista em 7 de setembro na avenida Paulista

“Eu vou ler a Constituição no primeiro momento que estivermos frente a frente. Eu sei que você está fugindo das ruas, Doria. Você é um covarde. Está convidado para ir na avenida Paulista, governador. Está convidadíssimo a andar no meio do povo sem nenhuma agressão e nenhum xingamento. Mas, tem um detalhe: eu não serei responsável pela sua integridade física. Leve seguranças, leve muitos seguranças. Leve um batalhão, dois batalhões. Porque o que você está fazendo é de merecer uma surra no meio da rua", disse o deputado. 

Questionada pela Fórum sobre os ônibus de policiais citados pelo deputado, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) enviou uma nota breve, se limitando a dizer que, se confirmadas denúncias de descumprimento de normas da PM, os agentes serão punidos.

"Os integrantes da Polícia Militar do Estado de São Paulo, compromissados com os valores e deveres da instituição e respeito às leis, são responsáveis pelos seus atos e opiniões quando deles se afastam. Toda e qualquer denúncia de descumprimento das normas vigentes, são rigorosamente apuradas e punidas, se confirmadas", diz a pasta.

Governador da Bahia: "PM não vai entrar em aventura"

Em conversa com jornalistas no início da tarde desta terça-feira (24), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), disse que não acredita que as Polícias Militares embarcarão em uma “aventura” para apoiar manifestações de cunho golpista que estão sendo marcadas por bolsonaristas.

“Eu não acredito em nenhuma hipótese que ninguém vai se meter numa aventura dessa. Não acredito nas forças armadas e muito menos nas polícias militares de se meterem numa aventura desastrosa dessa que basta o caos que o Brasil tá vivendo com mais de 14 milhões desempregados, que a inflação já batendo a nove por cento com a pobreza e a extrema pobreza aumentando. Qualquer aventura dessa seria um caos completo”, disse Rui Costa durante participação em evento de colégio militar em Salvador.

Referindo-se à tentativa de Jair Bolsonaro de promover o “caos” no país, o governador da Bahia afirmou ainda que “o Brasil não é o Afeganistão, não vai virar um Afeganistão e não vai virar um país de décima categoria que qualquer pessoa incompetente, aventureiro vai promover a desordem”.

“Se lá atrás ele [Bolsonaro] tentou explodir um quartel do exército e por isso afastado do exército, hoje ele não vai explodir o Brasil que o povo brasileiro não vai permitir que ele destrua o Brasil, basta esse sofrimento em quatro anos”, completou.

Segundo Rui Costa, casos de policiais que eventualmente desrespeitarem as regras da PM, que impedem manifestação política de militares da ativa “serão tratados dentro da Constituição e da lei”.

Governadores debatem risco de golpe e infiltração nas polícias

Em reunião nesta segunda-feira (23) entre os 24 governadores da federação, os mandatários estaduais se mostraram preocupados com a movimentação de policiais em prol dos atos de apoio a Jair Bolsonaro

“Creiam, isso pode acontecer no seu estado. Aqui nós temos a inteligência da Polícia Civil, que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações e restrições, com emparedamento de governadores e prefeitos”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no encontro.

“Estamos diante de um momento gravíssimo, com constantes ataques à liberdade e à Constituição. Não vamos nos silenciar diante das ameaças aos princípios constitucionais do país”, avaliou o tucano ao término da reunião.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), por sua vez, também tratou da possibilidade de policiais se envolverem em uma intentona golpista.

“Preocupação geral com agressões e conflitos em série, que prejudicam a economia e afastam o país da agenda real: investimentos, empregos, vacinas etc. A democracia deve prevalecer e as polícias não serão usadas em golpes”, declarou o mandatário maranhense.

“Bolsonaro estimula motins para criar o caos”

As notícias que dão conta de policiais e militares envolvidos com as manifestações de cunho golpista convocadas por bolsonaristas para o feriado de 7 de setembro sinalizam que Jair Bolsonaro está estimulando motins nas polícias militares. A opinião é do advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais.

“As atitudes dos dois coronéis não representam o comando geral da PM, nomeado pelo governador João Doria, mas representam alguns oficiais e muitos praças da corporação, que são suscetíveis às influências bolsonaristas, que defendem um país governado por militares e com liberdade para policiais cometerem abusos, corrupção, flagrantes forjados e assassinatos”, disse à Fórum Ariel de Castro Alves.

Na última semana, Castro Alves e o padre Júlio Lancellotti tiveram uma reunião com os comandantes da PM de SP, em que foi discutido “o papel dos policiais em defender o Estado Democrático de Direito e respeitar os Direitos Humanos”.

Segundo Ariel de Castro Alves, esses gestos de policiais convocando para manifestações demonstram que Bolsonaro estimula motins nos quartéis com o objetivo de justificar uma intervenção militar.

“Bolsonaro está estimulando motins e rebeliões nas PMs estaduais e nos quartéis. E que também seus seguidores, membros de clubes de tiro e de colecionadores de armas saiam para as ruas, visando um cenário de confronto e guerra civil com a maioria da população, atualmente contrária ao governo genocida, excludente e incompetente dele”, afirmou o advogado.

“Para depois justificar a intervenção das Forças Armadas, objetivando detonar a democracia brasileira”, completou Castro Alves.

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