Transfobia: Casal é tratado de forma hostil por médica de Aracaju; veja vídeos

“Na cabeça de vocês é uma coisa, na nossa cabeça é outra”, disse a profissional que atenderia paciente que se declara homem trans e está gestante. Hospital Universitário da capital sergipana foi obrigado a se pronunciar

Foto: Isis Broken e Lourenzo Gabriel (Revista Afirmativa)
Escrito en BRASIL el

O jovem Lourenzo Gabriel, que se declara homem trans e está gestante, junto da companheira, a mulher trans Isis Broken, compareceram ao Hospital Universitário de Aracaju, na última sexta-feira (6), para realização de um exame de ultrassom, obrigatório em consultas de pré-natal, mas saíram do local relatando um tratamento transfóbico por parte da médica que os atendeu e de uma paciente que também aguardava no local. As acusações vão além e mostram, conforma uma caderneta de pré-natal, que Lourenzo não teve consultadas realizadas durante o período de gestação.

Em imagens registradas pelo casal e divulgadas no Twitter de Isis Broken, que é cantora, é possível ver primeiro uma médica falando que a transexualidade é algo que pode ser visto de uma forma diferente por cada pessoa.

“A médica falou coisas horríveis comigo. Disse que nossas identidades só estão na ‘nossa cabeça’, uma médica dizendo que ‘na cabeça de vocês é uma coisa, na nossa cabeça é outra’”, contou Isis Broken, em entrevista ao Jornal da Cidade, de Aracaju.

Na sequência publicada no perfil de uma das vítimas, o casal é colocado em outra situação constrangedora, quando a profissional de saúde chega à sala de espera e diz “Quem é Lourenzo? Tá no nome de Lourenzo e não é ele (referindo-se a Isis, que é mulher trans e exige ser tratada pelo pronome ela, no feminino). Vejo o vídeo acessando o perfil abaixo:

https://twitter.com/IsisBroken/status/1423664258554925058

Ainda segundo o casal, uma paciente que estava no hospital aguardando o mesmo exame também agiu de forma hostil com Lourenzo, mandando que ele “abaixasse as calças e mostrasse as partes íntimas para provar que era mulher”.

O Hospital Universitário de Aracaju divulgou uma nota nesta segunda-feira (9) para esclarecer os fatos e alegou que toda a confusão teria acontecido, na verdade, porque Lourenzo teria condicionado a realização do ultrassom à entrada da companheira na sala onde ocorre o procedimento. O HU não faz referência à forma como a médica agiu com o paciente, limitando-se a isentar-se de culpa pelo comportamento da mulher que aguardava atendimento e que desrespeitou o homem trans gestante.

Confira abaixo a nota na íntegra:

“Com relação aos conteúdos veiculados em redes sociais por um paciente do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), vinculado à Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), em relação a um fato ocorrido na tarde da última quarta-feira, 4, no prédio do Anexo Hospitalar, prestam-se as seguintes informações: O paciente Lorenzo compareceu ao Anexo Hospitalar e foi atendido às 11h5h na recepção para dar entrada no sistema, a fim de realizar o exame de ultrassonografia obstétrica, que estava agendado para as 13h do dia 04/08/2021. Após o atendimento, foi encaminhado para aguardar a realização do exame. Ao ser chamado para a sala de exames, para dar início ao atendimento, o paciente condicionou a sua entrada na sala à permanência da acompanhante durante o procedimento.

A profissional médica informou que, por conta das restrições sanitárias impostas pela pandemia, e pela quantidade de pessoas na sala, não seria possível à acompanhante ficar todo o tempo do exame, mas ela seria chamada no final do procedimento para que fosse possível visualizar a respectiva imagem. No entanto, a acompanhante e o paciente não concordaram com o regramento imposto e decidiram não realizar o exame dessa forma. Por outro lado, a agressão verbal ao paciente e à sua acompanhante, divulgada em rede social através de filmagem, foi feita por outra paciente que também aguardava a realização de exame, como consta em nossas câmeras internas de vigilância. O HU-UFS/ Ebserh repudia veementemente a transfobia sofrida por paciente e acompanhante, porém não pode responsabilizar-se pelo comportamento da paciente agressora. O HU-UFS/Ebserh aproveita a oportunidade para comunicar que a regra do serviço deve ser aplicada e respeitada por todos os usuários e usuárias, especialmente as situações pontuais derivadas da pandemia de Covid-19. O serviço prima pelo respeito ao ser humano e não compactua com práticas que desrespeitem os direitos e as individualidades das pessoas. Nesse sentido, coloca-se à disposição das autoridades competentes para que os fatos sejam investigados”.