Nota técnica do Ministério da Saúde diz que cloroquina é eficaz e segura, mas vacina não

Documento, feito para agradar Jair Bolsonaro e suas teses negacionistas, insiste que medicamento perigoso e sem ação contra Covid é o indicado, enquanto imunizantes não funcionariam e seriam risco

Foto: Agência Brasil
Escrito en BRASIL el

Uma nota técnica emitida pelo Ministério da Saúde, produzida para confrontar as diretrizes científicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e agradar as teses negacionistas do presidente Jair Bolsonaro, afirma que o uso de hidroxicloroquina para o combate à Codiv-19 é eficiente e apresenta segurança, enquanto as vacinas que previnem formas graves da doença não teriam a eficácia desejada e seriam inseguras para quem faz uso delas.

O documento é assinado por Helio Angotti, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, uma figura defensora do negacionismo anticiência das hostes bolsonaristas no alto escalão do governo federal, e veio à tona na sexta-feira (21).

A intenção dos autores do texto técnico foi a de refutar as orientações emitidas por especialistas do Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), que declararam a ineficácia dos medicamentos que compõem o chamado kit-Covid, um coquetel de drogas sem ação científica comprovada contra o Sars-COV-2 e que pode provocar efeitos colaterais graves.

A tabela que acompanha a nota técnica diz que a hidroxicloroquina é “barata” e não tem “estudos predominantemente financiados pela indústria”, enquanto a vacina “tem seus estudos bancados” pelas farmacêuticas. No trecho mais inacreditável do documento, na pergunta “há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizado?”, o Ministério da Saúde diz que a cloroquina tem, e os imunizantes não. Na sequência, a questão “há demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais adequados para tal propósito?” é respondida da mesma forma absurda: cloroquina é segura e vacinas não.

Anvisa reage de forma enérgica

Meiruze de Freitas, uma das diretoras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Avisa), reagiu de forma enfática, em nota, às informações sem sentido contidas no parecer emitido pelo Ministério da Saúde.

"Todas as vacinas autorizadas no Brasil passaram pelos requisitos técnicos mais elevados no campo dos estudos clínicos randomizados (fase I, II e III) e da regulação sanitária", contestou.

"Não é esperado e admissível que a ciência, tecnologia e inovação no Brasil estejam na contramão do mundo", afirmou a diretora. "É preciso que todos estejam unidos na mesma direção, ou seja, salvar vidas", enfatizou ainda Meiruze.

Veja a tabela da nota técnica do Ministério da Saúde: