Quatro agricultores pobres mortos e 58 tiros dados por PMs numa plantação de maconha

Caso de Goiás traz à tona mais uma vez o uso totalmente desproporcional de força por parte de agentes de segurança. Familiares dizem que era gente sem nada, que pedia comida e sem armas. Polícia afirma que foi recebida à bala

Dois pés de maconha, um pote com a erva e quatro mortos com 58 tiros em Goiás (Foto: Polícia Civil de Goiás)
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Uma operação realizada por policiais militares entre os municípios de Cavalcante e Colinas do Sul, na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que buscava uma pequena plantação de maconha numa zona rural, terminou com quatro agricultores mortos após os agentes dispararem 58 tiros na abordagem, sem 40 deles de fuzil.

Na versão oficial apresentada pelos PMs, ao se aproximarem de casebres com telhado de palha, após localizarem alguns pés da planta, que é ilegal, tiros foram disparados em direção a eles, que precisaram revidar, atingindo os suspeitos que estavam no local. Os seis agentes afirmaram ao apresentar a ocorrência na delegacia que os feridos estavam com três revólveres, de calibres 38, 32 e 22, e uma espingarda.

No entanto, familiares, amigos e moradores da área, que é extremamente pobre, disseram que as vítimas eram campesinos sem absolutamente nada, que viviam de pequenas atividades agrícolas na região, e que precisavam pedir comida frequentemente nas casas daquela zona rural por não terem sequer o que comer. Sobre as armas, eles afirmam que apenas a espingarda ficava com o grupo, algo comum entre moradores de lugares ermos do sertão brasileiro, frequentemente usada para caçar.

“Eram pessoas que não tinham uma moto, um automóvel, viviam pedindo ajuda para comer, porque na vila de São Jorge a gente é uma família. A gente se ajudava. Quando não tinha dinheiro, dava uns trocados para rastelar. A gente quer Justiça. A gente não vai abaixar a cabeça para isso”, disse uma parente de uma das vítimas, que não quis revelar a identidade por medo de represálias.

“Eles não tinham absolutamente nada a ver com a plantação de maconha. E mesmo o pessoal tendo plantado, não há direito de pena de morte. Eles não tiveram o direito de ser julgados. Precisa usar a palavra “chacina”, porque isso não pode ser normalizado”, revoltou-se Murillo Aleixo, de 33 anos, amigo de duas vítimas, em depoimento à reportagem do site brasiliense Metrópoles.

Quanto à identidade dos mortos, elas foram apresentadas pelas autoridades como Ozanir Batista da Silva, de 46 anos, Salviano Souza Conceição, de 63 anos, que seria o dono da plantação de maconha, e Alan Pereira Soares, de 27 anos. O quarto indivíduo não teve o nome confirmado e moradores de Colinas do Sul disseram que ele era conhecido na região apenas como Chico Kalunga.

O que diz o comando da PM

O comandante do policiamento no município de Niquelândia, responsável pela área e pela realização da operação, subtenente Flávio Taveira Guimarães, disse que foram instaurados procedimentos para a apuração dos fatos e que essa investigação sai do controle da PM. Para ele, familiares defendem os supostos criminosos por conta dos laços afetivos.

“É família! A gente entende o sentimento deles. Quanto à versão da PM, sempre que há confronto é aberto um procedimento investigativo para apurar os fatos. Um fato deste não começa e acaba nas mãos da PM. Existe a atuação de outros órgãos que têm independência de atuação”, falou o militar ao Metrópoles.

Ministério Público

O Ministério Público de Goiás informou que ainda será notificado sobre os fatos e que antes precisa ficar claro de qual unidade do órgão é a responsabilidade pelo acompanhamento do caso, já que o suposto confronto ocorreu numa área limítrofe entre dois municípios.