Na esteira do empobrecimento do Brasil e da devastadora crise econômica e social que já é a maior da história, uma rede de supermercados de Vila Velha, no Espírito Santos, oferece para seus clientes, a “preços convidativos”, bandejas de pele de frango. O subproduto extraído das aves, normalmente descartado em outras épocas, é vendido a R$ 2,99 o quilo e seu consumo em excesso é altamente prejudicial à saúde por ser rico em gorduras.
“Boa tarde! Eu vivi pra isso, viu? O mundo realmente tá muito difícil e a gente vai trabalhar pra sobreviver, porque viver não vai dar, não. Olha isso aqui... Pele de frango, coisa que a gente limpa as galinhas e joga as peles fora... Outras pessoas até fritam pra aproveitar a gordura, né... Porque o óleo tá caro. Agora, você comprar pele de frango pra comer? Gente, isso aqui a gente jogava fora, ou pelo menos eu... Jogo fora ou frito pra aproveitar a gordura... Se já não bastasse o pé de galinha que estão vendendo aqui no mercado, e que é caro, agora tá vendendo o quê? Pele de frango!”, diz a consumidora indignada que registrou as imagens e divulgou nas redes sociais.
Cardápio da miséria de Bolsonaro
Um supermercado de Belém, no Pará, está vendendo restos de peixe (vísceras, espinhas e cabeças) a R$ 3,90 o quilo. O “produto” é apenas mais um no rol de sobras e resíduos de baixíssima qualidade que vêm dominando as prateleiras do comércio de alimentos em todo país por conta do empobrecimento em marcha acelerada da população imposto pelo governo Bolsonaro.
Na imagem que circula nas redes sociais, um invólucro de isopor envolto em plástico filme mostra uma mescla de pele, cabeça, sangue e espinhas devidamente etiquetado, ao preço de R$ 2,01, por pouco mais de 500 gramas. Os comentários dos internautas que se deparam com a foto absurda são de indignação e protesto.
Em açougues do Rio de Janeiro e de Cuiabá (MT), filas imensas se formam para que as pessoas recebam como esmola os vergonhosos ossos bovinos. Mesma sorte não tiveram os catarinenses, que precisam pagar R$ 4 no quilo do “produto”. Em Niterói, “sambiquira”, ou “dorso”, eufemismos para a carcaça que sobra dos frangos, vêm sendo vendidos por R$ 8,69.
Numa rodovia que corta o estado do Mato Grosso, próximo ao município de Várzea Grande, o que chama a atenção é a placa ofertando pelanca a R$ 0,99. A imagem embrulha o estômago porque nos leva a pensar em como alguém consumiria tal coisa.
A vergonhosa fila dos ossos
Em julho de 2021, uma trágica fila com centenas de pessoas, em Cuiabá (MT), debaixo de sol inclemente, se formou para desesperadamente aguardar uma doação de ossos que iriam para o lixo de um grande açougue da cidade. O fato dispensa contextualização acadêmica. É miséria pura, aos olhos do mundo. Vários episódios da mesma natureza se multiplicam por todo o país.
A miséria normalizada é uma fotografia que materializa os dados divulgados em abril de 2021, fruto de um estudo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça, da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB): 59,4% dos lares brasileiros apresentaram algum nível de insegurança alimentar.
125 milhões de seres humanos no Brasil, num universo total de 212 milhões de habitantes do país, não podem se alimentar adequadamente. Entre eles, 13%, ou seja, 27 milhões, vivem neste momento em miséria absoluta, sem nada, ao Deus dará, famintos, sem casa, sem água, sem coisa alguma.
Inflação dos alimentos
Com a inflação batendo recordes, o ano de 2021 registrou um índice de 10,06%. No caso dos alimentos, o impacto foi muito maior: 21,39% desde o início da pandemia, para os gêneros alimentícios como um todo, ainda que o aumento seja mais sentido em alguns produtos.
Dados do IPCA apontam para o aumento de 15% no valor das carnes em 12 meses. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de carne vermelha no Brasil é o menor dos últimos 26 anos. O preço do ovo também subiu no período; a variação foi de 17% segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV.
O consumo de ovos no Brasil, que já havia aumentado em 2020, voltou a crescer em 2021 e estabeleceu um novo recorde. Com a alta no preço da carne vermelha, os ovos se tornaram a principal alternativa para quem não tem dinheiro, segundo a leitura dos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).