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"Tiraram o sustento dos meus filhos", diz mãe solo que teve carro queimado por terroristas

Gabriela Braga é maquiadora e, com os atos terroristas promovidos por bolsonaristas em Brasília, perdeu o carro, antigo e sem seguro, e seu material de trabalho; "Sentimento de tristeza", disse à Fórum

Gabriela Braga, mãe solo de 2 filhos, teve carro incendiado por bolsonaristas em Brasília.Créditos: Reprodução
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Os atos de terrorismo promovidos por bolsonaristas na última segunda-feira (12) em Brasília deixaram um rastro de destruição e causaram prejuízos não só materiais, como também psicológicos, a inúmeras pessoas. Uma dessas vítimas dos radicais apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) é a maquiadora Gabriela Braga, que teve seu carro totalmente incendiado e destruído

Após tentarem invadir a sede da Polícia Federal, os bolsonaristas passaram a aterrorizar a cidade, depredando comércios e incendiando carros e ônibus. Um desses veículos era de Gabriela, que estava jantando com uma amiga no Setor Hoteleiro Norte após ter atendido uma cliente na Asa Sul. 

À Fórum, a maquiadora contou que, do local onde estava jantando, pôde avistar a ação dos vândalos bolsonaristas, quando de repente viu que um dos incêndios era justamente em seu carro que estava estacionado em um local próximo. 

"Antes de colocarem fogo no meu carro, eu já tinha visto eles arrancando placas, jogando bombas, abrindo depósito de gás de um posto e tirando os botijões para jogar pela pista... Colocaram fogo em um ônibus, em outro carro no posto de gasolina... Foi quando eu liguei para a minha mãe em desespero e, quando olhei para o lado, vi aquele fogo no meu carro. Aí desesperei", relatou Gabriela

Carro de Gabriela totalmente carbonizado após ação dos bolsonaristas (Arquivo Pessoal)

O veículo de Gabriela era antigo e não tinha seguro. Dentro do carro, a maquiadora levava materiais que utilizava em seu trabalho - que foram totalmente destruídos. Ela é mãe solo de dois filhos e dependia do veículo não só para se locomover como para visitar suas clientes, trabalhar e, assim, sustentar sua família. 

Através das redes sociais, aos prantos, Gabriela desabafou. "Com esse carro eu ia até as minhas clientes. Não tiraram apenas o meu carro, mas também tiraram minha fonte de renda, o meu sustento e o sustento dos meus filhos. É revoltante passar por isso! Injusto. Tenho a sensação de impotência", disse. 

Justiça 

Gabriela contou à Fórum que, após ver seu carro queimado - o veículo foi totalmente destruído -, registrou um Boletim de Ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia Civil de Brasília e que espera, agora, que as autoridades localizem os bolsonaristas que participaram da ação criminosa. 

"Eu não apoio nenhum tipo de vandalismo. No momento que vi meu carro pegando fogo, sem poder fazer nada, com medo de danos à minha própria vida, me senti totalmente impotente. O sentimento é de tristeza. Fico muito triste com tudo isso que está acontecendo. Espero que os policiais encontrem esses vândalos e que eles possam ser punidos da maneira correta."

A maquiadora afirmou, ainda, que está com medo, até pelo fato de que os bolsonaristas estão encampando estes atos criminosos antes mesmo da cerimônia de posse do presidente eleito Lula (PT), marcada para 1º de janeiro. "Eu fico com medo. Se nem aconteceu a posse ainda e já aconteceu esse tipo de atitude... É assustador mesmo", afirmou. 

"No tempo que o ônibus e meu carro pegaram fogo, foram mais ou menos uns 20 minuto. A gente não viu nenhum tipo de policial por perto. Demorou muito pra chegar", revelou.

Solidariedade 

Após o ocorrido, uma rede de solidariedade se formou para que Gabriela volte a trabalhar e adquira um novo carro. Amigos organizaram uma vaquinha online pedindo doações financeiras que serão repassadas integralmente à maquiadora. 

"Tive muito apoio de maquiadoras, empresas de maquiagem aqui de Brasília e até outros lugares do Brasil. Vou conseguir voltar a trabalhar e a vaquinha vai indo muito bem graças a Deus."

Ninguém foi preso

Apesar da gravidade dos atos promovidos por bolsonaristas em Brasília, a secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que ninguém foi preso pois as forças policiais teriam se concentrado no trabalho de dispersão, e que agora os envolvidos estariam sendo identificados para que inquéritos sejam abertos. 

Em pronunciamento no Centro Cultural Branco do Brasil (CCBB) em Brasília, centro do gabinete de transição, nesta terça-feira (13), Flávio Dino, futuro ministro da Justiça do governo Lula (PT), disse que é preciso "modular corretamente" o ocorrido pois "esses grupos extremistas não tiveram, não têm e não terão força para vencer o povo brasileiro". Ele afirmou que o governo do Distrito Federal vem atuando em conjunto com a Polícia Federal para tomar medidas cabíveis sobre os crimes cometidos pelos bolsonaristas, adicionando que "o que pode ser feito agora, está sendo feito". 

Na sequência, garantiu: "Agora, no dia 1º de janeiro de 2023, aquilo que não pôde ser feito nesses 15, 20 dias, será feito, porque não é apenas uma orientação política democrática, é o imperativo da lei".