VACINA CONTRA COVID

Anvisa: Barra Torres apresenta dossiê com mais de 400 ameaças de morte contra servidores

Diretor-presidente da Anvisa participou de audiência no Senado em que relatou as intimidações após a agência aprovar a vacina infantil contra a Covid

Barra Torres, da Anvisa, em audiência no Senado.Créditos: Foto: Pedro França/Agência Senado
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Em audiência na Comissão de Direitos Humanos do Senado, nesta quarta-feira (16), o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)Antonio Barra Torres, apresentou aos senadores um dossiê com 458 ameaças de mortes e intimidações feitas contra servidores do órgão por conta da aprovação da vacina infantil contra a Covid-19

Essas ameaças partiram, principalmente, de bolsonaristas que, incentivados pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL), se colocam contra a vacinação de crianças - que é segura e eficaz para o combate à pandemia. 

 

A aprovação da dose infantil contra a Covid, por parte da Anvisa, se deu 16 de janeiro. "Nas primeiras 48 horas após a aprovação das vacinas, o número de ameaças por e-mail — e-mails intimidadores, termos agressivos —, ultrapassou 124, para ser preciso. Ou seja, saltamos de 3 antes da reunião para 124", relatou Barra Torres, reforçando que, atualmente, os servidores do órgão "não têm segurança para trabalhar". 

Essas ameaças, que continuam chegando, têm sido encaminhadas, segundo Barra Torres, à Polícia Federal, ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério da Justiça.

Ao longo da audiência, Barra Torres disse, ainda, que as fake news sobre as vacinas difundidas a partir da narrativa de Bolsonaro prejudicaram a imunização e resultaram em mais mortes. Ele reforçou que medicamentos como cloroquina, propagandeados pelo presidente, não têm efetividade alguma contra a Covid, refutando a nota técnica do ministério da Saúde que colocou esses remédios como mais efetivos que os imunizantes. 

"A autoridade máxima de classe dos imunologistas [Sociedade Brasileira e Imunologia] transmitiu parecer contrário [à nota técnica do Ministério da Saúde]. Conass e Conasems também se manifestaram publicamente em discordância ao teor da nota. Me parece que perdemos um tempo precioso, que poderia estar voltado para enfrentar a pandemia, que ainda não acabou, e infelizmente damos ouvidos a essas complicações", atestou. 

À Fórum, o senador Humberto Costa (PT-PE), que conduziu a audiência, afirmou que a sessão foi "muito proveitosa" e que ficou claro que "a grande produção de notícias falsas, feitas por Bolsonaro e seus apoiadores, têm o objetivo de impedir a continuidade do enfrentamento à pandemia". 

Pandemia não acabou 

O diretor-presidente da Anvisa fez questão, durante a audiência no Senado, de reforçar que a pandemia do coronavírus ainda não acabou. 

Ele fez uma analogia com acidentes de avião para elucidar o quanto os números da Covid ainda devem preocupar. Segundo Barra Torres, nos últimos 15 dias a Covid matou o equivalente à 63 quedas de aviões - mais de 12 mil mortes. 

"Até hoje nós falamos do voo da Air France. Isso é marcante e a Covid-19 não é. O que a gente não se dá conta é de que todos os dias há aviões que estão caindo em território nacional. É razoável dizer que a pandemia está acabando?”, questionou.