Bolsonaro manda Ministério da Justiça investigar manifestantes que entraram em igreja de Curitiba

Protesto contra o racismo e por justiça ao congolês Moïse gerou polêmica, mas arquidiocese local já organizou ato conjunto com os mesmos manifestantes para selar a paz

Ato antirracista e por justiça a Moïse em igreja de Curitiba (Foto: Reprodução/Instagram)
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou, nesta segunda-feira (7), que mandou o Ministério da Justiça investigar os manifestantes que fizeram protesto no último sábado (5), na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, em Curitiba (PR).

O protesto em questão tinha como mote a pauta antirracista e pedia justiça ao congolês Moïse Kabagambe, assassinado de maneira brutal no Rio de Janeiro. Os manifestantes chegaram a entrar na igreja, o que gerou discussão nas redes sociais e até mesmo uma nota de repúdio da arquidiocese local.

Através das redes sociais, Bolsonaro chamou os manifestantes, em sua maioria militantes de esquerda, de "marginais". "Acreditando que tomarão o poder novamente, a esquerda volta a mostrar sua verdadeira face de ódio e desprezo às tradições do nosso povo. Se esses marginais não respeitam a casa de Deus, um local sagrado, e ofendem a fé de milhões de cristãos, a quem irão respeitar?", escreveu.

"Acionei o @JusticaGovBR e o @mdhbrasil para acompanharem o caso, de modo a garantir que os responsáveis pela invasão respondam por seus atos e que práticas como essa não ganhem proporções maiores em nosso país", prosseguiu o chefe do Executivo.

Igreja já dialogou com os manifestantes e marcou ato conjunto

Apesar da investida de Jair Bolsonaro contra os manifestantes, a Arquidiocese de Curitiba, que havia divulgado nota de repúdio contra o protesto, já dialogou com os organizadores da manifestação e organizou um ato conjunto "pela paz" no próximo sábado (12).

O vereador Renato Freitas (PT-PR), que participou da manifestação, firmou que o protesto foi pacífico e que os manifestantes entraram na igreja quando a missa já havia acabado. “Gostaria de ressaltar que não houve invasão a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, pois ela se encontrava aberta e a missa já havia terminado (…) Entramos na Igreja como parte simbólica da manifestação e de forma pacifica enfatizamos que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida, todas as vidas, inclusive as negras”, escreveu o vereador através das redes sociais.

Após a polêmica, o petista se reuniu com pessoas responsáveis pela administração da igreja, bem como auxiliares do padre e da arquidiocese, e combinaram o ato conjunto do próximo sábado. Segundo ele, haverá uma atividade junto à população de rua “para estreitar os laços, evitar conflitos e ampliar o diálogo”. O ato está previsto para começar às 17h.

A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito foi construída 1737 por negros e para os negros, já que eles não podiam frequentar as igrejas dos brancos. “Então essa igreja tem um valor simbólico enorme pra gente. Por isso a gente entrou e reivindicou a valorização da vida”, disse ainda Renato Freitas.

PT lamenta, mas diz que não houve invasão

Em nota divulgada nesta segunda-feira (7), o PT do Paraná informou que não participou do protesto na igreja e que "lamenta" o ocorrido.

Confira a íntegra.

Nota do PT-PR: Respeito pelas instituições religiosas e Justiça pela barbárie contra o povo negro

No dia 05 de fevereiro de 2022, aconteceu em Curitiba uma manifestação convocada por Movimentos Sociais, para repudiar o brutal assassinato de Moïse Kabagambe, ocorrido em 24 de janeiro no município do Rio de Janeiro. Moïse era um jovem congolês, refugiado no Brasil, país no qual, junto de sua família, buscou amparo e melhores condições de vida. O jovem foi espancado até a morte por reivindicar salário que estava em atraso. Foi vítima de racismo, xenofobia e aporofobia, por algozes que continuam a reproduzir a ideologia escravagista.

No último sábado, aconteceram em diversas cidades do país, e até mesmo de outros países, manifestações para cobrar justiça e denunciar o racismo estrutural que lamentavelmente faz parte de nossa sociedade.

Em relação ao ato público que ocorreu em Curitiba, a Comissão Executiva Estadual do PT do Paraná lamenta o episódio e esclarece que não participou nem da organização nem da decisão de adentrar o templo religioso.

Há, por parte da imprensa tendenciosa, a manipulação de fatos para prejudicar o Partido dos Trabalhadores, pois os vídeos evidenciam que no momento em que os manifestantes estiveram no interior da paróquia, a missa já havia terminado e o templo estava vazio.

Aproveitamos para reafirmar nosso compromisso com o direito à vida e contra toda e qualquer forma de discriminação. Defendemos a liberdade de expressão, nos solidarizamos com a família de Moïse e repudiamos o racismo e a xenofobia que devem ser extirpados de nossa sociedade, com uma luta diária e permanente, que deve contar com o afinco de todos e todas.

O PT é defensor histórico da liberdade religiosa, aliás, entre outras frentes de luta, o PT nasceu dentro das comunidades eclesiais de base e das lutas pastorais, que é um partido plural e que reconhece na CNBB uma importante aliada no combate ao discurso de ódio e de intolerância que estão impregnados em nossa sociedade.

Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores do Paraná

Arilson Chiorato, presidente do PT-PR

Angelo Vanhoni, presidente do PT Curitiba