BOLSOLÃO DO MEC

Pastor do MEC mostrou barra de ouro, dizem funcionários de hotel onde ocorriam reuniões

Relato foi feito ao diário Folha de S.Paulo. Empregados do Grand Bittar falaram ainda que religiosos bolsonaristas ficavam hospedados no local sempre, que conheciam seus hábitos e que presenciavam entra e sai de prefeitos

Imagem ilustrativa (Toronto Gold Exchange/Reportagem).
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Funcionários de um hotel da Brasília, o Grand Bittar, usado como “quartel general” dos pastores evangélicos que atuavam num gabinete paralelo do Ministério da Educação (MEC), sob os auspícios do ministro Milton Ribeiro e do presidente Jair Bolsonaro, conforme áudios revelados, determinando quem teria direito a verbas públicas e acusados de cobrar propina por isso, disseram à reportagem do diário conservador paulista Folha de S.Paulo que um dos clérigos, Arilton Moura, já era conhecido de todos no estabelecimento, tamanha a frequência com que se hospedava por lá, e que chegou a mostrar, em meados de 2021, uma barra de ouro que carregava no bolso.

Segundo os empregados, a assiduidade de Arilton Moura e Gilmar Santos era tão grande que eles conheciam até os hábitos alimentares dos pastores, além de terem se acostumado às “reuniões” feitas no hotel, bem como o entra e sai de prefeitos e secretários de Educação de todo o Brasil, recebidos pela dupla lá. Os bolsonaristas fundamentalistas evangélicos, conforme a versão dos funcionários, se gabavam do poder que exerciam na administração federal.

Acusação de pedir ouro como propina

Os indícios de corrupção no Ministério da Educação que vieram à tona com a informação de que o ministro Milton Ribeiro mantém um "gabinete paralelo" de pastores na pasta foram reforçados nesta terça-feira (22) a partir de denúncia feita por Gilberto Braga (PSDB), prefeito de Luis Domingues (MA), ao jornal o Estado de S.Paulo..  

Segundo Braga, o pastor Arilton Moura o pediu propina de 1 quilo de ouro para liberar recursos MEC destinados à construção escolas e creches em sua cidade.  

"Ele (Arilton Moura) disse: ‘Traz um quilo de ouro para mim’. Eu fiquei calado. Não disse nem que sim nem que não (...) Ele disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar (a demanda no MEC). E na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”, relatou o prefeito ao periódico paulista. 

A solicitação do pastor teria ocorrido em abril de 2021 durante um almoço em Brasília, logo após uma reunião com o próprio ministro Milton Ribeiro, dentro do MEC. 

Pastor abriu duas empresas com R$ 450 mil

O pastor evangélico Gilmar Santos, um dos acusados de comandar o gabinete paralelo que determinava a distribuição de verbas públicas do Ministério da Educação (MEC), mediante pagamento de propina, num escândalo que trouxe à baila um esquema ilegal e criminoso supostamente operado pelo ministro Milton Ribeiro, com anuência do presidente Jair Bolsonaro, segundo áudios divulgados, abriu duas empresas no valor total de R$ 450 mil neste mês de março.

De acordo com documentos aos quais o portal g1 teve acesso, Santos abriu uma editora e uma faculdade com R$ 350 mil e R$ 100 mil de capitais, respectivamente, em 8 de março, ou seja, duas semanas atrás. O Instituto Teológico Cristo Para Todos (ITCT) foi registrado num endereço do bairro Jardim América, em Goiânia, enquanto a empresa de publicações, sem nome, teve sua sede registrada no município de Aparecida de Goiânia, ambos no estado de Goiás.

No local onde deveria funcionar a faculdade, há um pequeno edifício em construção, bem ao lado da sede da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil (Conimadb). Já no endereço da editora, fora da capital goiana, há uma unidade da Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos. Vizinhos da localidade disseram à reportagem do g1 que jamais viram qualquer atividade relacionada a livros ou jornais na igreja.