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Ratanabá: de onde surgiu a história delirante da cidade submersa na Amazônia

Pai da descoberta fake é o mesmo que anos atrás disse que conversava com o extraterrestre Et Bilú e chegou a ser recebido por Mario Frias, ex-secretário da Cultura de Bolsonaro

Escrito en BRASIL el

Um dos assuntos mais comentados nas redes sociais nos últimos dias é uma tal descoberta de uma cidade submersa na Amazônia. Impressionantemente, o assunto viralizou seja no Twitter ou no tik tok. Trata-se de Ratanabá, que teria sido descoberta por um instituto chamado Dakila Pesquisas, que não tem qualquer vinculação com institutos de pesquisas de universidades ou órgãos oficiais e nem artigos em publicações científicas.

Desde o início do mês os ditos pesquisadores da Dakila têm divulgado o anúncio da chamada “cidade perdida” há 450 milhões de anos. Nenhum deles têm currículo Lattes ou dizem quais são suas formações que levariam à tamanha descoberta. Fazendo uma pesquisa na internet logo se descobre os ideais da Dalika: defender a terra plana, que a Amazônia não queima, e atuar contra a vacina. Dizem-se cientistas, mas são contra a ciência.

O CEO ou líder do instituto é Urandir Oliveira. Assim, ele é definido no site do instituto: “'A história do mundo é apenas a biografia de grandes homens'. Seus feitos, suas conquistas e as marcas que eles deixam na humanidade constroem as pontes que a levam adiante. Esta é a história de Urandir."

Um dos feitos de Urandir foi em 2010, quando ele chegou a ser destaque no jornalismo “investigativo” da Record que exibiu no horário nobre da emissora uma reportagem onde afirmava realizar sessões de “conversa” com um extraterrestre chamado “ET Bilu”.

Oliveira chegou a ser homenageado pela Assembleia de Legislativa do Mato Grosso do Sul  e recebeu o título de cidadão campo-grandense na Câmara Municipal.

Sua tese de que a “Amazônia não queima” chegou a ser levada por Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Anual da Organização das Nações Unidas – ONU de 2020. Ele repete a teoria em relação ao Pantanal. 

A descoberta de Ratanabá, no entanto, não é nova. Há mais de 10 anos o CEO vem falando dessa cidade. Segundo os pesquisadores da Dakila, Ratanabá é o real interesse dos estrangeiros do Brasil, das Ongs internacionais e até de Elon Musk. Todos estariam atrás desse grande tesouro soterrado.

Urandir chegou a ser recebido pelo ex-secretário da Cultura de Bolsonaro Mario Frias em Brasília em 2020.

Antivacina e terraplanista, entre as teses de Urandir Oliveira: a pandemia é uma arma biológica e 87% da população mundial tem uma limitação intelectual e por isso se vacina.

Agora por que Ratanabá voltou com força nesta semana? Talvez porque Dom Phillips e Bruno Pereira ainda estejam desaparecidos na Amazônia. E não, eles não estão na cidade soterrada. E Bolsonaro não tem feito esforços para encontrá-los, como denunciou a ONU.

Para Felipe Neto, essa história é coisa de gente louca. “Que possam existir registros de civilizações antiga, ok... Mas daí a criarem teoria da conspiração de que Elon Musk, ONGs e bilionários pelo mundo querem explorar a cidade de 450 milhões de anos submersa na Amazônia... Isso é coisa de gente com parafuso a menos”, escreveu. Pois é, e são os que acreditam na mamadeira de piroca.