ELEIÇÕES 2022

Grupos de fake news pró-Bolsonaro são perigosos e organizados, diz Lola Aronovich

Dois jornalistas do site Congresso em Foco que denunciaram a atuação do bando, foram ameaçados de morte e tiveram dados pessoais vazados. A professora e ativista Lola Aronovich é perseguida há 11 anos pelo mesmo grupo

Lola AronovichCréditos: Reprodução / Divulgação redes sociais
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Dois jornalistas (editora e repórter) do site Congresso em Foco foram ameaçados de morte e tiveram dados pessoais vazados por seguidores de Jair Bolsonaro que integram um grupo de produção e disseminação em massa de fake news a favor do presidente República.

O repórter Lucas Neiva investigava o bando e suas operações em fóruns anônimos da internet, os chamados “chans”. Os autores das notícias falsas e das ameaças operavam a partir de um dos “imageboards” mais conhecidos do país, o “1500chan”.

Segundo a matéria publicada pelo Congresso em Foco e assinada por Neiva, os bolsonaristas do submundo das redes tratavam abertamente de estratégias para atacar Lula e a esquerda, com informações falsas que teriam o intuito de isentar o atual presidente de tudo que vem acontecendo no Brasil.

Ao tomarem conhecimento da publicação da reportagem, identificando o grupo e suas intenções, Neiva então foi alvo de mensagens no próprio “imageboard”, em tom intimidador. “Parece que alguém vai amanhecer morto” e "Eu ri do jornalista esfaqueado em Brasília e queria que acontecesse mais” foram algumas das ameaças dirigidas ao repórter.

Um outro autor do “chan” formado por bolsonaristas, em tom ainda mais agressivo, escreveu um texto sobre o ódio que tem de jornalistas e da imprensa.

As ameaças foram registradas pelo jornalista neste domingo (5) em um boletim de ocorrência na 9ª Delegacia de Polícia de Brasília. 

a editora do Congresso em Foco Insider, Vanessa Lippelt, igualmente autora de reportagens investigativas foi ameaçada de estupro, além da dor de cabeça de ter seus dados pessoais vazados. 

"A canalhice da extrema-direita não tem fim. Me ameaçaram de estupro no 1500chan e vazaram meus dados pessoais.  Repito: não tenho medo de incels que se escondem sob o anonimato de um fórum", tuitou. 

Em uma outra publicação, Vanessa afirmou que o grupo colocou uma imagem com uma máscara de ferro no chan, para facilitar o anonimato e subir o tom  das ameaças.  "Só que estou recebendo prints de tudo, de algumas fontes. Tudo indo para a polícia", avisou.

A professora e ativista Lola Aronovich, autora de um dos blogues feministas de maior expressão no Brasil, o Escreva Lola Escreva explica que os chamados "channers" sempre foram eleitores fieis de Bolsonaro.

 "Em 2010, quando ele ainda era um deputado caricato que falava barbaridades em programas de TV, ele já era o candidato dos sonhos dos chans a presidente", relembra. 

Lola Aronovich que é perseguida e ameaçada por esses grupos nazistas e misóginos há 11 anos se solidarizou aos jornalistas do Congresso em Foco.  "Minha solidariedade aos jornalistas Lucas Neiva e Vanessa Lippelt, que vêm sendo ameaçados pelo 1500 chan", disse.

Uma dessas ameaças à feminista resultou na prisão do líder de um dos chans, Marcelo Valle Silveira Mello. Na época, ele havia solicitado a outro integrante do grupo, Breno Alves da Silva, para produzir vídeos difamatórios contra a professora e ativista.

O homem que está preso desde maio de 2018 por associação criminosa, racismo, divulgação de pornografia infantil, na Penitenciária de Segurança Máxima em Campo Grande (MS).  Ele foi condenado a 41 anos de prisão.

"A coisa mais básica que os chans fazem é o doxxing, que é descobrir todos os dados pessoais de alguém e de algum familiar para poder ameaçar e tentar atrapalhar a vida daquele alvo", explica. 

No ano passado, a professora e ativista foi atacada mais uma vez. "Entraram no meu cadastro no SUS e me mataram. Para channers é muito mais fácil atacar mulheres, já que são misóginos (e racistas). 

O mínimo que fazem é colocar o nome e telefone da vítima em sites de prostituição ou de swing. Quando atacam homens, inventam denúncias de pedofilia contra eles e buscam ameaçar as mulheres das suas vidas, como as  esposas, mães, filhas", descreve. 

Lola Aronovich explica que o chans atuaram fortemente para eleger Donald Trump em 2016.  Após a derrota para Joe Biden, a invasão frustrada do Capitólio em janeiro do ano passado, também contou as digitais do grupo de extrema-direita. 

"Por aqui no Brasil os chans, que copiam os modelos e vocabulário dos EUA, além de serem fábricas de fake news, servem para aterrorizar e tentar calar mulheres, principalmente feministas, ativistas em geral, jornalistas". 

A professora e ativista ressalta a importância de investigar esses grupos de pessoas que se camuflam no anonimato para insuflar ataques e perseguir ativistas, jornalistas e personalidades progressistas.

"Quando não estão atacando gente ou criando mentiras, estão planejando massacres a escolas e universidades ou idolatrando quem faz isso, buscando assim recrutar e incentivar outros membros a cometerem atentados. São grupos de ódio, grupos terroristas, e bastante organizados. Engana-se quem pensa que é "brincadeira de moleque", alerta.