SUSTENTABILIDADE

Instituto Brasil-Israel lançará projeto ambiental liderado por uma judia negra

"A pauta ambiental nunca estará desconectada da luta contra o antissemitismo, o racismo, o machismo e todas as formas de discriminação”, afirma Ana Beatriz Prudente Alckmin, que está à frente do projeto

Ana Beatriz Prudente Alckmin está à frente de projeto ambiental do Instituto Brasil-Israel.Créditos: Arquivo Pessoal
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Tratar das pautas ambientais é urgente. O planeta está chegando ao seu limite e à escassez de seus recursos naturais, e todos esses problemas têm relação com o ser humano. Um desastre ambiental provoca alterações negativas no meio ambiente, como a desestabilização da fauna e da flora, além de causar a morte de centenas de pessoas e obrigar o deslocamento de populações inteiras.

Um dos maiores acidentes ambientais do nosso país foi o rompimento da barragem de Mariana (MG), onde os rejeitos de mineração da empresa Samarco cobriram uma cidade inteira. A barragem se rompeu no dia 5 de novembro de 2015 e liberou cerca de 50 milhões de metros cúbicos de lama, que devastaram os distritos próximos à região, como Bento Rodrigues. Seu rompimento causou a morte de 19 pessoas e deixou aproximadamente 600 desabrigadas. Segundo a Samarco, a lama não era tóxica, mas o excesso de resíduos liberados desencadeou a morte de inúmeras espécies, tanto terrestres quanto aquáticas, e também causou alterações no Ph das águas dos rios atingidos.

O desastre ambiental mais recente do Brasil completou três anos em 25 de janeiro de 2022 e ocorreu na cidade de Brumadinho (MG). O rompimento de outra barragem, desta vez da empresa Vale, fez com que rejeitos da mina do Córrego do Feijão transbordassem e com que ela se rompesse. Este acidente provocou a morte de 272 pessoas e uma série de danos irreversíveis à natureza. A ruptura da barragem que aconteceu em 2019 despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do rio Paraopeba, fazendo com que mais de 600 mil pessoas tivessem o abastecimento de água comprometido, já que muitos municípios dependem do rio Paraopeba, inclusive a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Além disso, a lama percorreu mais de 300 km, afetando 18 municípios e atingindo aproximadamente 944 mil pessoas.

Infelizmente, os dois casos citados acima são de desastres ambientais causados pelo homem e poderiam facilmente ter sido evitados. Esses eventos trouxeram inúmeros efeitos negativos para nossa sustentabilidade, os resultados desses casos proporcionam juntos uma abundância de prejuízos ambientais que podem demorar anos até voltarem a ser o que eram ante. Eles também geram um impacto negativo em grande escala para a nossa sociedade, a nossa economia e, principalmente, para a nossa cultura.

Refletindo sobre esses momentos históricos pelos quais nosso país passou, percebemos que o foco sobre sustentabilidade ambiental deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade. A partir disso, o Instituto Brasil-Israel (IBI) tomou uma iniciativa inédita de apostar na criação de sua primeira startup ambiental. Karina Stange Calandrin, Coordenadora Geral de Projetos do Instituto Brasil-Israel, diz: “A importância se dá principalmente na aderência dos valores judaicos, como o Tikun Olam, em relação à questão ambiental. O IBI é uma organização e, apesar de não ser religiosa, ela está totalmente alinhada com os valores judaicos, nada mais natural do que incorporar as questões ambientais às nossas frentes de trabalho, nos nossos programas e projetos do IBI.”. Mas a aposta vai além, já que pessoa escolhida para liderar o projeto é uma ativista ambiental judia e negra.

Ana Beatriz Prudente Alckmin Zamboni foi escolhida para liderar o projeto por sua história com o ativismo ambiental e por seu interesse e entusiasmo sobre o tema agro sustentabilidade. Além de ter realizado inúmeras participações como comentarista convidada de pautas ambientais pelo canal AgroMais e na Rádio BandVale, sua relação com o meio ambiente não está ligada apenas às causas naturais. Ana também conduz uma introdução às pautas sobre a produção agrícola sustentável e, como educadora ambiental, ajuda corporações e pequenas e grandes empresas a mudarem suas culturas e inserirem práticas mais sustentáveis aos seus ideais. Por esses e outros motivos ela foi a escolhida para estar à frente deste projeto. 

Ana, uma mulher negra que acredita nos valores judaicos e na sustentabilidade ambiental do país, é ambientalista, educadora de agro sustentabilidade e colunista na revista Fórum. 

Hoje, atua como gestora do projeto Zerah do Instituto Brasil-Israel, visando servir a ecossistemas e comunidades que precisam de apoio para a prática da sustentabilidade, além de trabalhar as imersões na pauta ambiental e ecológica. Em maio de 2022, Ana Beatriz formalizou sua conversão ao judaísmo, ao ser aprovada pelo tribunal rabínico da Congregação Israelita Paulista, mas vive na comunidade judaica desde a infância. Para poder trabalhar a educação ambiental de forma objetiva, entrou no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo, acreditando em movimentos feministas e de combate ao antissemitismo, tendo sido uma das fundadoras de um coletivo judaico uspiano.

Conversamos com Ana Beatriz Prudente Alckmin sobre o novo projeto do IBI. Confira os principais trechos da conversa: 

“Sou ativista pelo Meio Ambiente e, dentro dessa construção, existe a produção de artigos e matérias relacionadas à pauta ambiental, portanto um jornalismo ambiental. Dentro do meu trabalho de educação ambiental, ajudo os empreendedores a levarem as práticas sustentáveis para dentro da sua própria produção e ambiente corporativo. Outra vertente é a minha preocupação com crianças e adolescentes para que vivam e tenham experiências positivas ligadas ao meio ambiente.

É importante saber que o Zerah é conduzido por uma mulher negra e judia, que traz os valores judaicos para dentro do universo ambiental, mas sempre pensando que dentro dos meus valores judaicos há o respeito pelo meio ambiente, pela terra e principalmente pelos ciclos da natureza.

O próprio calendário judaico se baseia na relação com o planeta, nos movimentos da Lua e do Sol, sendo, portanto, um calendário lunissolar. Dessa forma, os meses são contados a partir dos ciclos lunares, e os anos a partir dos ciclos solares. Portanto, os anos podem variar de 12 a 13 meses, com 29 ou 30 dias. A fim de regular essa diferença, eles criaram anos bissextos, que, de tempos em tempos, incluem um mês. São no total 7 anos bissextos em 19 anos, e ocorrem no 3º, 6º, 8º, 11º, 14º, 17º e 19º anos desse período.

As festividades judaicas são marcadas por celebrações que exaltam a natureza e a relação do homem com o meio ambiente.

Tu Bishvat é a comemoração do ano novo das árvores no calendário judaico. Ele marca o dia em que os dízimos das frutas são contados a cada ano, além de marcar o ponto em que são contadas tanto a proibição Bíblica de comer os frutos da árvore nos seus três primeiros anos e a obrigação de trazer o Orlá ao templo de Jerusalém. Ele é celebrado comendo vários frutos e nozes associadas à terra de Israel. A festividade está alinhada com as pautas Agroambientais, Agricultura orgânica e alimentação saudável.

O Sucot é conhecido de várias formas, pode ser chamado de festa dos tabernáculos, festa das cabanas, festas das tendas ou festas das colheitas. A sua comemoração coincide com a estação das colheitas em Israel, no começo do outono, e é uma das três maiores festas judaicas. A festa relembra os 40 anos do êxodo dos hebreus no deserto após a sua saída do Egito. Os judeus fazem suas refeições sob folhas e galhos ao ar livre dentro de uma cabana chamada Sucá. Essa festividade traz a reflexão das seguintes pautas socioambientais: educação ambiental, sobrevivência na natureza, etnografia gastronômica e cooperativismo.

A festa chamada Shavuot é conhecida como a festa das colheitas, festa celebrada no quinquagésimo dia do Sefirat Haômer, também conhecido como Pentecostes. Nos tempos do templo de Jerusalém, Shavuot, Pessach e Sucot eram conhecidas pelas peregrinações dos filhos de Israel, grandes grupos de agricultores surgiam de todos os lugares e o País adquiria um aspecto animado e pitoresco. No Shavuot, os peregrinos marchavam para Jerusalém e conduziam a oferta dos primeiros grãos e frutos das colheitas. Essa festividade traz para a reflexão das seguintes pautas socioambientais: economia rural, agricultura familiar e cooperação no agronegócio.

O objetivo do projeto Zerah é servir a ecossistemas e comunidades que precisam de apoio para a prática de sustentabilidade, trabalhar as imersões na sustentabilidade ambiental e na ecologia.

A Zerah é uma startup social e ambiental que promove valores judaicos e diversas pautas ambientais, ancorada no Instituto Brasil-Israel (IBI) com o intuito de dar protagonismo à natureza enquanto potencializa talentos humanos e a luta pela dignidade humana. Em todas as suas atividades de preservação do meio ambiente em prol da sustentabilidade, considerará as necessidades humanas. Assim, a pauta ambiental nunca estará desconectada da luta contra o antissemitismo, o racismo, o machismo e todas as formas de discriminação”.

*Rúbia Russi é formada em Comunicação Social, trabalha como produtora audiovisual na TV Cultura e pesquisa atualidades de política e economia.

*Lívia Passoni Fontes é estudante de Rádio, TV e Internet, e trabalha com criação de chamadas e produções de roteiros na TV Record, além de estar se especializando em fotografia e roteiro.

*Ana Flávia Guimarães é Coordenadora de Conteúdo e Marketing da startup PiniOn. Formada em Comunicação Social, tem mais de 10 anos de experiência com Mídias Sociais e Copywriting. Atualmente, cursa Pós-Graduação em Jornalismo Digital.