ESCRAVIDÃO X REFORMA AGRÁRIA

Dispara a procura pelo suco de uva do MST após escândalo do trabalho escravo nas vinícolas do RS

As vinícolas Salton, Aurora e Garibaldi, após denúncia de se beneficiarem de trabalho escravo, passaram a sofrer boicote da população, que busca alternativas

Suco de uva da Monte Vêneto, cooperativa ligada ao MST do RS.Créditos: MST-RS
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O escândalo do trabalho escravo envolvendo as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, todas do Rio Grande do Sul, vem desencadeando uma onda de boicote da população contra essas marcas. Além disso, consumidores têm procurado por alternativas a essas empresas e uma cooperativa ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem ganhando destaque. 

Trata-se da Monte Vêneto, fundada em 2007 a partir da Cooperativa de Sucos Monte Vêneto, ligada a assentamentos da reforma agrária e ao MST do Rio Grande do Sul. O suco de uva orgânico da marca ganhou, em 2019, Medalha de Ouro no 1º Concurso Melhores Sucos da Wine South America — Feira Internacional do Vinho, em Bento Gonçalves (RS).

Militante do MST e deputada estadual pelo PT no Rio de Janeiro, Marina dos Santos foi a primeira a apontar os sucos da Monte Vêneto como alternativa aos sucos das vinícolas que se beneficiaram de trabalho escravo. "Que tal trocar os sucos Aurora, Salton e Garibaldi pelos nossos, da Monte Veneto, que não só não têm trabalho escravo, como já ganharam a medalha de ouro no Wine South America? Sucos de primeiríssima qualidade com gosto de reforma agrária e democracia", escreveu a parlamentar em suas redes sociais no último final de semana. 

Já nesta segunda-feira (27), o próprio MST, através de seu site, divulgou um texto em que elenca "7 motivos para experimentar o suco de uva da Reforma Agrária Popular", entre eles o de que a produção é "livre do trabalho escravo"

"A ação cooperativada possui o já conhecido suco de uva tinto integral, nas opções convencional e orgânico. Apenas em 2019, as famílias Sem Terra processaram mais de 6 milhões de quilos de uva e produziram 4,5 milhões de litros de suco. Além disso, oferecem aos consumidores outros tipos de sucos, também integrais e naturais, como o de tangerina com manga e maçã, goiaba com maçã, maçã com uva, manga com maçã e maçã", diz um trecho da publicação. 

A divulgação fez com que a procura pelos sucos da Monte Vêneto aumentasse de maneira exponencial, a ponto da empresa ir às redes sociais para explicar que está com uma "sobrecarga" e esclarecer que não realiza envios para consumidores diretos, mas que está informando pontos de vendas pelo país onde é possível encontrar os produtos. Os sucos da cooperativa podem ser comprados, principalmente, nas lojas Armazém do Campo, do MST, que estão presentes na maioria dos estados brasileiros. ]

Trabalho escravo envolve Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi 

Na noite da última quarta-feira (22), uma ação conjunta entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 207 trabalhadores em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

O resgate ocorreu depois que três trabalhadores que conseguiram fugir do local contataram a PRF em Caxias do Sul, e fizeram a denúncia. Os trabalhadores, que foram aliciados, principalmente, na Bahia, sob a promessa de salário de R$ 3 mil, relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho, oferta de alimentos estragados, alojamento insalubre e cárcere privado. 

Na ação da semana passada, a PF prendeu um empresário baiano responsável pela empresa. Ele foi encaminhado para o presídio de Bento Gonçalves.

Segundo a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho e Emprego, a empresa Oliveira & Santana, que mantinha os trabalhadores em condição análoga à escravidão, possuía contratos com vinícolas famosas da região, entre elas a Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em que fornecia mão de obra para a colheita de uva. 

As três empresas alegam que não tinham conhecimento das irregularidades praticadas pela terceirizada com a qual tinham parceria. O Ministério do Trabalho e Emprego, entretanto, já avisou que elas podem ser responsabilizadas pelo pagamento dos direitos trabalhistas caso estes não sejam quitados pela terceirizada.