VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Jovem relata jornada aterrorizante com sequestradores em carro de aplicativo

Giovanna Pacheco, de 19 anos, conta que ficou por 8 horas sob as ordens da quadrilha: “Entrei no carro e depois de uns 10 minutos, outro carro parou ao lado e dois meninos entraram e colocaram pano preto na minha cabeça”

Giovanna Pacheco, 19 anos.Jovem relata jornada aterrorizante com sequestradores em carro de aplicativoCréditos: Reprodução /Redes Sociais
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Uma gangue de sequestradores composta por quatro homens que utilizava carros de aplicativo para raptar, roubar e abusar sexualmente de mulheres foi presa pela Polícia Civil de São Paulo na madrugada da última terça-feira (14) quando ‘buscava’ uma nova vítima nos Jardins, bairro nobre e central da capital paulista. Com a chegada da polícia, os criminosos tentaram resistir e trocaram tiros, mas três deles foram presos. O outro fugiu e está foragido.

O grupo já estava sendo monitorado pelas autoridades e teria começado a praticar os seus crimes neste ano de 2023. Era comum que levassem as vítimas para um cativeiro em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, onde eram intimidadas a fazer transferências via Pix, e podiam vir a ser abusadas sexualmente.

A vítima, que seria a sétima do grupo, foi resgatada pelos policiais na ocasião das prisões. Mas uma vítima anterior revelou ao Uol a jornada aterrorizante que passou sob as ordens da quadrilha.

Giovanna Pacheco, uma jovem de 19 anos, contou que na madrugada de 2 de março, por volta das 4 horas da manhã, chamou um carro de aplicativo para se locomover.

“Entrei no carro, estava tudo normal. Depois de uns 10 m,inutos, outro carro parou ao lado e dois meninos entraram e colocaram um pano preto na minha cabeça. Eles disseram: ‘Não queremos te matar e nem te machucar, só queremos dinheiro’”, relatou.

Durante as 8 horas em que esteve com os bandidos foi levada para o cativeiro em Itaquaquecetuba, onde tentaram convencê-la a transferir R$ 40 mil. Câmeras de segurança do local onde a vítima estava quando chamou a corrida apontam que o segundo carro já a seguia antes da abordagem.

No cativeiro: “Eles levantaram a minha saia e bateram na minha bunda. Pegaram minhas fotos do celular e enviaram para si mesmos. Disseram: ‘Não tem problema pra você, né?’ E eu ia falar o que? Estavam armados, mas é claro que eu não queria que fizessem isso”, relatou.

Ela relata que durante horas foi coagida com ameaças sexuais a fazer o depósito. “Que gostosinha, vai ser uma pena se você morrer… bonitinha, tão novinha”, ouviu dos bandidos. Com a posse do celular da vítima, os criminosos passaram a enviar mensagens para os seus contatos pedindo dinheiro.

Mas segundo Giovanna, foi nesse momento, quando passaram a envolver mais pessoas, que decidiram encerrar o sequestro. Os sequestradores entenderam que poderiam ter disparado algum tipo de alerta em conhecidos da vítima. A jovem contou que nesse momento ficaram apreensivos e chamaram um Uber para levá-la embora. Ela já tinha transferido R$ 10 mil aos bandidos.

Dentro do Uber, teve uma crise de ansiedade e relatou que o motorista não queria terminar a corrida. “Ouvindo sua história, tá bem estranha, eu não vou conseguir fazer essa corrida pra você”, teria dito o motorista antes de deixá-la em um posto de gasolina.

Após entrar em casa, a jovem estava com medo de voltar a por os pés na rua e precisou que uma viatura fosse buscá-la para registrar a queixa. “Eu não dirijo e teria que pedir um carro de aplicativo”, explicou. Dias depois passou a receber ameaças nas redes sociais.

“Eles disseram que sabiam meu endereço, começaram a fazer pressão psicológica. Agora estou bem, mas fiquei com trauma. Eu só queria não ter medo de sair na rua, ainda mais utilizando aplicativo. Agora só saio se algum conhecido vier me buscar”, contou.

Como agia o grupo

A polícia afirmou que os três presos confessaram o crime e agora vão responder por extorsão qualificada, organização criminosa e roubo majorado – quando se rouba sob ameaça. Também respondem a tentativa de homicídio contra os policiais, por conta do tiroteio empreendido no momento da prisão. De acordo com o delegado Ronald Quene Justiniano, as penas somadas podem superar os 40 anos de prisão. O grupo também responderá pelos crimes sexuais, mas a polícia ainda colhe depoimentos das vítimas para obter maiores informações sobre a prática.

Segundo os investigadores, um dos integrantes do bando era cadastrado como motorista de aplicativo e agia quando uma mulher entrava sozinha no seu veículo. No meio do trajeto estipulado pela viagem, o motorista fingia uma pane no veículo e estacionava. Nessa hora, os comparsas que o seguiam de outro carro paravam logo atrás e desciam armados, anunciando um assalto. O motorista fazia papel de vítima, ao lado da vítima de fato.

A passageira então era ameaçada de morte pelo bando caso não fizesse uma transferência bancária via Pix aos mesmos. Durante o assalto, a vítima era levada ao cativeiro em Itaquaquecetuba, onde poderia vir a ser violentada sexualmente. Ao todo, a Polícia Civil registrou 7 vítimas, todas mulheres, e os aplicativos utilizados eram a Uber, o 99 e o inDrive.

Em nota, a Uber lamentou o ocorrido e informou que está colaborando com as investigações policiais, que estão em andamento. “Mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em ambiente seguro”, declarou a empresa. A inDrive seguiu a mesma linha: lamentou o ocorrido e afirmou ter bloqueado os usuários. Por sua vez, a 99 repudiou os atos criminosos e se colocou à disposição da investigação policial.