CLIMÃO

Carlos Bolsonaro ameaça Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes após eleição

A claque bolsonarista está em crise desde o fim do primeiro turno do pleito municipal e derrota de Pablo Marçal

Carlos Bolsonaro ameaça Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes após eleição.Créditos: Reprodução redes sociais / Divulgação
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Desde o término do primeiro turno da eleição de 2024, o petit comitê em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro está em crise por causa da derrota de Pablo Marçal na cidade de São Paulo, pois o bom desempenho da candidatura do influencer de extrema direita dividiu a claque de Jair.

Prova disso é que, em entrevista ao UOL, Carlos Bolsonaro enviou um duro recado para Tarcísio de Freitas (Repubicanos) e Ricardo Nunes (MDB), que têm esnobado o ex-presidente Jair Bolsonaro, e afirmou que o governador de São Paulo e o prefeito da capital paulista não têm votos.

"O sistema vai falar que foi Tarcísio quem botou [Nunes no segundo turno]. Mas quem era Tarcísio? Com todo respeito ao governador, tenho uma grande admiração por ele. Quando meu pai falou que ele tinha chance de ser governador de São Paulo, ele disse: 'Mas sou carioca, torcedor do Flamengo, o que vou fazer lá?'. Ele foi eleito governador de São Paulo. Falar que foi mérito exclusivo dele, pelo amor de Deus. Ele faz parte de tudo que está acontecendo", disse Carlos Bolsonaro.

Carlos Bolsonaro se rende ao sistema e adota discurso do Centrão
 

Em rara entrevista a Letícia Casado, do portal Uol - grupo de mídia que faz parte do establishment, segundo a própria ultradireita -, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) se rendeu ao "sistema", condenado pelos próprios aliados, e adotou um discurso do Centrão, pregando diálogo com outros grupos políticos.

"Prefiro muito mais crescer e ocupar espaço conversando com pessoas que a gente às vezes até não gosta, mas que são necessárias, para que dentro da democracia se evolua com suas ideias, e lá na frente a gente vai ocupando mais espaço ainda", afirmou, em um distante discurso adotado quando liderou o gabinete do ódio e bem próximo do pragmatismo de figuras icônicas do Centrão, como o ex-presidente golpista Michel Temer (MDB).

Reeleito para o sétimo mandato na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro - o primeiro foi em 2000, aos 17 anos, quando o pai o escalou para roubar a vaga da mãe, Rogéria Nantes -, Carlos credita a mudança de discurso com afagos ao Centrão "porque eu amadureci".

"Dizer 'se rendeu ao centrão porque mudou discurso'. Não mudou o discurso, é maduro e sincero. A gente está aqui para deixar lições e aprendizados, e as pessoas julguem do jeito que elas quiserem no futuro. A gente sabe que tudo passa. Achar que a gente vai ficar aqui para sempre, não vai. Mas acho que a gente nunca traiu nossa consciência por mostrar que dá para você crescer de um jeito que não precisa ficar isolado", afirmou.

Carlos ainda afirmou que "odeio que falem 'sou bolsonarista'" e afirma que acha imaturo - "pueril", em suas palavras - "falar 'o partido A, B, ou C não presta'".

"Dentro de cada partido você tem gente boa. A gente aprendeu isso com o tempo. Tem gente boa em cada partido. Talvez não tenha no PT e no PSOL. Sendo pragmático, é uma linha que foge muito da gente", afirmou, sem palavrões contra os "comunistas" - palavra que, aliás, foi sequer citada por ele.

Criticando levemente Pablo Marçal (PRTB), o candidato "antissistema" com quem brigou e reatou durante a campanha em São Paulo, o vereador diz que "é um sujeito que vive de factoides" e que "sei que vou tomar pancada até dizer 'chega'", mas acenou para o ex-coach, caso ele amadureça no futuro.

"Pelo tempo que a gente tem na política, a gente entende hoje em dia que tem que construir e não ficar destruindo simplesmente por destruir, para ter vantagens próprias e chegar lá na frente e você não ter benefício nenhum — inclusive para quem votou em você. Isso que afastou o Pablo da gente. Tinha tudo para poder se dar bem, talvez até aconteça no futuro uma aproximação. Ninguém sabe. Mas, poxa, ele tem que mudar as atitudes e todo mundo tem que aprender nisso tudo", afirmou o "amadurecido" Carlos.

O filho "02" ainda diz ter consciência que sua mudança de atitude vai fazer com que "muita gente" fique "chateada" com ele por ter entrado no jogo do sistema.

 "Não adianta apontar e falar: 'prefiro perder de pé do que ganhar de quatro'. Não é certo. Você tem que construir, se é minoria, se quer ocupar espaço, tem que ceder umas coisas. Enquanto a gente não é maioria, a gente tem que sempre estar jogando. Ou está fadado a ficar isolado o tempo inteiro. A escolha é de cada um. Sei que tem muita gente que vai ficar chateado com o que estou falando", disse a um dos principais grupos de mídia pró-sistema do país.