Era 29 de maio de 2021 e a população brasileira, cansada dos arroubos do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores naqueles tempos de pandemia, convocava as primeiras manifestações que pediam o seu impeachment em todo o país. No Recife, capital de Pernambuco, não foi diferente. A diferença ficou por conta da Polícia Militar local, que ao contrário da maioria das capitais, reprimiu duramente os recifenses, encurralados nas pontes do centro da cidade.
Jonas Correia não participava do ato, mas passava pela região. Ele viu a aglomeração e fez uma chamada de vídeo para a esposa. “Olha, terminei o trabalho aqui, mas vou demorar, está tendo protesto”, disse para a companheira.
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O Batalhão do Choque, já muito hostil ao protesto, o viu com o celular em riste, falando com a companheira e pedalando uma bicicleta. E mesmo alertado por um colega que se tratava de um trabalhador, o sargento Reinaldo Belmiro Lins não hesitou em disparar e acertou um tiro com bala de borracha no olho direito do homem.
“Ele só estava por lá porque pedi para ele comprar carne. Na ponte, nem tinha mais manifestantes, mas a política estava mandando o povo voltar. Ele disse: ‘pessoal, preciso passar por aqui porque estou indo para minha casa, aí em Santo Amaro’. Não deram nem ouvido e atiraram para matar”, contou a esposa para a imprensa à época.
Naquele dia um outro homem também perdeu a visão após um tiro da PM. Daniel Campelo da Silva, adesivador, foi atingido no olho esquerdo. O nome do policial que o atingiu não foi divulgado, mas sabe-se que desde 2022 responde por lesão corporal gravíssima e omissão de socorro.
A “punição” do agressor
Nesta sexta-feira (23) saiu no Uol que Reinaldo Belmiro Lins foi punido pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco com 30 dias de prisão e 42 de detenção. A investigação do órgão estadual reconheceu que não havia a “necessidade” do tiro e repreendeu o agente por não ter verificado o tipo de munição que havia na arma e por ter efetuado o disparo a pouca distância.
No entanto, aponta o relatório, não teria sido provado na apuração que o sargento teve a ‘intenção de atingir o olho da vítima’.