O jornalista Breno Altman, que é judeu, se tornou alvo, desde 2023, de perseguição da Confederação Israelita do Brasil (Conib) após fazer denúncias contra o lobby sionista. O Ministério Público Federal (MPF) aceitou a queixa-crime da organização no último domingo (12), onde a Conib alega crime de antissemitismo. Em resposta, admiradores e apoiadores, em solidariedade, criaram um abaixo assinado em defesa do comunicador.
Diferentemente do que a Polícia Federal (PF) concluiu, ao considerar que não houve crime, o procurador Maurício Fabretti deu andamento à denúncia, chegando a listar 12 publicações feitas nas redes sociais pelo comunicador, no período de 7 de outubro de 2023 a fevereiro deste ano.
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Em uma das publicações listadas, o comunicador questionava o uso do termo “conflito” para se referir às questões de Israel e dos palestinos no Oriente Médio. Ele remonta a uma análise histórica, e chama de “agressão colonial”.
Altman é um dos judeus que mais fazem críticas à ação de Israel na Faixa de Gaza, e chegou a definir o grupo reacionário Hamas como um movimento de resistência ao colonialismo, chegando a afirmar abertamente que Israel é um Estado genocida.
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O advogado que faz a defesa de Altman chegou a afirmar que a crítica ao Estado de Israel não deve ser confundida com uma crítica ao povo e à religião em si.
“Não há um 'conflito' entre Israel e palestinos. O que existe é uma longa agressão colonial, diante da qual todas as formas de resistência são moralmente legítimas. Os ataques do Hamas têm natureza anticolonial. A reação sionista é o prolongamento de um crime”, escreveu o jornalista Breno Altman na época.
Após a denúncia da Conib ser acatada pelo MPF, Breno Altman publicou nas redes sociais uma crítica. “Mais uma prova dos vínculos entre sionismo e fascismo, para calar vozes que se levantam contra o genocídio palestino”, escreveu.
O abaixo assinado
Até o momento da publicação desta matéria, o abaixo assinado, criado na plataforma Change.org, conta com mais de 6,7 mil assinaturas. Entre os assinantes iniciais estão figuras públicas como Chico Buarque, Jamil Chade, dentre outros.
Entenda o que é antissemitismo e sionismo
O discurso de ódio contra judeus, como é chamado o antissemitismo, é equivalente ao crime de racismo, sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade, de acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2003.
Judeu é o termo utilizado para definir de forma étnica e religiosa, e tem raízes milenares.
O sionismo é o termo popularmente utilizado para definir um movimento nacionalista judaico, surgido como reação ao antissemitismo do período em que aquele povo foi perseguido na época da Alemanha nazista. O termo é político-ideológico. Nem todo judeu se considera ou é sionista.
A carta de solidariedade a Breno Altman
“Exmo. Sr. Maurício Fabretti, do MPF
Nós, abaixo-assinados, protestamos contra sua denúncia em relação ao jornalista Breno Altman por ter usado de metáfora conhecida e que significa exatamente o que metáforas significam.
Denunciá-lo, diferentemente do que fez a Polícia Federal ao considerar a denúncia da Conib descabida, fere não só a liberdade de imprensa como a de expressão.
Não é preciso concordar com Altman para perceber que ao usar a metáfora chinesa “não importa a cor do gato, importa que coma o rato”, ele não igualou todos os sionistas ao pequeno animal.
Tivesse escrito o mesmo sobre os nazistas teria também sido denunciado por racismo?
Ou, então, que ele, judeu, considere os sionistas responsáveis pelo genocídio na Palestina equivalentes a ratos o transforma em racista ou terrorista?
Se, digamos, a metáfora fosse o com leões e tigres, águias e gaviões, haveria a mesma denúncia?
Inconformados, pedimos a retirada da denúncia e, se não atendidos, informamos que subscrevemos o escrito por Altman.
Respeitosamente,
Afonso Borges
Aírton Souza
Alessandra Roscoe
Alexandre Coimbra Amaral
Antonio Grassi
Carol Proner
Chico Buarque
Dorrit Harazim
Eduardo Moreira
Eric Nepomuceno
Fábio Magalhães
Fernanda Verissimo
Fred Melo Paiva
Geraldo Carneiro
Heloisa Villela
J. P. Cuenca
Jamil Chade
José Trajano
Juca Kfouri
Leandro Demori
Lilia Schwarcz
Lúcia Verissimo
Maria Antonieta Antunes Cunha
Maria Valéria Rezende
Paulo Sérgio Pinheiro
Paulo Vanucchi
Renato Janine
Roberto Mader
Rogério Sotilli
Rosa Freire de Aguiar
Ruth Joffily
Silvana Gontijo
Vladimir Safatle
Wagner William”