INFRAESTRUTURA

Brasil desafia lentidão global na transição energética e propõe aceleração até 2035

Em meio a alertas da Agência Internacional de Energia Renovável sobre o ritmo insuficiente da transição, o Brasil anuncia compromisso de quadruplicar a produção e uso de combustíveis limpos

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e os presidentes do Irena, Francesco La Camara, e da Aliança Global de Renováveis, Ben Backwell.Créditos: Rafa Neddermeyer/COP30
Escrito en BRASIL el

Além de ser apontado como uma liderança no tema, o Brasil desafiou a lentidão global na transição energética e propôs uma aceleração da descarbonização até 2035. O compromisso foi firmado ao lado da China, Índia, Itália e Japão, durante o lançamento do pacto Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, ou “Belém 4x”, que estabelece a meta de quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis.

O anúncio do pacto Belém 4x ocorreu durante o último dia do evento da Pré-30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da Organização Nações Unidas (COP30), realizado na terça-feira (14), em Brasília. Além dos três países que inicialmente aderiram à causa, o governo espera ampliar o número até a Cúpula de Líderes da COP30, que ocorrerá entre 6 e 7 de novembro, em Belém (PA). 

As economias do G20, grupo do qual o Brasil faz parte, deverão responder por 80% da expansão global de energias renováveis até 2030, de acordo com o estudo da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). Já as nações mais ricas, do G7, precisarão aumentar sua capacidade instalada em cerca de 20% nesta década — o que exigirá maior volume de financiamento internacional.

O relatório recomenda que os países incorporem as metas de energia limpa às suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) antes da COP30, dobrem a ambição climática coletiva e aumentem os investimentos anuais em renováveis para US$ 1,4 trilhão entre 2025 e 2030 — mais que o dobro do registrado em 2024.

Com isso, o Brasil se põe como protagonista no debate climático e reforça a convergência entre política externa e economia verde — pilares do governo Lula, defendidos publicamente também pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no primeiro dia da pré-COP30

Entenda

O anúncio ocorre em meio a alertas da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), cujo relatório mostra que o mundo ainda está distante das metas pactuadas na COP28, em Dubai, que estabeleceu triplicar a capacidade de energias renováveis e duplicar a eficiência energética até 2030. Apesar do recorde de 582 gigawatts instalados em energia limpa em 2024, o relatório aponta que o avanço precisaria ser quase o dobro do ritmo atual para que os objetivos sejam alcançados.

“Precisamos fazer um esforço adicional, especialmente para dobrar a eficiência energética”, destacou o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ao lado de representantes da Irena e da Aliança Global de Renováveis.

O Belém 4x é um pacto internacional coordenado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Itamaraty, e tem como foco os setores de difícil descarbonização — como o transporte aéreo, marítimo, rodoviário e as indústrias de aço e cimento. O plano brasileiro busca ampliar o uso de biogás, hidrogênio verde, biocombustíveis e combustíveis sintéticos, substituindo progressivamente o consumo de fósseis.

“Muitas dessas tecnologias já são viáveis, mas ainda não são produzidas em escala suficiente. O que queremos é sinalizar politicamente que o mundo precisa agir”, explicou o diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme.

O diplomata destacou que o Brasil já conta com amplo domínio técnico em bioenergia e pretende usar essa vantagem para atrair investimentos, gerar empregos verdes e fortalecer a indústria nacional.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar