PNAD CONTÍNUA

Trabalho por aplicativos cresce 25% em dois anos e atinge 1,7 milhão de pessoas no Brasil

As pessoas que trabalham via aplicativo ganham mais por mês, mas trabalham mais horas e seguem mais expostas à informalidade

Créditos: Prefeitura de Curitiba
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O número de brasileiros que trabalham por aplicativos cresceu 25,4% entre 2022 e 2024, segundo dados da pesquisa Trabalho Por Meio de Plataformas Digitais 2024 da PNAD Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (17). Só no ano passado, o Brasil tinha 1,7 milhão de trabalhadores de app — equivalente a 1,9% da população no setor privado.

Segundo o estudo, 58,3% dos trabalhadores de app (964 mil pessoas) atuavam com aplicativos de transporte de passageiros, seja em serviços de táxi ou transporte particular. Os aplicativos de entrega respondiam por 29,3% (485 mil), enquanto aplicativos de serviços gerais e profissionais reuniam 17,8% (294 mil).

O segmento de serviços gerais e profissionais foi o que mais cresceu proporcionalmente, com alta de 52,1% no período — sinalizando que a plataformização começa a atingir ocupações mais qualificadas, como design, tecnologia da informação (T.I) e tradução, tradicionalmente exercidas fora do circuito dos apps.

“O aumento entre profissionais das ciências e intelectuais indica uma diversificação do trabalho digital e a entrada de novas categorias no ecossistema de plataformas”, explica o analista do IBGE, Gustavo Geaquinto.

Jornada maior e rendimentos menores por hora

Embora o rendimento médio mensal dos plataformizados (R$ 2.996) tenha sido 4,2% superior ao dos demais ocupados (R$ 2.875), essa diferença se deve, em parte, à maior carga horária semanal: 44,8 horas, contra 39,3 horas do trabalhador comum.

Na prática, o rendimento-hora dos trabalhadores por aplicativo (R$ 15,4) é 8,3% menor do que o dos demais (R$ 16,8). “Os plataformizados trabalham mais, mas ganham menos por hora, o que revela a precariedade dessa forma de inserção laboral”, analisa Geaquinto.

A desigualdade também varia conforme o nível de instrução. Entre pessoas com ensino superior completo, os plataformizados recebem 29,8% menos do que os não plataformizados. Já entre os menos escolarizados, ocorre o inverso: quem trabalha por aplicativo ganha até 40% a mais do que os que não usam plataformas.

Informalidade e falta de contribuição previdenciária marcam o setor

O estudo revela ainda um elevado grau de informalidade entre os plataformizados: 71,1% estão fora de vínculos formais, contra 43,8% entre os não plataformizados.

A contribuição à Previdência é outro ponto de contraste — apenas 35,9% dos plataformizados contribuem, diante de 61,9% dos demais trabalhadores. Apesar de um leve avanço (2,2 pontos percentuais desde 2022), o cenário segue indicando baixa proteção social e alta vulnerabilidade econômica.

Homens jovens dominam o trabalho

O perfil dos trabalhadores por aplicativo segue predominantemente masculino: 83,9% são homens, e quase metade (47,3%) tem entre 25 e 39 anos. A maioria possui ensino médio completo ou superior incompleto (59,3%), proporção mais alta que a entre os não plataformizados.

Esse perfil está diretamente ligado à natureza das ocupações mais comuns no setor, como motoristas e entregadores, historicamente dominadas por homens e marcadas pela alta rotatividade, de acordo com o IBGE.

Motoristas e entregadores: rendimentos sobem, mas dependência é alta

Entre os motoristas de automóveis, 43,8% (824 mil) atuavam com aplicativos e ganhavam R$ 2.766, valor R$ 341 superior ao dos motoristas fora das plataformas. Contudo, eles também trabalhavam cinco horas a mais por semana e tinham nível de informalidade de 83,6%.

No caso dos entregadores, o rendimento médio foi de R$ 2.340, enquanto trabalhadores que usavam aplicativos para outras finalidades — como captar clientes — chegaram a R$ 4.615.

Mesmo com a aparente flexibilidade, a dependência dos apps é alta: 91,2% dos motoristas afirmaram que os valores das corridas são determinados pela plataforma, e mais da metade relatou que os bônus e punições influenciam diretamente a jornada.

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