Uma nova espécie encontrada nas cavernas do Rio Grande do Norte e do Ceará está chamando a atenção de pesquisadores. Trata-se da Brasilana spelaea, um pequeno crustáceo aquático que vive em ambientes subterrâneos e não existe em nenhum outro lugar do planeta.
Apesar de sua importância científica, especialistas alertam que o animal já corre risco de desaparecer, pressionado pela extração de calcário, pelo turismo sem controle e pela exploração das águas subterrâneas.
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O estudo, publicado na revista internacional Zootaxa, descreve a espécie como um marco para a ciência brasileira. O grau de diferença em relação a outros organismos da mesma família, os Cirolanidae, foi tão grande que os pesquisadores precisaram criar um novo gênero, batizado de Brasilana.
Segundo o analista ambiental Diego Bento, do ICMBio/Cecav, trata-se da primeira espécie troglóbia identificada no Rio Grande do Norte, descoberta há mais de duas décadas.
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Bento explica que a espécie é um relicto oceânico, ou seja, descendente de animais que viviam no mar e ficaram presos em cavernas após mudanças geológicas. A descoberta, segundo ele, impulsionou a bioespeleologia potiguar e colocou o estado entre os principais centros de pesquisa subterrânea do país.
Cavernas guardam heranças de antigos mares
Pesquisas indicam que transformações geológicas e climáticas ocorridas ao longo de milhões de anos foram decisivas para o surgimento dessa fauna única. No Nordeste, 16 das 40 espécies subterrâneas aquáticas já conhecidas são relictos oceânicos. Elas se originaram após avanços e recuos do mar, que empurraram organismos marinhos para o interior da terra. Quando o oceano retrocedeu, eles permaneceram isolados, adaptando-se à ausência de luz.
Esses processos estão detalhados em estudos recentes reunidos no livro "CaveRNas: o carste potiguar", que analisa a formação das cavernas e a evolução da biodiversidade subterrânea.
Urgência por medidas de proteção
A descoberta da Brasilana spelaea reforça o papel do Brasil como detentor da maior biodiversidade do planeta, mas também expõe a falta de políticas de preservação. Pesquisadores defendem planos de manejo sustentável, o turismo controlado e o monitoramento contínuo das espécies cavernícolas.
Para os cientistas, proteger os ecossistemas subterrâneos é essencial para evitar que descobertas como essa se tornem registros póstumos — testemunhos de espécies que desapareceram antes mesmo de serem conhecidas pelo grande público.