DITADURA NUNCA MAIS

Vladimir Herzog segue como consciência viva da democracia 50 anos após seu assassinato

Jornalista morto sob tortura em 1975, durante a Ditadura Militar, é lembrado como um dos principais símbolos da defesa da democracia no Brasil.

Créditos: Divulgação
Escrito en BRASIL el

Há 50 anos, em 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi encontrado morto nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. A versão divulgada pelos militares, de que ele teria cometido suicídio, foi rapidamente contestada por familiares, colegas e pela imprensa. A imagem forjada do suposto enforcamento, divulgada à época, tornou-se uma das principais provas da tentativa de encobrir o assassinato e revelou ao país a dimensão da repressão política sob a ditadura.

A morte de Herzog provocou uma mobilização inédita. Seis dias depois, uma missa ecumênica na Catedral da Sé, conduzida por Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o pastor Jaime Wright, reuniu milhares de pessoas em protesto silencioso. O episódio marcou um ponto de inflexão na resistência civil ao regime e passou a ser considerado um marco simbólico da luta pela redemocratização.

Ano Vladimir Herzog e políticas de memória

Em 2025, a morte de Herzog completa 50 anos. No início do ano, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o Ano Vladimir Herzog, com ações voltadas à preservação da memória histórica e à defesa da liberdade de imprensa. A iniciativa inclui eventos, publicações e o apoio à criação de memoriais em antigos centros de repressão, como o prédio do DOI-Codi em São Paulo e a Casa da Morte, em Petrópolis.

“Lembrar Herzog é lembrar que a verdade é um bem público”, afirmou o jornalista Moacyr de Oliveira Filho (Moa), diretor da ABI e ex-preso político. Ele também foi detido e torturado no mesmo local em que Herzog morreu.

Trajetória e atuação profissional

Vladimir Herzog, conhecido como Vlado, nasceu em 1937, em Osijek, na antiga Iugoslávia (atual Croácia). De origem judaica, chegou ao Brasil em 1946 com a família, após fugir da perseguição nazista na Europa. Em São Paulo, formou-se em Filosofia pela USP e iniciou sua carreira no jornal O Estado de S. Paulo, cobrindo temas políticos e culturais.

Trabalhou na TV Excelsior, na BBC de Londres e na revista Visão, e também dirigiu o curta-metragem Marimbás (1963). Em 1975, era diretor de jornalismo da TV Cultura e professor voluntário na ECA-USP quando foi convocado a depor no DOI-Codi, acusado de ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Apresentou-se espontaneamente e morreu no dia seguinte, sob custódia do Exército.

Herzog (criança) com a família em Fonzaso, na Itália - Foto: Reprodução/Acervo Vladimir Herzog

Reconhecimento judicial e internacional

A viúva, Clarice Herzog, iniciou uma longa batalha judicial contra o Estado. Em 1978, a Justiça brasileira reconheceu a responsabilidade da União pela prisão e morte do jornalista. Décadas depois, o atestado de óbito foi corrigido, e em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil pela falta de responsabilização dos envolvidos.

Desde então, o nome de Vladimir Herzog permanece como referência na história política e jornalística do país. O caso segue sendo lembrado em reportagens, documentários e ações educativas voltadas à preservação da memória sobre as violações cometidas durante o regime militar.

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