O Rio de Janeiro vive há mais de 25 anos sob o mesmo ciclo de poder entre governos de direita, escândalos de corrupção e política de extermínio nas favelas. O estado, que não elege um governador de esquerda desde 1995, tem amargado como resultado as estatísticas de violência, a falência fiscal e a presença crescente do crime organizado e das milícias nas estruturas do Estado.
O marco dessa história foi Marcello Alencar (PSDB), eleito em 1994, que criou a chamada “gratificação faroeste”, considerada um bônus financeiro pago a policiais por mortes em serviço. A política premiava a letalidade e institucionalizou o “atirar primeiro, perguntar depois”, inaugurando um modelo que tratava a favela como território inimigo.
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Na virada dos anos 2000, Anthony Garotinho (PDT) aprofundou o populismo penal e usou o aparato de segurança como vitrine eleitoral. Ao renunciar para disputar a Presidência, entregou o cargo à vice, Benedita da Silva (PT), a única figura de esquerda a governar o estado, porém ainda de forma interina.
Em seguida, sua esposa Rosinha Garotinho (PSB) assumiu o comando (2003–2006), mantendo a agenda conservadora e aproximando a política fluminense das lideranças evangélicas.
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A era seguinte foi dominada pelo PMDB, com Sérgio Cabral (2007–2014) à frente de um projeto que prometia “pacificar” o Rio, mas entregou uma das maiores redes de corrupção do país. As UPPs, apresentadas como política de segurança “humanizada”, rapidamente se tornaram laboratório de abusos e repressão. Cabral terminou preso pela Operação Calicute, acusado de chefiar um esquema bilionário de propinas.
Seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (2014–2018), herdou e afundou o estado. Entre cortes de salário, caos orçamentário e desmonte de políticas sociais, manteve o mesmo modelo de segurança. Também acabou preso por corrupção e improbidade.
Em 2019, a onda bolsonarista levou ao poder Wilson Witzel (PSC), ex-juiz que prometia “mirar na cabecinha” de suspeitos. O discurso de extermínio se traduziu em aumento da letalidade policial até que o próprio Witzel foi cassado por corrupção em 2021.
No lugar dele entrou Cláudio Castro (PL), atual governador e aliado de Jair Bolsonaro. Sob seu comando, o Rio registrou a operação policial mais letal da história do estado, com mais de 60 mortos na Penha e no Alemão. Castro retomou a “gratificação faroeste” para policiais, fechando o ciclo iniciado três décadas antes.