No amanhecer desta quarta-feira (29), a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, tornou-se um cenário de dor e indignação. Entre dezenas de corpos estendidos no chão, Elieci Santana, de 58 anos, procurava desesperadamente por notícias do filho desaparecido após a operação policial realizada na véspera — a mais letal da história do estado.
Ao chegar, por volta das 7h30, Elieci se deparou com dezenas de corpos cobertos por lençóis e lonas. Em prantos, começou a retirar as coberturas. “Por que estão escondendo? Tem que mostrar o que o Estado assassino fez!”, gritou, sob aplausos de outros moradores que acompanhavam a cena em silêncio.
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Após caminhar entre os cadáveres por vários minutos, ela parou diante de um corpo. “Meu filho... por que fizeram isso com você?”, lamentou, antes de desabar nos braços de parentes.
O corpo era de Fábio Santana, de 36 anos, um dos mortos na operação que, segundo o governo, deixou 64 vítimas — entre elas quatro policiais.
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Elieci contou que Fábio tentou se entregar.
“Na última vez que falei com ele, mandou a localização e pediu para eu ir buscá-lo. Disse que queria se render, mas estava com medo de morrer. Depois me disseram que acharam o corpo dele com uma algema no pé. Mataram meu filho.”
Segundo ela, o filho havia se envolvido com o tráfico, mas evitava confrontos armados.
“Ele sempre fugia dos tiroteios. Dessa vez ficou encurralado. Não teve como escapar”, relatou, abraçada à neta de 19 anos, filha mais velha de Fábio.
Elieci diz que o filho era o principal provedor da família.
“Tinha quatro filhas, a menor com sete anos. Era ele quem fazia minha feira e nunca deixou faltar nada para as meninas.”
Corpos levados por moradores
Durante a madrugada, moradores transportaram mais de 50 corpos até a Praça São Lucas e outros seis foram deixados no Hospital Estadual Getúlio Vargas em uma Kombi. Os cadáveres foram recolhidos da mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, área onde ocorreram os confrontos mais intensos entre policiais e traficantes durante a megaoperação de terça-feira (28).
A ação, que envolveu 2.500 agentes, é considerada a mais violenta já realizada no Rio de Janeiro.
Sinais de execução e apelo internacional
A advogada Flávia Fróes, que acompanhou a remoção dos corpos, afirmou que alguns apresentavam tiros na nuca, facadas nas costas e ferimentos nas pernas, indícios que serão investigados.
Diante da gravidade do caso, organizações de direitos humanos solicitaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) o envio de peritos e observadores internacionais ao Rio.
Fróes classificou a operação como “o maior massacre da história do Rio de Janeiro”.
Com informações da Folha