CHACINA NO RIO

Testemunha viu jovem de 17 anos ser preso; corpo apareceu a seguir na mata

“Falei com ele às quatro da manhã. Ele me disse: ‘vou me cuidar, pai, te amo muito’, e mandou um coração. Depois disso, não respondeu mais”

Moradores do Complexo da Penha protestam contra Cláudio Castro.Créditos: PABLO PORCIUNCULA/AFP.
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Entre dezenas de corpos enfileirados em frente a uma creche na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, zona norte do Rio, um homem de 63 anos buscava notícias do neto que criou como filho. O corpo de Jean Alex Santos Campos, conhecido como Café, de 17 anos, não estava mais no local quando ele chegou, na manhã desta quarta-feira (29) — já havia sido removido pelo rabecão.

O adolescente é uma das mais de 120 vítimas da megaoperação policial realizada na terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, considerada a mais letal da história do estado.

Segundo informações do Extra, o avô, que preferiu não se identificar, contou que o neto era instrumentista e gostava de jogar futebol, mas acabou envolvido com o crime. “Dentro da comunidade, a gente acaba perdendo para isso aí”, disse, apontando para a longa fila de corpos. “Você perde o filho duas vezes: uma quando ele já não te escuta mais, e outra quando morre.”

“Um amigo viu quando ele foi preso”

O homem relatou que, na véspera da morte, conversou com o neto pela última vez. “Falei com ele às quatro da manhã. Ele me disse: ‘vou me cuidar, pai, te amo muito’, e mandou um coração. Depois disso, não respondeu mais.”

Segundo o avô, uma testemunha viu o jovem ser preso por policiais durante a operação. A família chegou a procurar por ele na Cidade da Polícia, mas foi orientada a retornar no dia seguinte. “Quando voltamos, encontramos o corpo dele na mata”, contou.

Ainda abalada, a família afirma que Jean não estava armado e que não havia confronto no momento em que ele foi levado. A Polícia Civil não confirmou se o nome do jovem está entre os mortos oficialmente identificados.

O avô disse ter sofrido um infarto recentemente em razão das preocupações com o neto. “Eu já não conseguia mais trabalhar. Só queria que ele tivesse uma chance de recomeçar”, lamentou.

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