Em entrevista à TV Fórum, o psicanalista Tales Ab'Sáber, que ministra o curso sobre Sigmund Freud na plataforma OMPlay, falou sobre a psicanálise presente na violência perpetrada pela extrema direita na sociedade brasileira, relacionando conceitos freudianos com a realidade política que o país enfrenta após a chacina no Rio. Ele cita os exemplos de comportamentos de apoio à tortura e à volta da ditadura como sinais de uma sociedade em crise do pensamento, e alerta que a adesão cega a líderes cria grupos que se unem horizontalmente por ideais, mas que se subordinam hierarquicamente à figura do líder, como aconteceu com Bolsonaro e Trump.
"Para ter a proteção desse líder, você tem que anular o seu pensamento. Essa anulação significa que o líder vai definir quem você é e o que você deseja. Nós vimos isso no Brasil, escancaradamente o que o escreveu com todas as linhas. O Bolsonaro dizia para os bolsonaristas não usarem máscaras no auge de uma pandemia mundial", explica. "Ele matou milhares de bolsonaristas pela sua irracionalidade e por esse tipo de vínculo irracional que as pessoas diziam: Eu faço tudo que o Bolsonaro disser".
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Identificação emocional, anulação e valores
Segundo o psicanalista, Freud já analisava como grandes movimentos de massa no século XX promoviam identificação emocional e excitação, subjugando a consciência e moldando comportamentos coletivos. "Esses grupos perdem o pensamento e simplesmente fazem o que o líder diz. O trumpismo é isso", acrecentou.
Tales ainda traçou paralelos entre o neofascismo brasileiro e o fascismo histórico, lembrando que todos os movimentos autoritários seguem padrões emocionais semelhantes: criação de um grupo de eleitos, extermínio do “Outro” e hierarquização extrema da liderança. Segundo ele, a novidade contemporânea é a utilização da tecnologia para reforçar essas estruturas e difundir ideologias violentas.
Ao discutir a relação entre psicanálise e política, Tales enfatizou que a teoria freudiana não é apenas clínica, mas também política e crítica. Ele cita Adorno: "É o último monumento da autocrítica burguesa", reforçando que a psicanálise tem potencial de analisar e contestar estruturas de poder e comportamento social.
"Isso é o que os neofascistas convocam, e a novidade contemporânea é a utilização de tecnologia de hoje para produzir isso. O que a gente viu agora é um choque fascista. Eles estão querendo falar de terrorismo, narcoterrorismo, mas quem quer fazer terrorismo são eles. Isso é turismo psíquico, que eles fazem, racham a vida democrática e liberal, que é o nosso mundo comum, e diz: "Quem está com nós? Quem marcha conosco? Quando você adere identificatoriamente, você começa a repetir o circuito ideológico três ou quatro banalidades, sempre muito violentas", pontua Saber.
Veja entrevista completa na TV Fórum